Bruno Soares, André Akkari e outras feras comentam sobre a sinergia entre as modalidades
Por Vinicius Araujo em 10 de Dezembro de 2018 às 21:10
Crédito: Hugo Dourado
Atualmente muitos tenistas profissionais praticam e jogam poker no seu tempo livre, nas férias ou no intervalo das giras ao longo da temporada. Da mesma forma, o jogadores profissionais de poker cada vez mais estão interessados em ir para a quadra e bater uma bola como forma de exercitar o corpo e também treinar o lado mental, que os dois esportes exigem muito.
Essa relação entre os tenistas e os jogadores de poker não é por acaso. No poker, considerado o esporte da mente, quem faz uma boa leitura de seu adversário e não deixa transparecer o nervosismo em momentos de tensão, leva vantagem. No tênis é bem parecido. Mas é preciso, de fato, utilizar o corpo e ter muita técnica para ser profissional e atuar nos maiores torneios.
A grande diferença é que no tênis os torneios são separados por idade no juvenil e amador, e no profissional existe um momento em que seu corpo não aguenta o circuito, geralmente até os 40 anos de idade. Nos torneios de poker, basta ter 18 anos de idade e você já pode disputar uma mesa de qualquer torneio e quam sabe enfrentar um rival bem mais velho e experiente.
O aspecto psicológico é a principal semelhança destes dois esportes. Sem dúvida, a principal peça do quebra-cabeça é ser superior que seu adversário mentalmente. O controle de ansiedade e a leitura de jogo também são fatores muito importantes nos momentos de decisão. Os grandes campeões do tênis e do poker possuem essas características.
Bruno Soares em evento de Punta del Este. Divulgação Poker Stars
Durante o BSOP Millions 2018, em São Paulo, conversamos com André Akkari, um dos maiores nomes do poker nacional e jogadores de tênis amador nas horas vagas. O paulista de 43 anos de idade e dono de um bracelete da WSOP comentou sobre a popularização dos dois esportes, sua relação com tenistas e outros o relacionamento entre os atletas.
"Eu comecei a fazer aula de tênis quando era criança. Sempre gostei e jogo até hoje. Mas nunca levei a sério. Eu sou ruim para caramba (risos). Mas sem dúvida é um dos esportes que mais gosto de praticar. Tem uma galera do poker que joga bem e sempre levamos a raquete para os torneios em Vegas e em outros lugares. Já tive contato com grandes lendas do tênis pelo poker e joguei com Boris Becker, Rafael Nadal, e também os brasileiros como Thomaz Bellucci e Bruno Soares, que é meu amigo pessoal mesmo", comentou Akkari.
Akkari e Soares em torneio de Poker. Crédito: Carlos Monti.
"O lado mental é muito importante nos dois esportes. Eu vejo uma grande relação entre o tênis o poker. Num torneio de poker, por exemplo, você toma inúmeras decisões, quem mais tomar essas decisões sem deixar seu psicológico abalar, com certeza vai se dar bem e chegar nas mesas finais. No tênis, a mesma coisa. Em um game de tênis, os tenistas também precisam tomar várias decisões. Quem tiver o lado mental menos abalado com certeza vai se sair melhor. Muitos tenistas perdem o equilíbrio mental e não conseguem mais tomar as melhores decisões na quadra. Os jogadores de tênis que jogam poker conseguem trabalhar bem esse lado psicológico e eles podem jogar os torneios grandes. Eu por exemplo não posso jogar o US Open contra o Bruno Soares. Mas vejo que o poker pode ajudar muito os tenistas", finalizou Akkari, um dos melhores jogadores de poker do Brasil.
Akkari em ação no BSOP Millions, em São Paulo. Crédito: Carlos Monti.
Jornalista e praticante assíduo de poker, Bruno Laurence também comentou em entrevista exclusiva que Bruno participou do torneio imprensa
"O tênis e o poker são esportes de longa duração. Você pode treinar o seu físico e deixa-lo pronto para suportar a maratona de várias horas. Agora, se a cabeça não estiver boa não tem jeito. A cada instante você precisa tomar uma decisão importante, tanto no poker como no tênis. Você pode aprender poker na internet e temos muitos materiais bons para consulta e aprendizado. No tênis é diferente. É muito difícil ser autodidata. Então você vai precisar auxílio de um profissional. Mas para evoluir nos dois esportes, estudar é fundamental", disse o jornalista esportivo.
Laurence também comentou que vários tenistas jogam muito bem poker. "O Guga já fez bons resultados, foi para Vegas. Entende muito do jogo. Bruno Soares é um dos atletas que melhor joga poker. Conheço bem ele. Joga muito. Todos eles afirmam que realmente você precisa ser competitivo na essência. Está ficando claro que as decisões são tomadas na base da inteligência do jogo e no volume de partida que você já jogou. Eu acho que no poker você treina sua mente e quando você leva isso para a quadra, certamente vai ajudar sua mente de uma maneira mais natural", finalizou.
Ex-Globo e Fox, Laurence jogou o torneio imprensa. Divulgação Poker Stars.
A ex-tenista Vanessa Menga particiou do Desafio dos Atletas no BSOP Milions e comentou que o tênis e o poker possuem semelhanças, principalmente na parte emocional e mental.
“Eu vejo o pôquer como uma mistura entre sorte e blefe, o que não há diretamente no tênis. Você pode ter a sorte da bola tocar na fita e passar, por exemplo. Em comum, entre o tênis e o pôquer, está o controle da emoção, jogar com o emocional do adversário e esconder a ansiedade e nervosismo durante a partida ou quando você está com uma “mão” muito boa”, comentou Menga.
Menga no Desafio dos Atletas do BSOP Millions. Crédito: Carlos Monti
Um dos principais nomes entre os profissionais de tênis que jogam poker, Bruno Soares já conquistou títulos no esporte da mente e cravou grandes eventos. O mineiro e duplista Top 10 é figura certa na maioria dos 'Desafios das Estrelas' e também é amigo pessoal de André Akkari, com quem aprendeu muito e fez o curso do Akkari Team. Em entrevista, Soares comentou sobre sua paixão pelo poker, a importância do aspecto psicológico nestes dois esportes e como o tenista pode melhor o lado mental jogando poker.
"Eu comecei no poker em 2006, quando tive uma lesão e fiquei um tempo afastado das quadras. Desde então me interessei muito, li alguns livros e fiz alguns cursos. Acho que o poker é o maior esporte da mente. Sem dúvida é um esporte fantástico nesse sentido. Você está a todo tempo lidando com o público, fazendo a leitura dos adversários. É muito legal ver a linha de raciocínio desses monstros como Akkari, Bruninho (Kawauti). Esse lance de lidar com a pressão e outros aspectos podem ser aplicados na quadra de tênis. A parte mental e a frieza são dois pontos muito importantes que ajudam nos dois esportes. Eu adoro jogar o BSOP Milions e sou suspeito para falar", comentou Soares.
Bruno Soares em entrevista exclusiva à Revista Tênis. Crédito: Green Filmes
"Outra coisa importante é a tranquilidade mental. Sem deixar que fatores externos possam inteferir no jogo. Um fato legal do poker é que você pode jogar com um menino de 18 ou um cara de 80. Você pode dividir uma mesa com vários tipos de pessoas. Essa possibilidade do poker é muito bacana. O poker é um esporte muito social nesse sentido. No tênis é mais difícil porque precisa ter um certo nível para entrar em competição. Eu recomendo demais o poker. Acho fundamental ter um conhecimento do jogo, entender o esporte e desmistificar essa coisa de aposta e jogos de azar. Os grandes nomes do poker mostram que é um esporte da mente", finalizou o duplista #7 do mundo.
Bruno foi vice-campeão no BSOP Millions em 2016