Robin Soderling sempre teve jogo, mas precisou de sete anos para aprender a usá-lo. Poderá o sueco, às vezes mal humorado, conquistar os fãs?
Tom Perrotta em 17 de Maio de 2010 às 13:43
RUDE. Solitário. Pavio curto. "Não é o melhor cara do vestiário", como bem apontou Rafael Nadal em 2007. Definitivamente um sueco atípico. Essas são as frases que você geralmente ouve falar sobre Robin Soderling. Ele tinha um jogo estranho e parecia que não seria nada mais do que um jogador mediano. Mas a vida desse tenista de ombros largos, 25 anos, vindo de uma cidadezinha da Suécia mudou rapidamente. Antes de Roland Garros 2009, ele era conhecido menos por suas habilidades - golpes fortes e serviço avassalador - e mais pelo que não tinha - constância e footwork.
Apesar do fato de ele ter mais de 1,93m, ser um poço de energia e ter tido uma carreira juvenil brilhante (foi número quatro do mundo e ganhou o Orange Bowl em 2001), não conseguiu passar da terceira rodada de um Grand Slam em 21 tentativas. Até 2008, sua marca era de 11 vitórias e 29 derrotas contra tenistas top 10. Quando o tênis começou a ser jogado mais com velocidade do que com "arte", Soderling foi esquecido até mesmo por aqueles que o apoiaram desde pequeno. "Vinte e um Slams sem passar da terceira rodada é muito pouco para seu potencial", afirmou Jonas Bjorkman, aposentado desde 2008. "Você começa a pensar: o tempo dele está passando?".
Então, quando parecia que nada mais daria certo, aconteceu. Dizer que isso foi o início de seu sucesso seria injusto. Ele não conseguiu apenas "desencalhar", mas também chocar o mundo e mudar a história. Bjorkman descreve seu feito como o mais surpreendente dos últimos 20 anos, ou até mais. Na quarta rodada de Roland Garros, somando 61 winners em quatro sets, ele fez algo inédito: ganhou de Rafael Nadal. Rafa, então número um do mundo, já estava sofrendo com a tendinite no joelho e não pôde dar o seu melhor. Mas, mesmo um dia ruim é um dia excepcional para Nadal no saibro. Em questão de horas, Soderling alterou o curso de sua carreira e mandou o espanhol para casa. Sua derrota para Federer na final ajudou a consagrar o suíço como o maior de todos os tempos.
#Q#"Num jogo de cinco sets, devemos jogar uns 500 pontos e tive que esperar ele (Nadal) se arrumar 499 vezes. Ele me esperou uma única vez e ainda reclamou. Claro que não gostei" |
GRAND SLAM DE SURPRESAS?
O Aberto da França sempre traz surpresas na final, mas estes tenistas raramente conseguem se sustentar (como Gaston Gaudio e Martin Verkerk, por exemplo). Entretanto, não foi isso que aconteceu com Soderling em 2009. Um mês depois de seu grande feito, ele chegou à quarta rodada de Wimbledon, quando perdeu (novamente) para Federer, em três sets. No US Open, o sueco mais uma vez não conseguiu passar pelo suíço. No final do ano, graças à lesão no joelho de Andy Roddick, conseguiu se classificar para o ATP World Tour Finals, no qual desbancou mais uma vez Nadal antes de perder nas semifinais para a revelação Juan Martin del Potro. Em 2008, terminou o ano como número 17. Em 2009, saltou para o top 10 da ATP.
Soderling afirma que não sente maior satisfação por ter feito seu nome em cima do grande Rafael Nadal, com quem não se dá desde o encontro dos dois em Wimbledon de 2007. No início do quinto set - que demorou três dias para ser finalizado - Soderling afirmou que esqueceu momentaneamente que eles estavam jogando com bolas novas e correu para trocar a raquete. Nadal, já pronto para sacar, teve que reiniciar seu ritual, não sem antes gritar sarcasticamente para o desafeto "Bolas novas!". O sueco então voltou à sua posição e imitou as ações - tão peculiares - de Nadal antes de sacar, o que levou a plateia ao delírio. Depois do fim do jogo, vencido pelo espanhol, Nadal sugeriu que o adversário iria para o inferno ("Nós veremos o que vai acontecer no final da vida dele, não é?).
"Não conheço Nadal muito bem, mas ele deve ser um cara legal", afirmou Soderling. "Num jogo de cinco sets, devemos jogar uns 500 pontos e tive que esperar ele se arrumar 499 vezes. Ele me esperou uma única vez e ainda reclamou. Claro que não gostei".
Embora o incidente tenha mostrado a face grosseira de Soderling, Bjorkman acredita que isso também revelou a pessoa que o sueco é. "Muitos garotos ficaram felizes ao ver que ele não se diminuiu frente a Nadal. O espanhol falou um monte de merda durante a entrevista coletiva, e Robin, depois disso, disse que se tivesse problema com alguém, falaria cara a cara, e não através da mídia. Ele é de bom coração, mas tem dificuldades de comportamento às vezes", destacou.
CIDADE PEQUENA
Soderling cresceu em Tibro, uma vila de 10 mil habitantes que fica a cerca de uma hora de Gotemburgo, segunda maior cidade do país, e é descrita como sendo "o centro de móveis da Suécia". A mãe do tenista, Britt-Inge trabalhava na cidade, e seu pai, Bo, um procurador, costumava jogar tênis de mesa. Ele tentou fazer o filho seguir sua paixão, mas Robin preferiu o tênis de campo, também praticado pelo pai. Como qualquer garoto, Soderling ia de bicicleta até o clube local todos os dias após a escola. "Jogava com qualquer um que estivesse lá", contou. "Garotos da minha idade, um pouco mais velhos, adultos, velhos, qualquer um. Passava umas cinco horas por dia".
Mas ele só teve uma ideia do quanto era bom quando passou a integrar o time juvenil do país, aos 11 anos. No início, ganhava muito. Jogando bem nos torneios europeus, logo foi treinar numa academia mais avançada, que ficava a 30 minutos de sua cidade. Soderling afirma que seus pais não o pressionaram para ser bem sucedido. Seu progresso foi tão rápido que, aos 15 anos, parou de estudar, e aos 17 já jogava profissionalmente. Atingindo a maioridade, aos 18 anos, conseguiu vaga para seu primeiro Major, o US Open de 2002, e não passou da primeira rodada.
A partir daí, pouca coisa aconteceu. Nos outros seis anos, Robin foi treinado por Peter Carlsson, que refinou seus golpes, mas fez muito pouco para ajudá-lo a se encaixar no perfil básico de jogador. Soderling sabia se impor sem levar em conta o oponente, mesmo que fosse Roger Federer. Quando os dois se encontraram no torneio de Halle, em 2005, Federer argumentou que o juiz não poderia anular um ponto baseado numa marca na grama. Nervoso, Soderling discutiu com o adversário.
#Q#"VOCÊ ESTÁ AQUI PARA GANHAR, NÃO PARA FAZER AMIGOS"
A abordagem de Carlsson, segundo Bjorkman, era a seguinte: "Você está aqui para ganhar, não para fazer amigos". O tenista aposentado ainda descreve Robin como simpático à mídia sueca, mas essencialmente uma pessoa tímida. Essa timidez e o sentimento de estar sozinho no mundo foram interpretados como indiferença e egoísmo, especialmente na Copa Davis. Lá, Soderling reclamava que não conseguia jogar bem mesmo quando ganhava. "Ele não conseguia entender o time. Para ele, não era uma competição pelo país, mas, sim, um jogo individual", comenta Bjorkman.
Soderling e Carlsson se separaram depois do US Open de 2008. Em seu lugar entrou Magnus Norman, tenista que chegou a ser número dois do mundo. Bjorkman acredita que foi ele quem ajudou Robin a erguer-se. Hoje em dia, o jovem tem menos ataques de fúria, é mais amigável no vestiário e calmo em quadra. "Robin está mais focado. Mesmo se estiver passando por um momento ruim, ele não se deixa afetar", afirma Norman. Além disso, segundo o treinador, o pupilo aprendeu outra coisa: "é importante fazer amizades com outros tenistas, para sentir-se confortável".
O sueco surge OS MAIORES TENISTAS DA SUÉCIA GOSTAM DO QUE VÊEM EM SODERLING Por Peter Bodo "O sucesso de Robin pegou todos na Suécia de surpresa", afirma Stefan Edberg, campeão de diversos Grand Slams, que teve seus anos de glória durante a década de 1980. "Parece que as pessoas estão começando a falar sobre tênis novamente, e muito. Como já fomos bem sucedidos uma vez, temos fome por mais". Você não pode culpar os suecos por terem suas expectativas saciadas por muitos anos. Bjorn Borg foi um boom de um homem só, inspirando esforços nacionais que se resumiram em sucesso nas categorias de base. Os inúmeros tenistas que vieram após Borg durante os anos 80 - como Mats Wilander, Stefan Edberg, Henrick Sundstrom, Anders Jarryd e Mikael Pernfors - saíram todos de clubes pequenos, onde o tênis era acessível. Borg ganhou 11 Grand Slams desde 1974. Dois de seus sucessores, Wilander e Edberg, também chegaram ao topo do ranking da ATP e conquistaram 13 Majors no total. Acrescentando o título do Australian Open que Tomas Johansson ganhou em 2002, a soma total de títulos dos suecos chega a 25 Majors em simples, junto com outros tantos de duplas. Amantes da Copa Davis, a Suécia triunfou seis vezes entre as décadas de 1980 e 90. Porém, na metade da última década, o mar de talentos pareceu ter findado, deixando a cargo de Jonas Bjorkman o sucesso azul e amarelo. Apesar de Bjorkman ter chegado a ser número quatro em simples, ele era melhor em duplas, modalidade na qual ganhou nove títulos de Slam. Agora, os suecos têm um novo motivo para clamar pelo sucesso nos jogos simples. Será que Soderling consegue se tornar o primeiro sueco a vencer um Major na década? "Ele tem potencial para isso", afirma Edberg. "Ele tem serviço e golpes fortes, além de boas devoluções. Mas ainda precisa tomar a vantagem de seus adversários quando tiver a chance, e arriscar mais". Quando um monstro do saque-e-voleio como Edberg aponta isso, ele quer dizer: ele precisa ir à rede mais vezes. Jarryd, por sua vez, acredita que "para Robin competir de maneira mais regular, ele precisa chegar mais vezes à rede. Ele não precisa jogar como voleador, isso não é com ele. Mas tem que mostrar ao oponente que, se for preciso, vai até a rede e faz o trabalho bem feito". A tarefa de Soderling é juntar as peças. Como afirma Jarryd, "ele é mais paciente agora. Não tenta matar a jogada na primeira devolução". Mas, algumas vezes, segura a jogada demais. Durante o ATP World Tour Finals, em dezembro, Soderling deixou Del Potro virar o jogo e chegar à final. "Ele basicamente estragou tudo", diz Edberg. "Robin permitiu que Del Potro voltasse ao jogo depois de ter tudo sob controle. Não devemos ser tão duros com um garoto, principalmente com quem não tem tanta experiência, mas aquela foi uma grande oportunidade que ele deixou passar. E nesse jogo, as oportunidades são cruciais". "Robin não é um sueco típico", garante Jarryd. "Assim como ele, tenho um temperamento difícil. E por causa disso, oscilava bastante em meu jogo. Acho que ele conseguiu driblar esse problema muito bem, descobrindo maneiras de se autocontrolar e manter-se calmo". Em outras palavras, o vento pode estar soprando a favor do tênis sueco. |
"Soderling tem serviço e golpes fortes, além de boas devoluções. Mas ainda precisa tomar a vantagem de seus adversários quando tiver a chance, e arriscar mais" - Stefan Edberg" |
Com todo esse sucesso, Norman não acredita que tenha tido grande papel na ascensão de Soderling. Ele diz que Carlsson e Ali Ghelem, preparador físico do tenista, merecem o crédito. O sueco nunca será descrito como gracioso - ele parece galopar quando corre em direção à bola - mas seus movimentos são melhores do que parecem. Apesar de seu forehand ser longo e tenso, ele consegue encaixá-lo no momento certo, principalmente em quadras rápidas e duras, onde joga seu melhor tênis. Quando está servindo também se mostra bastante confiante, com saque potente, apesar do toss extremamente alto.
SUECO GENTE BOA?
E como o sucesso traz consigo expectativas, Soderling até o momento não teve problemas em lidar com elas. Após Roland Garros, ele passou a ser usuário assíduo do Twitter e conseguiu chegar à marca dos 2.200 seguidores em janeiro de 2010 (a maioria deles não eram suecos). Robin pode ser divertido e até palhaço quando escreve para seus fãs. Após avançar para as quartas-de-final do US Open, quando encontraria Federer, escreveu: "Deitado na cama comento pizza, tomando coca-cola e chupando balinhas como jantar. Sei que não é recomendado, mas mereço isso!".
Aos 25 anos, Soderling pode ter muito mais para celebrar no futuro. Primeiro porque irá casar com Jenni Mostrom, uma sueca que joga golfe pela Nova Southeastern University, em Fort Lauderdale, Flórida (os dois ainda não marcaram a data do casamento). Depois, porque se tudo sair como planejado, ele ganhará um Grand Slam. Assim como Del Potro provou em Flushing Meadows, jogadores grandes - ele foi o campeão mais alto da história dos Grand Slams - ainda podem ser bem sucedidos, apesar da sequência de sucessos de jogadores rápidos como Nadal, Novak Djokovic, Andy Murray e, em algum grau, Federer. "Robin agora consegue entender que o jogo dele é bom o bastante para vencer", diz Bjorkman. E isso não vai demorar a acontecer.
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