A câmara hiperbárica, famosa devido à Djokovic, pode ser o começo de uma nova moda no treinamento de tênis
Stephen Tignor em 22 de Junho de 2012 às 08:19
"TEMOS ABSOLUTAMENTE DE tudo aqui, você não vai acreditar!" Essas palavras que parecem mais um excitamento de criança foi postado num site pessoal durante o US Open 2010. Quem as escreveu? Um jovem fã do esporte que fez sua primeira viagem à Flushing Meadows? Um juvenil promissor que desembarcou na academia do Bollettieri? Não, foi alguém que você certamente deve pensar que teve de tudo tão logo começou no esporte: Novak Djokovic.
" Durante o US Open 2010, Djokovic usou a câmara hiperbárica, que simula condições de altitude e aumenta os níveis de glóbulos vermelhos do sangue "
O "aqui" a que o sérvio estava se referindo com tanto entusiasmo foi o complexo de tênis e saúde de Gordon A. Uehling III, um ex-tenista profissional de 39 anos, ao norte do estado de Nova Jersey, cruzando o rio depois de Flushing Meadows. Uehling, que fundou sua academia CourtSense em 2002, encontrou Djokovic por meio de um amigo de um amigo quando o sérvio tinha 16 anos. O norte-americano reconheceu o potencial do jogador imediatamente e os dois se tornaram amigos. Em 2008, Djokovic e seu staff se esconderam no complexo de Uehling durante o US Open e o norte-americano se tornou um membro temporário da equipe de treinamento do sérvio. Não se pode discutir com o sucesso dessa parceria: naqueles anos, Djokovic passou de semifinalista a vice-campeão e finalmente a campeão. Atrás da mesa da recepção do tênis clube de Uehling há uma foto autografada de Djokovic. Nela, o sérvio chama Uehling de "Super G" e escreve que eles possuem o mesmo objetivo: "Ser o melhor do mundo!"
Uehling, que nunca se aproximou de ser o melhor do mundo quando jogador - ficando abaixo dos 900 primeiros do mundo -, vê a si mesmo como um treinador "visionário". Ele tem um olho no futuro e também para as coisas futuristas. Seu complexo em Nova Jersey tem praticamente tudo o que um tenista, profissional ou não, pode querer. Há uma quadra de saibro verde, uma de DecoTurf (do mesmo estilo das quadras do US Open), uma de DecoTurf II, uma quadra coberta e uma feita de saibro vermelho importado de Roland Garros. Sua academia investiu no Dartfish vídeo, um equipamento sensacional para treinamento físico, e até em uma tecnologia que lê as suas ondas cerebrais e tenta treiná-las para ajudá-lo a se concentrar melhor.
No entanto, foi outra peça que fez com que o complexo de Uehling ficasse famoso quando Djokovic o testou: sua câmara hiperbárica CVAC de US$ 80 mil. O "The Wall Street Journal" descreveu o agora infame "ovo", que simula condições de altitude e aumenta os níveis de glóbulos vermelhos do sangue, como a "arma secreta" do sérvio, que nega isso, dizendo que usou essa máquina controversa apenas umas duas vezes antes do torneio em 2010.
Ainda assim, Uehling acredita na experimentação. "Por que não testar algo novo se isso vai fazer você se sentir melhor?", ele pergunta enquanto caminha pelo agitado tênis clube Tenafly, de sua propriedade. É um dia de nevasca invernal na suburbana Nova Jersey e isso parece um local improvável para o "futuro" tomar forma. Mas dentro do clube está quente, recheado com mães e filhos aprontando-se para jogar. "Gostaria de ter tido a tecnologia e as opções que temos hoje na época em que jogava".
" Todo o seu cérebro acha que ele é perfeito como é, mas treinando certas ondas para trabalharem melhor em certos momentos, podemos mudar o que nossa mente considera uma reação normal "
Um dos primeiros clientes da Magnus, o treinador da CourtSense, Carlos Cano teve um começo dos estágios de diabetes descoberto pelo médico funcional de Uehling. A rotina prescrita pelo médico e treinadores da Magnus o ajudaram imensamente, diz Cano.
Magnus pode ajudá-lo a descobrir seu corpo, mas, como Maiss diz, ele vai entrar dentro da sua mente também. Esse é o elemento mais "ficção científica" do programa de Uehling - mais até do que o "ovo" da câmara hiperbárica. É um programa chamado Neurotopia e ele alega permitir treinar o cérebro como se fosse qualquer outro músculo. A tecnologia é nova e em desenvolvimento, mas o conceito é fascinante, especialmente para os tenistas. "Imagine se você tiver problema em finalizar jogos ou ficar travado, e for capaz de trabalhar e melhorar essas fraquezas da mesma forma com que ajusta o seu backhand. Chega de 'espero não travar'", comenta Uehling.
A tecnologia da Neurotopia trabalha assim: sensores, que leem suas ondas cerebrais enquanto você passa por um teste em que é demandado a reconhecer sinais assim que os vê, são colocados na sua cabeça. Desses resultados, o perfil do seu cérebro e personalidade é criado. Você é avaliado em várias categorias psicológicas, incluindo recuperação de estresse, foco e tempo de reação.
Passei pelo processo de teste da Neurotopia e recebi o perfil do meu cérebro. Ele mostrou que sou capaz de me concentrar por longos períodos, contudo tenho problema em me recuperar depois do estresse - ambos os diagnósticos pareceram certos. Depois disso, sensores foram colocados na minha cabeça novamente e sentei na frente de uma grande tela de computador, em que um videogame com um carro em seu centro se materializou. James Seay, diretor de performance atlética da Neurotopia, disse-me apenas para me concentrar. O carro se moveu. Ele manteve o movimento. Ganhou velocidade, fez curvas, passou por pontes e bateu no carro à frente dele. Eu não estava fazendo nada, sequer pensando em algo em particular, e comecei a questionar se eu mesmo é que estava movendo o carro. Porém, quando alguém na sala falou comigo e eu respondi, o carro deu uma freada brusca.
A ideia é que o carro da Neurotopia vai treiná-lo, inconscientemente, a se concentrar melhor quando você precisa se concentrar - por exemplo, durante uma partida de tênis - e relaxar em outros momentos - por exemplo, quando quiser dormir. O carro que eu estava movendo era o nível mais fácil. Nas sessões seguintes, fica cada vez mais difícil mover o carro e sua habilidade de se concentrar plenamente e encontrar um estado mental para executar essa tarefa aumenta.
"Todo o seu cérebro acha que ele é perfeito como é, mas treinando certas ondas para trabalharem melhor em certos momentos, podemos mudar o que nossa mente considera uma reação normal", diz Seay.
Difícil de acreditar? É verdade que o treinamento mental está em seus primeiros estágios de desenvolvimento e ninguém sabe onde isso vai dar ou o que revelará, todavia há pelo menos um "crente" no circuito profissional. Mike Bryan fez 20 sessões de Neurotopia perto de sua casa na Califórnia no ano passado e diz que isso o ajudou. "Senti uma diferença. Consigo manter meu foco por mais tempo e acho que consigo ativá-lo quando é necessário. Quero que meu corpo esteja relaxado, mas meu cérebro na ativa, e é assim que me sinto. Tivemos nossa melhor temporada no ano passado", conta o parceiro de Bob Bryan. "Quis ser como Federer, mas preciso de ajuda nisso", completa rindo.
Das câmaras hiperbáricas à carrinhos de treinamento cerebral, você nunca sabe o que o aguarda no futuro do tênis. E nunca sabe quando ele começará a tomar forma.
" Além da parte física, a parte psicológica do jogo também é alvo das novidades, com uma máquina que lê e interpreta as ondas cerebrais, ajudando os tenistas a se concentrar "
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