Ter o melhor treinador? Ter talento natural? Onde está o segredo?
Por Javier Palenque em 28 de Setembro de 2015 às 00:00
Sempre me questiono se posso bancar o treinador X ou mandar meus filhos para a academia Y, e se isso seria a forma certa de fazê-los melhorar e alcançar um nível acima do que eles estão hoje. Mas, então uma outra parte de mim (a racional) faz com que eu pense mais nessa situação: quantos novos grandes tenistas surgiram das academias famosas? Ou, quanto novos jogadores os treinadores mais gabaritados produziram recentemente? Não sei, mas não acho que foram muitos, ou eu teria lido a respeito.
Isso então me leva à questão: qual o valor de um técnico de alto nível? Ou de uma academia famosa? Talvez eu possa contratar Rick Macci? Ou alguém como ele. Mas então pergunto: quais foram os últimos produtos de seus ensinamentos? Sou incapaz de responder isso. E o programa de desenvolvimento da federação com recursos ilimitados? Novamente, não me surgem nomes.
Então decido fazer uma cuidadosa análise do que acho que são os componentes dessa charada. O que torna um jogador um campeão? Como essas partes se encaixam? Como isso pode parecer uma tarefa impossível? Como eles estão interligados e como os pais e treinadores podem fazer funcionar?
Muitos de vocês vão concordar, outros discordar, mas, apesar disso, aqui está o meu raciocínio sobre o que forma um campeão:
Treinamento: 20%
Dinheiro: 30%
Talento: 20%
Condições da criança: 20%
Vontade e foco: 10%
Treinamento + dinheiro + esforço + condições + vontade = maior probabilidade de sucesso.
Vamos desmembrar isso um pouco mais para esclarecer essas premissas. Se você vai para uma academia famosa (IMG, por exemplo), vai se beneficiar de experiências e estruturas de primeiro nível que o dinheiro pode pagar, contudo, apenas isso não gera tenistas top. Nos últimos anos, nenhuma estrela surgiu de grandes treinamentos. Esse treinamento não é necessariamente só no tênis, mas na vida e nas habilidades físicas. Então, mesmo que você tenha o melhor treinamento, isso é apenas 20% do mix, de acordo com a premissa. Se o treinamento tivesse uma porcentagem maior, teríamos muitos novos tenistas no top 100 todo ano.
O dinheiro, obviamente, pode proporcionar oportunidades que ninguém tem e pode contratar os melhores treinadores do mundo. Isso é uma grande combinação e pode lhe dar 50% do pacote. Infelizmente, o dinheiro também tira das crianças “a fome e a vontade”, que são ingredientes intangíveis que não se pode comprar. Basta lembrar de Jim Courier, Maria Sharapova, Na Li, Novak Djokovic. Essas pessoas são grandes exemplos de gente com muitos mais “vontade” do que o suporte financeiro que seus pais pôde proporcionar. Viajar, contratar nutricionistas, hotéis, taxas, isso rapidamente se transforma em milhares de dólares. Essa soma logo torna o tênis fora de alcance para cerca de nove em 10 jovens.
O talento inato da criança, na minha opinião, é tão importante quanto o treinador, apesar disso, se o garoto tem pouco talento, ele pode alcançar isso trabalhando duro. John McEnroe parecia que raramente dava duro, já Ivan Lendl trabalhava como uma máquina. Conclusão, atitude vence talento todo o dia.
Da mesma forma, importantes são as condições da criança, que moldam suas vidas adolescentes, como a guerra na Sérvia de Djoko e Ana Ivanovic, por exemplo, ou as altas dívidas da mãe de Na Li, ou a família bem de vida de Rafael Nadal, ou a experiência na Califórnia das irmãs Williams. Essa exposição para o bom ou ruim molda as situações circunstanciais que, por sua vez, moldam o caráter das crianças, que é o combustível para o futuro.
O último ponto, a vontade da criança, é moldado pelas circunstâncias de seus pais e como eles constroem o caráter do filho. Nadal é o melhor exemplo de jogador dentro e fora da quadra. Creio que esse é o componente essencial que pode elevar as probabilidades de uma forma ou de outra. Da mesma forma, essa é a parte menos pensada, apesar de a mais importante para pais e treinadores.
Então, fazendo essa matemática fácil, aqui estão as minhas conclusões:
Portanto, pais, não exagerem no treinamento. Ele é essencial, mas, no esquema geral, é apenas um fator. Treinadores, por favor, avisem os pais que vocês podem proporcionar apenas parte dessa mistura. Ambos devem sentar, conversar, planejar e trabalhar em uníssono para o bem da criança.
A parte mais importante, para mim, é a criança, que conscientemente ou não, controla 50% da mistura. Como pais, temos um ponto nisso também. Estamos trabalhando com uma cultura de excelência para dar às crianças o poder de tomar as melhores decisões? Como sempre digo para meus filhos, quando não estão totalmente comprometidos ou perdendo tempo: “Se você não der 110% todo o tempo, outra pessoa vai. Você controla a maioria da mistura. Decida-se! O que vai fazer?”
Ou como um treinador disse para meu filho: “Lembre-se: bom é o inimigo do ótimo, e você está disposto a pagar o preço para ser campeão?” Pois a maioria das crianças diz que sim, mas não estão, e isso é algo que pais e treinadores têm poder ao moldarem campeões.
Javier Palenque colabora com o site www.tennisconsult.com.
Mais informações: jpalenque@yahoo.com