Presente de Natal

LEMBRO-ME DE MINHA PRIMEIRA raquete com um misto de carinho e perplexidade. Máxima, uma raquete italiana de madeira que meu pai comprou já usada, não aguentou um smash mais vigoroso e se partiu ao meio. Como uma menina de nove anos pode executar tal proeza?

Fui comprar meu par de raquetes importadas novinhas em folha só cinco anos mais tarde, quando fui aos Estados Unidos pela primeira vez disputar o Orange Bowl. Posso recordar bem o cheiro, as capinhas que protegiam apenas a cabeça das raquetes - naquela época não havia raqueteiras - e o fato de poder contar com uma raquete extra igualzinha à que usava em caso de cordas quebradas.

Hoje em dia, o preço das raquetes está bem mais acessível para as crianças que começam a jogar. Os tamanhos proporcionais à altura e à força da meninada também chamam atenção: existem no mercado raquetes de tamanho 17, 19, 21, 23, 25 e 26 polegadas. As raquetes 17 polegadas são usadas por crianças com cinco anos ou menos nas atividades pré-desportivas.

Além das raquetes de alumínio, há outras opções para crianças terem a primeira vivência no tênis. Muitos projetos sociais e projetos de tênis nas escolas usam raquetes confeccionadas de um tipo de plástico duro e maciço. São leves e perfeitamente aceitáveis para a prática das primeiras habilidades de contato com a bolinha.

CLÍNICAS E TORNEIOS DE FÉRIAS

Muitos clubes, academias e escolas promovem treinos intensivos de férias para colocar a garotada em atividade e preparar aquelas que competem mais a sério para os novos desafios do ano seguinte (as chamadas pré-temporadas).

Nas pré-temporadas, os treinadores aproveitam para ensinar golpes ou jogadas novas, e para realizar melhoras biomecânicas que precisam de mais tempo para automatização. Essas mudanças mais significativas são feitas na pré-temporada para que, quando a criança volte a competir, elas já estejam devidamente "instaladas" e confiáveis.

Jogar torneios ou partidas com adversários diferentes é uma maneira de reforçar o que foi aprendido até o momento e de conhecer outras crianças que jogam tênis. Caso a família tenha oportunidade de viajar, deve colocar a raquete na bagagem, pois, quem sabe, aparece uma quadra disponível e um adversário novo? Então, não perca essa oportunidade.

DÊ ASAS À IMAGINAÇÃO

Cada vez que encontro, durante os cursos de capacitação, professores de tênis que atuam pelo Brasil afora, percebo o quanto eles são criativos quando nem mesmo as raquetes de plástico estão disponíveis para compra em suas cidades. De pedaços de tábuas de madeira a chinelos de borracha, quase qualquer coisa que proteja as mãos das crianças e aumentem sua superfície de contato com a bolinha está valendo na ânsia de ensinar e divulgar nosso esporte favorito.

Sou daquele tipo de professora que anda com vários tamanhos de raquete para emprestar, de modo que os pais não precisem fazer nenhum investimento em raquetes a não ser que a criança pegue mesmo o gosto pela coisa. Digo aos genitores que os rebentos precisam "merecer" a raquete para darem mais valor à oportunidade que receberam de aprender o tênis. Mas é claro que ficarei super feliz em saber que mais raquetes infantis foram compradas neste Natal. Porém não basta dar uma raquete de presente a uma criança, antes é preciso dar de presente às nossas crianças a oportunidade de aprender o tênis. É preciso dar a elas quadras públicas onde possam praticar de graça e fazer amigos.

Na minha lista para o Papai Noel vai o pedido de mais vontade política para a construção de quadras públicas. Assim as crianças que passaram pelo primeiro contato com o tênis, mesmo usando aquelas raquetes improvisadas por professores criativos, terão onde desenvolver seu talento. E as raquetes oficiais compradas no Natal terão utilidade por muito, muito mais tempo.