Objetivos claros e momentos desafiadores são essenciais na aprendizagem dos pequenos
Suzana Silva em 24 de Junho de 2016 às 09:35
Antigamente, pensar em uma “prova” ou em um “teste” de tênis poderia parecer algo estranho. A pessoa ia lá, fazia aulas de tênis e pronto: de tanto repetir, e com um pouco de feedback do professor, as pessoas iam se desenvolvendo. Ou melhor, iam desenvolvendo suas rebatidas, fossem bolas de fundo, saques, voleios ou smashes. Não o jogo. Explico a seguir.
Era muito comum vermos tenistas com golpes super bonitos, mas que se mostravam pouco eficientes quando entravam na quadra para competir contra adversários com bolas erráticas e irregulares. “Ué, a bola do meu professor não vem tão torta assim...”. Pois é, os tenistas de antigamente podiam até saber bater bonito, mas muitos deles não sabiam “jogar”.
Para “jogar”, os tenistas precisam desenvolver capacidades perceptivas para avaliar onde e como a bola do adversário quicará, precisam adquirir um bom trabalho de pés para se posicionar para a rebatida, e também realizar golpes eficientes tanto do ponto de vista tático quanto biomecânico. E para “bem jogar”, o programa de aulas precisa ser bem planejado e o processo, constantemente avaliado.
Assim como os testes de avaliação física prescritos pelo preparador físico ou os exames clínicos solicitados pelos médicos dão-nos uma visão ampliada de como está nossa saúde e condição física para a prática esportiva, os testes de avaliação de tênis procuram mostrar como o tenista está atualmente (vamos chamar esse estado de “Ponto A”) e aonde queremos que ele chegue durante certo período de tempo (“Ponto B”).
É claro que isso sempre fez sentido em processos de aprendizagem na vida escolar de todos nós (provas de Matemática, de Português etc.). Mas, atualmente, isso também faz total sentido no processo de aprendizagem do tênis: sabendo quais são os critérios de qualidade da percepção que temos do voo da bola, da movimentação dos pés e de cada golpe do tênis, podemos montar uma sequência de verificações ao longo do processo ensino-aprendizagem para que nos certifiquemos de que estamos no caminho certo.
Em um programa ideal, no qual a criança pratica pelo menos duas vezes por semana, ao longo de um semestre, ela fará uma quantidade suficiente de aulas para que a aprendizagem de habilidades motoras seja verificável. Então, os chamados “testes para mudança de nível” podem ser realizados a cada seis meses.
As crianças curtem esse momento do teste como um “ritual”: dá frio na barriga, todos querem passar e, normalmente, o nível de jogo melhora bastante. Prepará-las psicologicamente é importante, explicando-lhes que os testes são principalmente importantes para nós, professores, já que por meio deles podemos verificar se nossa condução do programa cumpriu os objetivos, e o que devemos reforçar.
O tipo de avaliação escolhida deve estar de acordo com o seu planejamento de ensino para determinada faixa etária e nível do praticante. O que você quer atingir com sua criança de oito anos, bola vermelha, em um semestre?
Aqui vão alguns exemplos de metas de ensino:
Os testes para verificar se essas metas foram alcançadas poderiam incluir:
1. O aluno inicia com autolançamento uma troca de bolas com o professor, que devolve as bolas alternadamente para o forehand e para o backhand do aluno. A criança deve conseguir pelo menos três trocas com técnica adequada (posição de expectativa, empunhadura correta, preparação com a raquete alta). Ela tem quatro chances para conseguir executar.
2. O aluno efetua quatro saques em cada diagonal (primeiro e segundo saques). Deve acertar pelo menos metade com a técnica adequada (posição inicial, posição do troféu, pés bem posicionados e equilibrados).
3. O aluno realiza um autolançamento e sobe à rede. Professor lança bola lenta e fácil para o aluno volear, uma vez para o forehand, outra para o backhand. O aluno marca ponto quando acerta o autolançamento e o voleio, com ponto bônus se o voleio é rebatido para o lado oposto ao do autolançamento. Verificar a técnica (posição de expectativa, empunhadura Continental e contato à frente do corpo).
4. Joguinho de tie break em quadra 5,5 m x 11 m. Os alunos devem ser capazes de arbitrar independentemente do professor.
Simples assim. Fica claro que não podemos exigir um saque com flexão/extensão de joelhos nesta fase, pois cada uma delas tem suas metas técnicas e táticas adequadas à faixa etária, assim como testes que verificam se essas metas foram atingidas.
Os eventos que envolvem demonstração de habilidades (festivais) e as disputas (festivais de jogos, torneios multichances, torneios por equipes etc.) também são fundamentais no processo ensino-aprendizagem do tênis, e também devem estar no calendário de um bom programa de tênis infantil. O programa Club Junior (programa da escola francesa de tênis para crianças de sete a dez anos), por exemplo, sugere cinco competições adaptadas por ano nessa fase, incluídas no planejamento anual, e obrigatórias para as crianças que participam do programa.
Os bons professores de tênis para crianças entendem que estão ensinando um jogo e acreditam que se aprende um jogo “para jogar”. As experiências de jogar desde o princípio vão tornando as crianças mais acostumadas com “vencer e perder” e desenvolvendo nelas uma competitividade saudável, além da vontade de melhorar cada vez mais.
Claro que esse desenvolvimento saudável acontece quando as competições são bem organizadas para o nível de suas habilidade, oferecem muitas chances de jogar com adversários e parceiros diferentes e quando os pais também são orientados a deixar que as crianças resolvam seus problemas de jogo de modo autônomo. Mas isso já foi assunto de artigos anteriores.
O recado mais importante é: se você é pai de tenista, verifique se o programa de aulas do seu filho inclui avaliações e eventos competitivos; se você é um professor que trabalha com crianças, capacite-se constantemente para oferecer sempre o que há de mais atualizado em termos de avaliações e eventos adaptados ao nível de suas crianças.
Se queremos atrair e manter mais e mais crianças no esporte, precisamos criar desafios constantes e estimulantes em nosso programa de aulas. E as avaliações e torneios são imprescindíveis no processo.