Se alguns ainda duvidavam do domínio de Rafael Nadal sobre o saibro, o espanhol eliminou todas as dúvidas ao conquistar de maneira impecável o quarto título consecutivo em Roland Garros. No feminino, surge uma nova e bela campeã
Arnaldo Grizzo em 2 de Julho de 2008 às 11:23
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Agora já são 28 vitórias seguidas no Grand Slam de saibro. Mas, a verdade é que, jogando em Roland Garros, Rafael Nadal nunca perdeu. Fez sua estréia em 2005, pois em 2003 e 2004 estava machucado e não participou, e não faz idéia do que é ser derrotado lá. Para os que acreditavam que o jogo extremamente físico do espanhol não iria agüentar tanto tempo, o jovem de 22 anos (completados durante o torneio) deu a mais contundente resposta ao atropelar todos os adversários rumo ao quarto título.
Em 2008, Nadal simplesmente não foi incomodado. Na primeira rodada, teve um pouco mais de trabalho contra Thomaz Bellucci, mas, em seguida, passou como um raio pelo francês Nicolas Devilder, pelo finlandês Jarkko Nieminen e pelos espanhóis Fernando Verdasco e Nicolas Almagro. Esperava-se uma dura batalha contra Novak Djokovic na semifinal, no entanto, o sérvio também sucumbiu sem a resistência esperada.
Para finalizar, a tão aguardada decisão contra Roger Federer foi um passeio. Diante de um adversário inspirado, o suíço conseguiu apenas quatro games. Após aplicar um vergonhoso 6/0 no set final, Nadal sequer se jogou ao chão como costuma fazer para comemorar seus títulos. Apenas cerrou o punho e vibrou comedidamente, respeitando o rival totalmente desolado. Em seguida, o espanhol até pediu desculpas para Federer pelo baile e recebeu o troféu das mãos de Bjorn Borg, o último a conseguir quatro títulos seguidos em Roland Garros, de 1978 a 81, além de outros dois em 1974 e 75.
Recordes
Desde seu primeiro título no saibro, no ATP de Sopot em 2004, Nadal teve apenas cinco derrotas na superfície e ganhou 22 títulos. O "Touro" ainda detém a maior invencibilidade na terra batida, com 81 jogos, desde o Masters Series de Monte Carlo em 2005 até a final do Masters Series de Hamburgo no ano passado. Ao ganhar na Alemanha neste ano, ele se igualou a Guga e Marcelo Ríos, como os únicos a vencerem todos os Masters Series de saibro.
A conquista de Nadal, sem perder um set, foi apenas a quarta na história de Roland Garros na Era Aberta. Antes dele, somente Ilie Nastase (em 1973) e Borg (em 1978 e 80) saíram completamente ilesos. Por fim, o espanhol nunca perdeu uma partida em melhor de cinco sets no saibro (já são 41 vitórias) e, ao que parece, dificilmente ele será batido em seu piso predileto. Somente em duas ocasiões ele foi levado ao set final: por Guillermo Coria no Masters Series de Roma em 2005 e por Federer no mesmo torneio no ano seguinte.
Para os que pensavam que o corpo de Nadal chegaria a um limite físico rapidamente, sua resposta está dada. Para os que acreditavam que o garoto tinha um jogo restrito, Federer contesta: "Definitivamente acho que ele melhorou. Sempre tive esse sentimento de que ele está jogando diferentemente de quando nos encontramos em Paris pela primeira vez nas semifinais. Ele é muito melhor na defesa e no ataque". O suíço completou: "Há três anos eu já dizia isso: ele joga como que com dois forehands da linha de base, pois ele bate em open stance dos dois lados. Não tenho como fazer isso. Então, ele tem uma grande vantagem neste aspecto. Seu forehand é ótimo e ele é muito forte mentalmente. Ele dificilmente erra e, quando vai ao ataque, joga muito próximo das linhas. Sendo assim, ele tem um jogo muito bom para saibro". Com um adversário tão duro, Federer ainda acredita que pode vencer em Roland Garros? A resposta foi seca: "Sim". Como? Aí já é outro problema.
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Uma nova e bela rainha
Na França, quem enfim venceu um Grand Slam e, com isso, se coroou a nova número um do mundo, foi a sérvia Ana Ivanovic. Após ser massacrada por Justine Henin no ano passado em Roland Garros e sofrer diante de Maria Sharapova no Australian Open 2008, a nova musa colocou a cabeça no lugar, assumiu o papel de favorita e não decepcionou.
A jovem de 20 anos também se aproveitou da ausência de alguns dos fantasmas que a costumam assombrar, como Henin, que se aposentou dias antes de Roland Garros, e as irmãs Williams, que ficaram pelo caminho. Na semifinal, Ivanovic teve seu teste mais difícil, contra a compatriota Jelena Jankovic. Na decisão, encarou Dinara Safina, irmã de Marat Safin, que fazia sua primeira final de Grand Slam e vinha bastante desgastada após duros jogos, e se sobressaiu sem maiores dificuldades.
Surpresas
Por fim, Roland Garros teve espaço para o inusitado. Quando todos os brasileiros esperavam uma boa campanha dos mineiros Marcelo Melo e André Sá, outro tenista de Minas Gerais roubou a cena nas duplas. Bruno Soares foi à Paris e não conseguiu entrar direto na chave.
O sérvio Dusan Vemic e ele estavam como a terceira parceria fora, esperando algumas desistências. Que vieram. Eles entraram e foram à semifinal, passando por duplas tarimbadas como os israelenses Jonathan Erlich e Andy Ram e o sueco Jonas Bjorkman e o zimbabuano Kevin Ullyett. Só pararam no uruguaio Pablo Cuevas e no peruano Luis Horna, que se sagraram campeões do torneio. A campanha levou Soares ao 48º lugar no ranking de duplas. Agora temos três top 50 na modalidade.
Em simples, os franceses, que esperavam muito de Richard Gasquet e Jo-Wilfried Tsonga (ambos, porém, desistiram do torneio devido a contusões), supreenderam- se com Julien Benneteau, Michael Llodra, Paul Henri-Mathieu e Jeremy Chardy, que alcançaram as oitavas, e especialmente Gael Monfils, que foi à semi. O letão Ernests Gulbis novamente mostrou do que é capaz e só parou nas quartas diante de Djokovic. Ele havia ido bem no US Open de 2007, atingindo as oitavas. Na chave feminina, destaque para a estoniana Kaia Kanepi e a espanhola Carla Suarez Navarro (qualifier), ambas quadrifinalistas.
Finais Rafael Nadal (ESP) v. Pablo Cuevas (URU) e Luis Horna (PER) v. Daniel Nestor (CAN) e Nenad Zimonjic (SRB) 6/2 e 6/3 Victoria Azarenka (BLR) e Bob Bryan (USA) v. Katarina Srebotnik (SLO) e Juvenis Tsung-Hua Yang (TPE) v. Henri Kontinen (FIN) e Christopher Rungkat (INA) v. Jaan-Frederik Brunken (GER) e Matt Reid (AUS) 6/0 e 6/3 |