Os golpes de Dolgopolov

Destrinchamos a maneira "esdrúxula" de jogar do ucraniano que todos os especialistas afirmam que revolucionará o tênis. Confira nas próximas páginas

João Zwetsch E Arnaldo Grizzo em 25 de Fevereiro de 2011 às 09:02

"ELE LOGO ESTARÁ BELISCANDO O TOP 10", garante João Zwetsch, capitão brasileiro da Copa Davis. O estilo de jogo ucraniano Alexandr Dolgopolov impressionou todos que assistiram suas partidas no Brasil Open 2011 e os especialistas não se fizeram de rogados e logo apontaram um grande futuro para o garoto de 22 anos.

Filho de pai ex-tenista e agora treinador, Dolgopolov não tem um estilo que poderíamos dizer clássico. Pelo contrário, sua forma de jogar é arrojada e repleta de golpes que não estão na "cartilha" do tênis. Mas Zwetsch defende o jovem: "A tendência é os jogadores que vão surgindo fazerem uma adaptação própria para lidar com a velocidade do jogo. O tênis clássico está cada vez menos presente em função da velocidade. A questão técnica da mecânica do golpe vai se adaptando. Obviamente que os princípios são mantidos - uma base de pernas bem efetuada, uma transferência de potência, velocidade do braço etc -, mas vão sendo adaptados Ele é um exemplo clássico".

Dolgopolov impressionou também pela frieza em quadra. "Tênis é muito de feeling. A intuição conta muito dentro do jogo. Ele tem uma condição emocional que pode tirar o melhor dele sempre. Ele não se bloqueia. Todos os grandes jogadores têm isso".

Nas páginas seguintes, escolhemos quatro golpes "clássicos" do ucraniano, que Zwetsch analisou.

BACKHAND DE ATAQUE
Dolgopolov tem um revés curto e plano, que põe os adversários para correr

NA ESQUERDA, o ucraniano tem um swing curto. É como um tapa. Ele tem condição de jogar com movimentos curtos. Joga na linha como o Marcelo Rios, por exemplo, e tem uma bola totalmente chapada. Ele não entra muito embaixo para fazer a bola girar, mas, ainda assim, tem um controle muito grande.

Dolgopolov consegue controlar direções muito facilmente, com uma bola mais funda, mais rápida. Não é um backhand clássico, com swing maior. Ele não joga tênis clássico, joga o tênis dele. Na esquerda, consegue se manter perto da linha de base quase o tempo inteiro. O pessoal tenta pressionar e ele consegue controlar mesmo com uma esquerda reta.

Eventualmente, também sabe entrar dentro da quadra e atacar. Isso é talento. Esse swing curto, com tempo mais rápido, facilita muito jogar perto da linha. Atrapalha um pouco na hora de gerar potência, caso tenha uma bola lenta em que ele tenha que recuar um pouco e fazer um golpe mais pesado. Aí, dificulta, mas ele se mexe muito bem e consegue reverter isso.

 

A preparação para o golpe de backhand é muito curta e veloz   A cabeça da raquete vai pouco para trás em um movimento compacto   Em um golpe de ataque, ele tem tempo de pisar com o pé esquerdo na frente
A batida está mais para um "tapa" na bola, chapado   Ele troca a direção da bola facilmente tamanha a habilidade manual   Assim que ele percebe que abriu um "buraco" na defesa adversária, avança

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FOREHAND NA CORRIDA
Ucraniano é capaz de gerar potência com controle com uma terminação nada ortodoxa

A EMPUNHADURA que ele pega não é uma Western acentuada, mas ele usa o mesmo recurso do spin que tenistas como Rafael Nadal, por exemplo. Este é um típico recurso de quem tem uma velocidade muito grande de mão, que dá uma "chicotada" na bola. É uma maneira de conseguir controlar melhor a bola, gerar um pouco mais de topspin e, eventualmente, se deixar equilibrado. Parece um golpe um pouco estranho, justamente pela empunhadura. Todos os jogadores que fazem isso geralmente têm uma empunhadura de Western acentuada. Ele consegue usar o mesmo recurso que esses tenistas. Assim, não é uma terminação clássica.

Este é claramente um recurso de controle de potência. São vários os tenistas que estão fazendo isso. Nadal é o que mais chamou a atenção no início. Mas Dolgopolov não faz a bola girar tanto.

 

    Dolgopolov é muito veloz e cobre bem a quadra, cortando ângulos   Quando a bola se aproxima, as pernas estão separadas, mas já com bom apoio
 
Ele chega na bola com velocidade e gera muita potência no golpe   Ele opta por fazer uma terminação radical para manter bola em quadra  
 

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SLICE DEFENSIVO DE FOREHAND
Dolgopolov é capaz de se defender com controle e precisão com o slice no forehand

ALEXANDR DOLGOPOLOV É MUITO RÁPIDO, leve, ágil na quadra. Tem uma noção muito grande de colocação. Ele se posiciona muito bem e sempre que possível está encurtando caminhos. Assim, tem uma condição de jogar tanto dentro quanto atrás da linha. Este golpe - que para muita gente é difícil de fazer, pois é complicado dar slice em uma bola lá do fundo com controle - ele faz com facilidade.

As pernas estão bem afastadas para alcançar a bola longe. Ele usa uma empunhadura mais voltada para Continental para dar o slice e ter controle defensivo, com menos potência.

Esta é uma bola que ele tem muito controle, que faz várias vezes. Na maioria delas, Dolgopolov consegue fazer o que quer, com a bola funda para poder ter tempo de recuperar posicionamento de quadra.

Ele faz essas coisas com muita naturalidade, pois tem uma condição emocional, uma postura, muito interessante para jogar tênis. Ele consegue estar sempre numa situação de relaxamento, mesmo em intensidade alta. Isso ajuda muito a poder executar o golpe da maneira como ele gosta. Nunca o vi jogando tenso. Às vezes, quando erra, é por excesso, por falta de maturidade.

 

Quando pressionado, o ucraniano muitas vezes opta pelo slice   Ele chega à bola deslizando, de pernas afastadas e empunhadura Continental    

 

Sua rapidez é tanta que ele consegue direcionar o golpe para onde quiser   Ele termina a batida e se reequilibra para recuperar a quadra    
 
Dolgopolov usa o slice de forehand em várias situações, desde o bloqueio no saque ou como uma alternativa para quebra de ritmo

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SAQUE
Mesmo não sendo um tenista extremamente alto,Dolgopolov consegue ter um saque muito veloz

PERCEBA QUE ELE TEM UM TOSS
curto e pega a bola rapidamente na subida, antes de ela chegar ao topo. Isso dificulta muito a leitura do adversário. Ao mesmo tempo, tem uma coordenação muito boa no que diz respeito à impulsão de pernas até o contato. Ele não tem estatura muito grande, mas consegue uma enorme no serviço, com saques abertos a 190 km/h. Para um tenista da altura dele (1,80m) não é uma coisa fácil. Dolgopolov tem uma mão muito rápida e consegue transmitir isso para o saque. Tem uma explosão muito veloz de perna, quadril, ombro, braço. Todo o movimento é muito explosivo, rápido e sincronizado. De certa maneira, parecido com o movimento que Flávio Saretta tinha.

Dolgopolov possui um movimento bem curto no saque   Logo que ele prepara o toss, começa o movimento sincronizado da raquete   Pernas e quadril acompanham o ritmo veloz do saque
O toss é baixo, o que complica a leitura por parte do adversário   Ele "explode" e atinge a bola no ponto máximo de altura   Hábil, ele é capaz de executar tanto um quique quanto um slice

 

O ucraniano executa um movimento de saque extremamente coordenado e explosivo, de difícil leitura
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