Federer está prestes a igualar o número de Grand Slams de Sampras e as comparações entre eles são inevitáveis
Rodrigo Linhares em 22 de Dezembro de 2008 às 07:42
Muitos acreditavam que Roger Federer superaria o recorde de Grand Slams de Pete Sampras já em 2008. O nível de tênis apresentado pelo suíço nos quatro anos anteriores dava a entender que a marca de 14 títulos do norte-americano seria facilmente alcançada nesta temporada. No entanto, Rafael Nadal e Novak Djokovic impediram que Federer vencesse os Majors necessários para atingir este objetivo.
Fica então a questão para 2009: Federer vai suplantar o recorde de Sampras? A maioria dos especialistas crê que sim.
Talvez não nesta próxima temporada, mas nas seguintes. "Em 2009, ele vai ao menos igualar (a marca do norte-americano). Mas será cada vez mais difícil de ele ganhar os Grand Slams, pois a competição está cada vez mais acirrada", diz o jornalista francês Geroges Homsi.
"Ele apenas empata neste ano. Mas, em 2010, não vai ter jeito, passa com certeza", garante Dácio Campos, comentarista do Sportv.
"Em 2009, acredito que ele vence apenas em Wimbledon. Superar mesmo, acho que em 2010. Não vejo como ele não passar Sampras. Vai acontecer naturalmente", afirma Alexandre Cossenza do portal GloboEsporte. com.
Outros, como José Nilton Dalcim, do site Tenisbrasil, crêem que Federer supera o número de Grand Slams de Sampras, mas faz uma ressalva: "Se tiver chance de fazer isso, vai ter que ser em 2009. Porque, depois, vai ser muito difícil", mas completa otimista: "Talvez ele iguale na Austrália e supere em Wimbledon, no qual ainda é favorito. De três Grand Slams, ele deve ganhar dois". Já Fernando Meligeni aposta firme no suíço: "Acha que ele vai voltar com tudo em 2009".
Ok, Federer passar, ou não, Sampras é uma questão que vem à tona no momento, mas outra pergunta surge em seguida: quem é melhor? Essa é realmente difícil de responder, mas cada um tem seu preferido e vai defendê-lo até a morte. A distância entre as épocas e os adversários distintos tornam esta disputa ainda mais pessoal quando se fala da "rivalidade" entre Sampras e Federer.
No entanto, quando se faz uma comparação entre estes dois gênios das raquetes, antes de notar grandes diferenças percebe-se surpreendentes semelhanças. Alguns números e coincidências aproximam a carreira dos dois de forma interessante. O primeiro item é a data de nascimento. Sampras e Federer estão separados por dez anos. Enquanto o norte-americano nasceu no dia 12 de agosto de 1971, o suíço veio ao mundo no dia 8 de agosto de 1981.
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Estilos semelhantes
Esquerda de uma mão e leveza
Dentro das quadras, Sampras e Federer são os maiores vencedores de suas gerações. Os dois têm estilo clássico. A leveza na movimentação de pernas e a tradicional esquerda de uma mão são ingredientes importantes para dar o tom daquele tênis praticado nos anos dourados do esporte. A genialidade dos dois? Vencer e fazer parecer fácil jogar.
Jogo de rede e bolas limpas
Nos anos 90, Sampras representava o jogo de saque-e-voleio e a empunhadura conservadora - que fazia sua bola ser sempre mais reta, chapada - coisa que só se vê nas imagens das partidas de Rod Laver, Arthur Ashe, Bjorn Borg e John McEnroe, nos anos 60, 70 e 80. Enquanto o norte-americano colecionava títulos, muitos adeptos do jogo na rede penavam para se adaptar à evolução da devolução de saque dos oponentes.
Federer, por sua vez, além de ter um extenso vocabulário na rede, digno de grandes jogadores de saque e rede, joga no fundo com golpes retos e slices em plena era do "mega topspin" - com bolas que passam quase sempre há mais de um metro da altura da rede.
Saque devastador
No saque, os dois convergem novamente. Quando a coisa está ficando feia e o jogo entra em um momento decisivo, é comum assistir a Federer resolver seus problemas com belas variações de serviço e uma seqüência de aces que tira pontos e motivação do adversário. No caso de Sampras, após o marcante ritual de colocar a língua para fora, tirar o suor da testa e levantar a pontinha do pé esquerdo, o efeito saque sempre foi tão incrível que funcionava até mesmo para anotar pontos diretos com o segundo serviço, o que, para muitos, sempre foi impensável.
Físico e mental
O tipo físico também aproxima estes atletas: o cabelo moreno, a mesma altura 1,85. No peso, Federer diz ter 85 quilos, contra 77 de Sampras. Não bastasse a proximidade física, pode-se perceber nos dois uma semelhança no comportamento em quadra, a segurança no olhar e o estilo discreto das roupas - apesar de o suíço estar inovando e se tornando um ícone da moda do tênis, coisa que o norte-americano nunca foi.
Na parte mental, assim como poucas vezes Sampras foi visto se destemperar e sair do controle em quadra, há anos Federer mantém seus nervos sob controle e transparece uma frieza impressionante mesmo nos momentos mais dramáticos.
Gosto pela grama
A superioridade na grama faz parte da história dos dois gênios. Além das conquistas em Wimbledon (Sampras tem sete contra cinco de Federer), atualmente eles estão empatados no número de títulos nesta superfície: dez para cada.
Problemas no saibro
Em relação ao piso das maiores dificuldades, ambos compartilham frustrações no saibro. Entre tantos títulos, nenhum deles venceu em Roland Garros.
Mesmo com semelhanças, algumas diferenças devem ser relativizadas pelos anos que separam Federer de Sampras: Pete, obviamente, leva vantagem na eficiência do saque e no jogo de rede. Roger ,porém, é mais regular e versátil no fundo da quadra. Até por isso, já esteve mais perto que o norte-americano de faturar o título do Grand Slam francês. Enquanto o suíço coleciona três vice-campeonatos (2006, 2007, 2008) - derrotado por Rafael Nadal em todas as vezes -, o norte-americano nunca passou de uma única semifinal, alcançada em 1996.
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Trajetórias
A diferença de dez anos entre os tenistas facilita a análise de suas carreiras e fica mais fácil comparar a trajetória deles até o topo. Os dois se profissionalizaram aos 16 anos: Sampras em 1988, e Federer em 1998. Quando o suíço tinha apenas seis anos, seu "rival" já estava em ação em sua primeira temporada no circuito profissional. No dia 9 de setembro de 1990, quando Sampras derrotou Andre Agassi (6/4, 6/3 e 6/2) e se tornou o mais jovem vencedor do US Open, Federer ainda era uma criança que começava a se interessar pelo tênis e jogava torneios em seu país. Ao vê-lo brilhar no circuito, o suíço não esconde que o norte-americano era o seu jogador favorito, além do alemão Boris Becker.
No ano de sua profissionalização, Federer terminou a temporada como o melhor juvenil do mundo. No circuito profissional, assistia ao reinado de Sampras que ficou 105 semanas consecutivas como melhor do mundo entre abril de 1996 e março de 1998. Com certeza, o nome de Sampras era o maior exemplo de sucesso para todos os juvenis que almejavam algum dia estar entre os melhores do mundo.
Apesar de não ter o sucesso de Federer como juvenil, o caminho de "Pistol" Pete até as primeiras posições do ranking foi mais curto. Ele passou por uma grande mudança em seu jogo aos 14 anos, quando deixou a esquerda de duas mãos. A idéia do treinador Peter Fischer, que o acompanhou até 1989, era fazer o tenista evoluir no saque e nos voleios para conseguir realizar o sonho de vencer Wimbledon. Apesar de sofrer na fase de transição, os resultados da mudança, como se sabe, foram magníficos. "Por dois ou três anos não foi divertido. Estava acostumado a ganhar do Michael Chang, mas passei a perder. Em contrapartida, cresci muito no saque e no voleio e senti que deveria manter a mudança para ganhar Wimbledon", conta o norte-americano sobre aquele período.
Antes de completar três anos como profissional, Sampras já tinha no currículo um título de Grand Slam (US Open, em 1990). Para Federer, o primeiro Grand Slam só veio em 2003, na grama de Wimbledon, em seu sexto ano como profissional. Com seis temporadas na ATP, Pete já era o número um do mundo.
Federer precisou de mais de um ano e meio para alcançar o top 100 (95º do mundo em setembro de 99). Sampras alcançou este grupo em menos de um ano (97º em novembro de 1988). Em ritmo acelerado em busca das primeiras posições, o norte-americano esteve pela primeira vez entre os dez melhores tenistas do ranking em 10 de setembro de 1990. Após a conquista do US Open, Sampras era o sexto.
Para Federer, o lugar no top 10 demorou mais. No dia 20 de maio de 2002, em seu quinto ano como profissional, ele conseguiu alcançar a oitava posição. Naquela semana, Federer também ultrapassou Sampras - que era número 12 do mundo - e desde então nunca mais esteve atrás do norte-americano no ranking.
A trilha até o número um da ATP teve um tempo parecido para os dois tenistas. Sampras tomou a ponta no dia 12 de abril de 1993, quando desbancou o compatriota Jim Courier. Federer conseguiu o feito no dia 2 de fevereiro de 2004 e assumiu a liderança que era de Andy Roddick. Enquanto Sampras teve um intervalo grande entre seu primeiro Grand Slam (1990) e a liderança do ranking. Federer esperou poucos meses entre o título de Wimbledon em 2003 e o início de seu reinado.
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Chegar à ponta da lista da ATP não é um feito simples, nem fácil, mas o ditado ensina que: "mais difícil do que chegar ao topo é manter-se lá". E esses dois gênios são especialistas em manutenção do número um.
Federer passou 237 semanas seguidas como melhor tenista do mundo - de 2 de fevereiro de 2004 até 17 de agosto de 2008 -, quando foi superado por Rafael Nadal. Para se ter uma idéia deste feito, a segunda maior seqüência era do norte- americano Jimmy Connors, com 160 (mais de um ano menos que o suíço).
Sampras, por sua vez, ainda é o recordista no número total de semanas como número um. São 286 semanas sem ver outro tenista à sua frente. Além disso, é dele o recorde praticamente imbatível de seis anos consecutivos terminando a temporada na ponta do ranking (93, 94, 95, 96, 97, 98).
Vamos aos números
Quando a comparação procura escolher quem é o melhor, cabe lembrar que a diferença de épocas e de adversários torna as opiniões mais pessoais do que "científicas". Sendo assim, vamos ao lado numérico da coisa.
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Aproveitamento
"Vi de perto" Dois nomes do tênis brasileiros, que conviveram com Sampras e Federer no circuito, opinam sobre as semelhanças e diferenças entre eles: JAIME ONCINS -Eles mantêm a esquerda de uma mão. Hoje a maior parte dos jogadores bate com duas. Diferenças: -Federer, no fundo, é um pouco mais completo. Quem é o melhor? "Acho difícil comparar épocas, fica no gosto pessoal. Gosto mais de ver o Federer. O Sampras é mais frio, o outro é um pouco mais carismático". ANDRÉ SÁ -Nas horas e nos torneios mais importantes, jogam seu melhor tênis. -Muita agilidade na rede, grandes voleadores. Diferenças: -Cabelo (risos): Quem é o melhor? "Em minha opinião, Federer é um jogador mais completo que Sampras e, por isso, melhor. Federer tem a esquerda e físico melhores que Sampras, o que o faz jogar melhor, principalmente no saibro". Curiosidade "Muitas vezes me falaram que sou parecido com Sampras. Uma história engraçada foi em 2001, no US Open*. Estava treinando e cerca de 20 meninos chegaram gritando: 'Sampras Sampras Sampras'. Mas aí comecei a sacar e eles viram que não era ele (risos)" *Foi exatamente neste torneio que Sá disputou seu único confronto com Sampras na carreira. O mineiro foi superado pelo norte-americano na segunda rodada (7/6(4), 6/4 e 6/3). |
O aproveitamento de vitórias na carreira de Federer é 80% (até 2008), enquanto o outro tem 77%. Apesar de ganhar no número de títulos conquistados na carreira (64 contra 57), Sampras já é superado por Federer no total de conquistas em quadras duras (38 a 36 para o suíço, com aproveitamento de 82% de Federer contra 80% de Sampras), em quadras de saibro (7 a 3, com marca de 75% para Federer contra 62,5% de Sampras), empata em títulos na grama (10 a 10, com 87% de Federer contra 83% de Sampras) e só vence na comparação em quadras de carpete (15 a 2 para Sampras, com 76,5% de Sampras contra 72% de Federer).
Um jogo só
Na única partida entre os dois, nas oitavas-de-final de Wimbledon em 2001, o suíço, com apenas 19 anos, derrotou a heptacampeão Pete Sampras em partida memorável, que só foi decidida no quinto set (7/6[7], 5/7, 6/4, 6/7(2) e 7/5). Esta vitória mudaria a carreira de Federer, que passou a ser notado como um grande tenista. Até mesmo o modelo de raquete que usavam na época no jogo era igual. Atualmente, Roger ainda usa um modelo muito semelhante ao antigo.
Premiação
Em 2008, Federer bateu o recorde de premiação de torneios na carreira que pertencia ao norte-americano. Sampras sustentava a marca de US$ 43.280.489. Ao final deste ano, o suíço já ganhou mais de US$ 44 milhões e é o homem que mais recebeu em premiação de torneios na história do tênis.
Grand Slams
Por fim, há um número que muitos esperam para dizer que Federer é melhor que Sampras, o de títulos de Grand Slam. As 14 conquistas do norte-americano estão seriamente ameaças pelos 13 Majors levantados pelo suíço até 2008. Roger completou sua 12ª temporada como profissional. Nesse mesmo período de tempo, Pete tinha 11 Grand Slams e conquistaria mais três nos quatro anos que ainda jogou o circuito. Por sinal, foi após seu 27º aniversário que Sampras teve maiores problemas para manter o número um e vencer os Majors. Será que Federer passará pela mesma "crise"? Mas, se o suíço, como se espera, passar a marca do norte-americano, isso representa que ele é mesmo melhor? Ou ainda que é o melhor de todos os tempos? Aí é com você.