O título de 1997 foi um momento de glória para quem batalhava pelo tênis na TV
Fernando Sampaio em 26 de Junho de 2007 às 06:28
FOI EMOCIONANTE ver Guga na premiação em Roland Garros. Confesso que demorei a reconhecê-lo de terno, cabelo curto, barba feita. Ele estava super bem com aquele terno cinza claro, risca de giz e uma gravata bonita. O cinza claro foi muito usado na temporada e é bem adequado para uma tarde de verão. A foto dele entre Nadal e Federer ficou histórica.
Por alguns instantes, vendo Guga ali, lembrei de dois momentos maravilhosos que passei. Em 2000, trabalhando na cobertura da Rede Record, entrevistei Guga na Phillipe Chatrier, logo após a sua vitória. Depois de falar ao vivo para a TV francesa e dos Estados Unidos, com o jornalista Bud Collins, chegou a vez de Guga falar com o Brasil.
Estas primeiras entrevistas acontecem antes da premiação, ainda com a quadra lotada e o áudio sendo transmitido para o estádio. Levei de surpresa um champagne. Fizemos uma festa. Guga abriu a primeira de várias garrafas naquele dia. O fotógrafo, e amigo, Marcelo Ruschel fez a foto. Repetimos a dose em 2001. Desta vez, o repórter Márcio Moron estava na equipe. Guardo comigo até hoje as garrafas vazias. Um dia elas poderão ser vistas no museu do tênis brasileiro. É duro imaginar que dificilmente um brasileiro chegará lá nos próximos anos.
Ruy Viotti, um dos maiores profissionais de TV que conheci, deixou sua marca no tênis. Ele é a voz do tênis. É o locutor que narrou o maior número de conquistas do Guga, incluindo os títulos de Roland Garros. Em 1957, a Tupi do Rio realizou a primeira transmissão de tênis no Brasil. E lá estava Ruy Viotti.
E lá estava Maria Esther Bueno, segundo ele, a maior atleta brasileira de todos os tempos. Depois das conquistas de Maria Esther, Ruy esperou trinta anos para ver o Brasil ganhar outro Grand Slam. E durante a longa espera, lá estava ele, batalhando pelo tênis na TV.
Em 1987, a Koch Tavares passou a transmitir anualmente o Grand Slam pela Manchete. Graças ao apoio de José Ermírio de Moraes, da Votorantim, e Hugo Miguel Etchenique, da Brastemp, o público brasileiro pôde acompanhar os maiores torneios do mundo. A dupla incansável, Luis Felipe Tavares e Ruy Viotti, conseguia manter o tênis na TV aberta, mesmo com a pressão pela audiência. A vitória de Guga em 97 foi um momento de glória para todos que durante anos batalharam pelo tênis. A TV Manchete conseguiu uma audiência estrondosa naquele domingo.
Eu batalhava há quatro anos para colocar um programa sobre bastidores do tênis no SporTV. Desde 1986, produzia material para a televisão aberta. Muitas matérias eram incluídas no programa da ESPN, que era exibido na Manchete aos domingos. Fizemos entrevistas com Mattar, Motta, Wilander, Sabatini, Chang, Villas... E especiais dos bastidores de quase todos os torneios no Brasil.
Com o primeiro título de Guga, o “Bastidores do Tênis” virou realidade. O programa começou em 97 e terminou em 2001. As imagens daqueles tempos dourados estão guardadas com carinho e também estarão à disposição no futuro museu do tênis. Foram anos maravilhosos, compartilhados com heróis como Guga, Meligeni, Oncins, Sá, Acioly, Larri, Bocão e outros que abandonaram suas casas pelo tênis. Afinal, não existe outro caminho. Tempos que convivi com jornalistas como Marcelo Ruschel, Rogério Romera e Diana Gabanyi, profissionais de muito caráter. Saudades.
Volto a olhar a TV. Vejo Guga de terno, caio na real e faço as contas. Se Ruy Viotti esperou trinta anos, eu também posso. Quem sabe aos 77 anos eu tenha o prazer de transmitir pela Jovem Pan a conquista de mais um Grand Slam do Brasil. Quem sabe antes disso!
Fernando Sampaio produz programas para a tevê e boletins para a Rádio Jovem Pan AM. fernandosampaio@jovempan.com.br |