Férias são ótimas para descansar, mas não só para isso. É neste período que o tenista prepara o corpo e a mente para as durezas de mais uma temporada.
Eduardo Faria<Br> | Fotos Ron C Angle em 12 de Dezembro de 2006 às 09:24
O período de férias é propício para o tenista fazer uma recuperação física e mental. Física, porque os músculos, tendões e articulações precisam se recuperar, e mental porque a cabeça cansa de tanta pressão, competições, expectativas, frustrações e perdas - porque o tênis é um esporte em que geralmente mais se perde do que se ganha, e é preciso um descanso para recarregar as energias.
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Ficar totalmente parado, sem movimentar o corpo, pode acarretar uma perda acentuada de rendimento. O ideal é procurar suar uma camisa por dia praticando outros esportes e, de preferência, um esporte que você goste, que sinta prazer em praticá-lo, mas sempre com o objetivo da recreação e divertimento.
Jogador amador
O corpo do jogador amador também precisa de um descanso. Se você é daqueles que competem o ano todo e nas férias ainda se inscreve numa clinica para jogar mais e mais, cuidado, você pode levar o seu corpo à exaustão, prejudicando o seu rendimento para o próximo ano.
Quando faltar um mês para iniciar o período competitivo, faça uma avaliação física geral e em seguida inicie um trabalho de musculação e corrida, orientado por um professor de Educação Física.
Programação do treinamento
Na quadra, o que se notava é que os treinadores aplicavam o que aprenderam quando eram jogadores, ou se baseavam nas escolas de tênis de outros países; não davam a devida importância ao tipo, volume e intensidade dos exercícios - todo dia era dia de treino forte e só diminuíam o ritmo quando o jogador estava cansado. Diante disso, o preparador físico tinha que se adaptar a essa triste situação e de alguma maneira encaixar os treinos físicos sem sobrecarregar o jogador.
A integração do treinador com o preparador físico é fundamental para o sucesso do trabalho. O preparador físico deve complementar o trabalho do treinador e dar condições para o jogador realizar com vigor os exercícios exigidos em quadra.
A sugestão para os técnicos é anotar todos os treinos aplicados na quadra. A quantidade de exercícios (drills), o tempo de duração de cada um e o tempo de intervalo entre os exercícios. Acredito que com esses dados os treinadores poderão mensurar o volume e a intensidade dos treinos com mais precisão, proporcionando um treinamento mais seguro e eficaz para os jogadores.
Outro aspecto importante é que cada população tem as suas particularidades. O conhecimento enriquece o aprendizado, mas copiar métodos de treinamentos das escolas de outros países não é a melhor estratégia de ensino. Temos que levar em conta o clima e a região do país, a formação esportiva, a formação escolar, a formação religiosa, a formação familiar e a estrutura oferecida para esse determinado jogador ou jogadores e a própria necessidade de cada jogador.
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Pré -temporada
Devemos levar em conta a condição física em que se encontram os jogadores, o prazo para a realização dos treinamentos e o calendário competitivo.
Normalmente os jogadores em ascensão precisam jogar muitos torneios durante o ano para obter pontos e o calendário é extenso, sobrando pouco tempo para as férias e para se preparar para o ano competitivo seguinte.
Essa situação não é ideal. Ideal seria se eles tivessem trinta dias de férias e mais oito semanas para se preparar, e um calendário organizado, o que facilitaria muito a programação, pois daria para separar bem os ciclos de treinamento. Temos que nos adaptar às situações e à estrutura que possuímos para a realização do trabalho.
Ciclos do treinamento
A programação do treinamento é realizada em ciclos. Esses ciclos ondulatórios na aplicação dos treinos podem ser observados no plano anual, mensal ou semanal, denominados de macrociclos, mesociclos e microciclos. Quando se tem um calendário pré-estabelecido, as programações destes ciclos se tornam mais efetivas. Mas vamos nos fixar nos microciclos.
O microciclo representa a menor etapa a ser considerada dentro de um plano de treinamento. É o planejamento das unidades do treinamento durante uma semana de cargas que se alternam entre forte, média e fraca, onde se varia a relação entre o volume e a intensidade no desenrolar do ciclo. Essa variação de esforços permite um maior progresso do esforço e protege os jogadores de acidentes, das possíveis lesões provocadas por uma recuperação insuficiente ou exageros nos treinos, particularmente dos músculos, tendões e articulações.
Tentaremos exemplificar um programa básico de preparação. Logicamente o programa vai depender da capacidade física, do nível técnico do jogador e dos objetivos que se quer atingir.
Vamos supor que dispomos de cinco semanas para um período preparatório, e que ele será dividido em período de preparação geral e período de preparação especifica.
Período de preparação geral - duração de duas semanas - com ênfase na parte física
espanhol Rafael Nadal bate um backhand, treino específico que imita a situação de jogo |
Primeiro passo a ser dado é fazer uma avaliação física geral do jogador e, a partir dos resultados, traçar os objetivos. Pode-se dizer que esse período é o alicerce de uma casa. Prepara-se o terreno, iniciando-se a fundação.
Nesse período, o treinamento é caracterizado por ir do geral para o específico, do desenvolvimento da condição física até o aperfeiçoamento da técnica do jogo, do pouco para o muito, do volume do treinamento para a intensidade do mesmo, do leve para o pesado.
A resistência aeróbia, por ser a capacidade básica que mais tempo de trabalho solicita, deve ser iniciada logo no inicio da pré-temporada. Para adquirila, os exercícios sugeridos são: corrida contínua de 30 minutos três vezes por semana e, na quadra, drills acima de três minutos, com baixa intensidade.
O desenvolvimento da força também exige tempo. Exercícios sugeridos: musculação e exercícios de saltos.
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A resistência anaeróbia e a velocidade levam menos tempo para se desenvolver e precisam de uma boa base aeróbia. Exercícios sugeridos: na resistência anaeróbia, corridas fracionadas de médias e longas distâncias. Velocidade: exercícios fracionados de curtas distâncias e deslocamentos específicos realizados na quadra.
A flexibilidade deve acompanhar todos os períodos durante o ano.
O trabalho de recuperação deve ser feito por meio de exercícios de baixa intensidade na piscina e massagens semanais.
Física antes ou depois do treinamento de quadra ?
Se a prioridade é o desenvolvimento na mudança de algum fundamento, ou de uma empunhadura, ou o aperfeiçoamento de algum golpe especifico, o trabalho físico antes do técnico-tático não é indicado. Para uma melhor assimilação do aprendizado, o organismo deve estar descansado, com a mente alerta, pois o cansaço prejudica a coordenação.
Agora, se o objetivo é a melhora da capacidade física, obviamente o trabalho físico deve vir primeiro. Enfim, o trabalho físico e o técnico precisam caminhar juntos em prol de um objetivo, que é melhorar o rendimento do jogador.
Período de preparação especifica duração de três semanas com ênfase na parte técnica
Nessa etapa o treinamento se torna mais específico, ou seja, visa as solicitações exigidas no jogo. No treinamento físico, há uma diminuição do treinamento generalizado e um aumento do treinamento específico.
Antes se treinava duas sessões por dia, agora haverá apenas uma sessão diária. As corridas, que eram realizadas durante 30 minutos, três vezes por semana, passam para uma vez por semana com um tempo mais curto e um ritmo mais intenso. O trabalho de força também é substituído pelo trabalho de potência.
Referencias bibliográficas:
Teoria e prática do treinamento desportivo - Valdir Jose Barbanti - editora- Edgard Blucher - São Paulo - 1997.
Tênis e Saúde - Eduardo Faria - editora Manole - São Paulo - 2001.
A prática da preparação física - Estélio H.M.Dantas - editora Shape - Rio de Janeiro - 1998.
O professor Eduardo Faria prepara tenistas e atletas profissionais e atende a todos que querem entrar em forma - edfaria@uol.com.br |