Quais as causas e como evitar ou tratar aquela dorzinha no cotovelo, que é um dos maiores medos do tenista amador?
Maria Luisa Afonso De André em 13 de Dezembro de 2007 às 10:23
Este tipo de tendinite possui esse nome, mas não é exclusiva de tenistas. Acomete também pessoas que, por esforço repetitivo e vícios posturais, sobrecarregam alguns tendões localizados na região do cotovelo. É patologia freqüente em digitadores. O termo médico é epicondilite lateral.
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O que vem a ser esse mal? Basicamente, trata-se da inflamação dos tendões de músculos que se localizam na parte posterior da mão e do antebraço e que se inserem numa extremidade do osso do braço chamada epicôndilo lateral (ver figura na próxima página). Esse grupo de músculos é responsável por movimentos de extensão e flexão dorsal do punho, pela sua inclinação para o lado do dedo mínimo, por certos movimentos dos dedos e por alguns de torção do antebraço.
Pode ocorrer que uma falha biomecânica num gesto do tênis, freqüentemente no golpe de esquerda (backhand), sobrecarregue essas estruturas e dispare o quadro inflamatório. Outros fatores podem ser tamanho do grip inadequado da raquete (grande ou pequeno demais), segurar a raquete com força excessiva, forçar demais a articulação do punho em extensão ou flexão. Vários desses fatores e mesmo outros não mencionados, podem estar presentes ao mesmo tempo. Muitas vezes, um problema primário localizado em região distante do antebraço pode terminar num tennis elbow.
Quando em tratamento, é interessante diminuir a tensão das cordas e utilizar materiais mais macios para diminuir o impacto |
Caberá a um professor avaliar o que acontece com o tenista no que concerne às questões biomecânicas. Pois não resolve somente recorrer a tratamento médico e fisioterápico se a fonte do problema não for eliminada. Dito isto, é importantíssimo, paralelamente à prescrição de medicamentos quando necessário (evitar infiltrações), um trabalho sério de reabilitação com um fisioterapeuta ou um educador físico especializado em fisioterapia.
Tratamento
Não recomendo o tratamento tradicional, baseado em alongamentos dos tendões e músculos específicos, com posterior fortalecimento dos mesmos. Os aparelhos usados em fisioterapia podem ajudar quando há muita dor e no início do tratamento, mas não são decisivos na recuperação. Minha experiência mostra que o tratamento convencional não é, em geral, muito eficaz e parte de uma concepção equivocada dessa patologia. Já tratei de muitos casos de tennis elbow com sucesso e recuperação total. Existem vários graus de manifestação desse mal, desde pouca inflamação e um pouco de dor, sem perda de força, até muita inflamação e dor, com muita perda de força, e rompimento de poucas ou muitas fibras dos tendões. Em casos de rompimento importante de fibras tendíneas, a cirurgia pode ser necessária.
Ao longo dos anos, desenvolvi meu método próprio de tratar essas tendinites, combinando diversas técnicas. Compõese de manipulações, trações e movimentos de reabilitação, estes baseados no Método Ehrenfried, abordagem fisioterápica desenvolvida na França pela médica alemã de mesmo nome.
Em primeiro lugar, devemos ter em mente que os músculos não funcionam independentemente uns dos outros. Eles o fazem em grupos, ou em cadeias, como dizemos em linguagem técnica. Por isso, tratar a patologia restringindo a atuação terapêutica ao local da manifestação inflamatória e de dor é um grande equívoco. Normalmente, uma pessoa que tem tennis elbow apresentará problemas que virão pelo menos desde o nível do pescoço, passando pelo complexo da clavícula e omoplata, ombro, braço, para só então se manifestar no antebraço. Pelo menos, como eu disse. Porque podem se originar também no tronco, por exemplo. Esses problemas são da ordem de mau alinhamento dos segmentos ósseos, tensão muscular excessiva, musculatura muito rígida e sem elasticidade, desorganização da ação muscular (da maneira como os diversos músculos atuam juntos para movimentar o esqueleto), entre outros fatores.
Continuar praticando?
Além da análise e orientação do professor de tênis e do trabalho de reabilitação mencionado acima, há outros pontos a analisar e sobre os quais decidir. Um deles é: devese ou não interromper a prática do esporte durante o tratamento?
Isso é muito variável e deverá ser decidido com os profissionais que estão tratando do tenista. Nem sempre é preciso parar de jogar. Às vezes, deve-se parar durante uma fase do tratamento. Outras vezes, pode-se simplesmente diminuir o ritmo.
Outro ponto é: deve-se utilizar faixa elástica própria para tennis elbow no caso de continuar jogando? Ela pode ser útil por algum tempo, enquanto a recuperação não tiver atingido certo patamar. Sua função é dar sustentação aos músculos e poupá-los durante o esforço, nada mais do que isso. Se for utilizada como intenção de solucionar o problema, acabará por agravar o quadro.
Alguns cuidados ao se recuperar de um tennis elbow 1- Ajuda, por algum tempo, diminuir a tensão do encordoamento da raquete e utilizar cordas mais macias. Isso diminui o impacto na musculatura atingida. 2- Antes de jogar, fazer aquecimento adequadamente. Atenção especial deve ser dado a ombro, braço, antebraço e punho. 3- Após jogar, fazer alongamentos para o corpo todo e especialmente para a região mencionada acima. 4- Após alongar-se, aplicar gelo sobre a região do tennis elbow (próximo ao cotovelo) e massagear com gelo toda a região onde sente dor (proteger o gelo com um plástico, não aplicá-lo diretamente sobre a pele). O gelo deve ser aplicado de 15 a 20 minutos, não mais do que isso. Quando se solicita a região da lesão ao jogar, o gelo tem o efeito de modular a inflamação, controlar a dor e evitar edemas. Fundamental após jogar. |
Maria Luisa Afonso de André, formada em Educação Física e pós-graduada em fisiologia do exercício pela USP, é especialista em Ginástica Holística e RPG. incorpore@marialuisa.com.br www.marialuisa.com.br |