O ano de Nadal

Como de praxe ao fim de toda a temporada, a Revista TÊNIS foi buscar a opinião de especialistas para definir os "melhores de 2008". Ouvimos jornalistas, técnicos e personalidades do esporte e, para todos eles, uma única categoria foi unânime, assim como nos quatro anos anteriores: melhor tenista masculino do ano.

E se Roger Federer foi, por quatro anos, quesito tão intocável nesta pesquisa que sequer ousamos perguntar quem era o melhor do ano, mas se já poderia ser considerado o melhor da história, desta vez, ele foi destronado, e com autoridade, por Rafael Nadal. O espanhol recebeu todos os votos dos 24 especialistas ouvidos. E, para a maioria dos entrevistados, a vitória do "Touro" em Wimbledon foi o fato que marcou a temporada. Não é para menos, pois foi ali que ele "determinou" a mudança de mãos do número um do mundo. Foi o que os norte-americanos chamam de "turning point" (ponto de virada) da temporada.

"Os títulos em Wimbledon e Roland Garros já justificariam dizer que ele foi o melhor. A medalha de ouro em Pequim e o número um ainda completaram o grande ano", comentou Dácio Campos, comentarista do Sportv. "Nadal conseguiu sair de uma segunda posição que parecia eterna, para ser o indiscutível número um do mundo, especialmente pela vitória em Roland Garros e Wimbledon", afirmou Paulo Cleto, ex-capitão da Copa Davis.

Votos* Nem todos os especialistas votaram em todas as categorias Melhor jogador de 2008 Rafael Nadal - 24

Mulheres

No entanto, se Nadal foi unanimidade, escolher a melhor tenista de 2008 não foi tarefa simples. Sem Justine Henin, que se aposentou pouco antes de Roland Garros, o circuito feminino não conseguiu encontrar uma digna sucessora, que dominasse os torneios, que se impusesse sobre as outras. A disputa ficou entre Ana Ivanovic, Jelena Jankovic e as irmãs Williams. Maria Sharapova, lesionada, acabou ficando de fora.

Apesar de terminar em primeiro lugar, Jankovic foi olhada com suspeição pelos especialistas e empatou com Serena Williams em votos. Venus veio logo atrás. Entre os que prefeririam a sérvia está Eduardo Puppo, editor da revista Solo Tenis, da Argentina: "Em um ano muito equilibrado e sem rumos para o tênis feminino, foi ela quem fez as coisas melhor para ficar em primeiro lugar".

Outra que defende Jankovic é professora Suzana Silva: "Hoje as pessoas reclamam que o tênis está muito frio, muito profissional, mas, quando chega uma menina que joga sorrindo, falam em arrogância. O prazer que ela demonstra em quadra é muito legal, eu tento passar isso para meus alunos". Grande parte dos entrevistados também ficou com Serena.

"Depois da recuperação fantástica em 2007 (chegou a 140ª em 2006), este ano foi a consolidação da norte-americana entre os grandes nomes da história - com novo título no US Open e breve retorno ao número um", garantiu Pedro Carvalho, da revista Pro Ténis, de Portugal. "Jogou bem menos torneios que as demais, só 13. Metade dos que a Jankovic, por exemplo, e ganhou um Grand Slam. Como resultado geral da temporada, Serena foi muito mais feliz o ano inteiro", assegurou José Nilton Dalcim, editor do site TenisBrasil.

#Q#

Revelações

Outras disputas interessantes foram pela indicação das revelações da temporada. No masculino, o argentino Juan Martin del Potro acabou levando a melhor sobre os franceses Jo-Wilfried Tsonga e Gilles Simon. Para o treinador Leonardo Azevedo, a escolha do argentino é simples: "Ele conseguiu fazer uma coisa que poucos fazem: ganhou quatro ATPs seguidos". Quem concorda é Chiquinho Leite Moreira, do Estado de S. Paulo: "Seu sucesso já era esperado e ele teve um segundo semestre invejável. Revelou-se como vencedor".

Outros, como o jornalista francês Georges Homsi, preferiram a prata da casa, Tsonga, e deu sua justificativa (fora o coração): "Apesar de ficar quatro meses afastado por lesão, conseguiu se qualificar para a Masters Cup. Tem enorme potencial". Outro que fica com o francês é Alexandre Cossenza, do GloboEsporte.com: "Minha escolha é mais pela surpresa do que pela revelação. O começo na Austrália, com o vice-campeonato, e o final em Paris (foi campeão do Masters Series) e na Masters Cup o credenciam para isso".

No feminino, a disputa foi ainda mais acirrada. Entre as mais lembradas, a dinamarquesa Caroline Wozniacki, a francesa Alize Cornet e a polonesa Agnieszka Radwanska acabaram sucumbindo diante da russa Dinara Safina. "Nesta temporada, ela deixou de ser a irmã mais nova de Marat", lembrou Regis Andaku, colunista da Folha de S. Paulo, que compartilha a mesma opinião do empresário José Salibi Neto. Entre os que preferiram a juventude da francesinha Alize Cornet, estão Fernando Meligeni e os treinadores Edvaldo Oliveira e Otávio Della, que diz: "Sua ascensão no ranking foi incrível e já é top 20". Outros, como Chiquinho Leite Moreira, optaram pela bela Caroline Wozniacki: "Nasce uma nova estrela, uma nova musa, com indiscutível talento e bons resultados". Por fim, Agnieszka Radwanska também foi lembrada. "Foi uma sensação. Dos novos, foi a que realmente conseguiu entrar ali no topo", afirma José Nilton Dalcim.

Brasil Homens

A enquete seguiu então para questões nacionais. Quem seria o melhor tenista brasileiro em 2008? Como a dupla de André Sá e Marcelo Melo fez grande sucesso, deixamos que os especialistas indicassem os dois, mas, mesmo com tudo o que eles alcançaram nesta temporada, a maioria acabou preferindo apontar o jovem Thomaz Bellucci, grande promessa do nosso tênis.

#Q#

"Por ser um tenista jovem, sua ascensão foi muito boa. Além disso, Bellucci foi o que teve melhores resultados e ainda deu trabalho a Nadal em Roland Garros", lembrou o treinador Marcelo Meyer. "Ele saiu de quase 200 no ranking para chegar a 60. Apesar de ser uma grande aposta, não gerava a expectativa de subir tão rápido", justificou o técnico Mauro Menezes. Entre os que ficaram com Melo e Sá estão Fernando Sampaio, da rádio Jovem Pan, Fabrizio Gallas, colunista do Lancenet, e o treinador Carlos Omaki. "Os resultados falam tudo. Eles foram quem melhor representou o tênis brasileiro nos maiores torneios", destaca Sampaio. "Espero que em 2009 tenhamos uma escolha mais difícil ainda, com o Bruno Soares na lista", diz Omaki.

No quesito revelações, os entrevistados lembraram de João Souza, Daniel Dutra, entre outros, mas o preferido foi Ricardo Hocevar. O jovem recebeu votos de gente de peso, como os treinadores Eduardo Eche, Leonardo Azevedo, Carlos Alberto Kirmayr e os jornalistas Erick Castelhero, editor da Gazeta Esportiva.net, e José Nilton Dalcim."Ele teve bons resultados, vem trabalhando, como todos, mais foi um dos que mais ganhou", acredita Kirmayr. "Ele é a revelação e merecida. É o cara que melhor e mais trabalha na nova geração, o mais interessado e mais dedicado. Para mim, não podia ser um cara melhor", garante Meligeni.

Brasil mulheres

Para escolher a de maior destaque entre as nossas meninas, os especialistas precisaram pensar um pouco mais, mas quem levou o prêmio de melhor do ano e também de revelação foi a paulista Vivian Segnini, nossa atual número um. "É muito difícil para as meninas no Brasil. Não temos torneios e elas são obrigadas a sair sozinhas por aí. A história da Vivian é muito bonita, de superação. Saiu de sua cidade, junto com seu treinador, e viajou "na raça" para alguns torneios na Europa. Se falta apoio, também falta esta força de nossos tenistas", lembrou Suzana Silva.

Entre outras jovens, Fernanda Hermenegildo também foi lembrada. "Pelos resultado nos torneios Futures, acho que ela merece esse voto", diz Mauro Menezes. Paula Gonçalves também mereceu menção. "Ela tem uma baita atitude. Trabalha bem e está 'comendo saibro'", afirma Meligeni.

Fato marcante

Como era de se esperar, o fato que marcou o ano para a maioria dos especialistas foi a vitória de Nadal em Wimbledon. Quando todos acreditavam que Federer venceria o torneio inglês pela sexta vez e bateria o recorde de Bjorn Borg, o espanhol o impediu. Tal feito mudou os rumos da temporada e garantiu ao "Touro" assumir o número um após as Olimpíadas.

Sendo assim, aproveitamos ainda para perguntar se a final do Aberto da Inglaterra foi o melhor jogo da história na visão de cada entrevistado. Aí, as opiniões se dividiram. Para Maretake Takagi, editor da revista Tennis Classic, do Japão, sim, esta foi a melhor partida da história: "Um jogador que estava há muito tempo como número dois venceu outro que estava há muito tempo como número um, em cinco sets, e era favorito".

"Foi o melhor que já vi. Federer estava incrível. E ainda assim perdeu. O que dizer do nível de Nadal? E o suspense foi sensacional de lado a lado. Nadal ganhou depois de ter match-points no quarto set", lembra Georges Homsi. Pedro Carvalho segue com o pensamento: "Foi o melhor jogo, acima de tudo pela emoção. Se tivesse durado uns minutos mais, o encontro terminaria somente na segunda-feira e aí, independentemente do resultado final, acredito que seria apenas e só mais uma final de Wimbledon". "Foi uma partida épica. Pura emoção por horas e horas, com público de olhares vidrados nas arquibancadas e recordes de audiência em todo o planeta", diz Chiquinho Leite Moreira.

Outros especialistas, contudo, ainda apontam a histórica final entre Borg e John McEnroe em 1980, como o fiel desta balança. "Nos meus 50 anos de tênis, foi um dos melhores que já vi, sem dúvida. Mas McEnroe e Borg foi o melhor", diz Marcelo Meyer. Otávio Della concorda: "Eles deram um show em 80". Fernando Sampaio é da mesma opinião: "Diria que é um dos maiores jogos da história, mas não o melhor. Borg e Mac foi, sem dúvida, o mais impressionante". "Não coloco como o melhor jogo, mas como um dos melhores. Em matéria de audiência, por incrível que pareça, Borg e Mac foi visto por mais gente", garante Dácio Campos.

#Q#

Para Paulo Cleto, "não dá pra dizer que foi o melhor, mas, com certeza, foi um dos mais emocionantes que já assisti. Não só pela qualidade dos dois, mas pela circunstância. Havia um tenista que estava fora de sua quadra favorita, tentando evitar a sexta vitória seguida do outro. Tinha muita coisa em jogo e os dois jogaram em um padrão de qualidade muito alto". Já José Nilton Dalcim diz: "Melhor jogo da história não, mas certamente colocaria entre os dez melhores de todos os tempos, fácil. Se não foi a melhor, foi a segunda grande final de Wimbledon de todos os tempos. O nível técnico foi muito alto, tinha todos os ingredientes possíveis de um grande jogo de tênis".

Decepção

No tocante aos acontecimentos que os especialistas lamentaram nesta temporada, o principal fato foi a aposentadoria precoce de Justine Henin. A belga, então número um do mundo, surpreendeu e decidiu abandonar o tênis alegando apenas que queria ser feliz fora das quadras. "Uma tenista com a qualidade dela (Henin) sempre deve continuar. O esporte está carente de grandes talentos. Quando um atleta deste nível deixa de competir, faz uma falta muito grande", alega Mauro Menezes. "Ela ainda vai se arrepender, pois nasceu para isto e, ao invés de aproveitar o dom que Deus lhe deu, fica dando desculpas para não jogar mais", lamenta José Salibi Neto. Outros, no entanto, apontaram a derrota Argentina na final da Copa Davis contra a Espanha (sem Nadal) como algo decepcionante.

"É irônico, mas sofremos ao ver a Argentina perder", diz Régis Andaku. "Torci por eles. Faria um bem danado um time sul-americano tirar um pouquinho da supremacia dos europeus. Gostaria que eles tivessem ganhado, especialmente pelo momento", falou Paulo Cleto. Alguns, como Alexandre Cossenza, ainda comentaram a lesão de Maria Sharapova, que a impediu de jogar desde agosto: "Ela teve um excelente começo de ano. Todo mundo começou a acreditar que faria uma grande temporada, que dominaria o circuito. Porém, sua contusão no ombro frustrou a todos".

Beleza

A Revista TÊNIS aproveitou ainda para questionar quais seriam os tenistas mais bonitos do circuito. Entre as mulheres, a nova musa, Ana Ivanovic, ganhou com folga. "Ela é tudo de bom", alega Fernando Sampaio. "Simpatia, alegria, beleza. Ela é tudo isso em uma mulher só", atesta Dácio Campos. A contundida Maria Sharapova também ganhou votos, assim como Elena Dementieva, Caroline Wozniacki e Ashley Harkleroad, que posou para a Playboy norte-americana em setembro.

Entre os galãs do circuito masculino, deu Federer, mais por sua elegância talvez, do que por seus atributos físicos. "Sempre elegante, sempre bem arrumado", diz Otávio Della. "Conjugando elegância no tênis jogado, fico com o Federer", conta Pedro Carvalho. Além do suíço, figuram na lista Marat Safin, Feliciano Lopez, Carlos Moyá, Andy Roddick e o invejado Fernando Verdasco, namorado de Ivanovic.

#Q#

Número um em 2009!

Outra questão aos especialistas foi: "Quem terminará 2009 como número um?" Apesar de Nadal ter finalizado esta temporada bem à frente e de Novak Djokovic e Andy Murray estarem apertando o cerco, a maioria dos ouvidos aposta suas fichas na volta triunfante do suíço. "O lugar dele é ali. Federer volta a ser número um em 2009", aponta Dácio Campos. "Ele vai ter tempo para descansar", afirma Meligeni. Entre as mulheres, os entrevistados crêem que a briga será boa pelo primeiro lugar também em 2009. A preferida da maioria é Sharapova, mas Jankovic, Serena e Ivanovic também foram citadas. "Descansada, recuperada de contusão, ela (Sharapova) vem com tudo. Volta e reassume a liderança", garante Otávio Della. Já Meyer aponta a permanência de Jankovic: "O tênis feminino está muito igual. Pela regularidade, acho que a Jankovic mantém o número um".

#Q#

Brasil no top 100!

A última questão de nossa enquete foi: "O Brasil termina com jogadores no top 100 em 2009?" Nossos especialistas foram unânimes em dizer que sim no masculino e não no feminino. As principais apostas para encerrar a próxima temporada entre os 100 primeiros são Thomaz Bellucci, Marcos Daniel, Thiago Alves e João Olavo Souza. "Acredito no Feijão, no Bellucci, no Thiago e no Daniel. Além disso, o André Miele vai aprender mais e chegar mais perto, o Hocevar também", planeja Edvaldo Oliveira.

Sem uma menina entre as 300 melhores, nosso tênis feminino ainda é visto com desconfiança pelos especialistas. "Precisamos de muita coisa ainda. Se continuarmos desse jeito, não vejo o Brasil com uma top 100 nos próximos três anos", lamenta Suzana Silva, que compartilha opinião com Alexandre Cossenza. José Nilton Dalcim fala de sua desilusão: "Nenhuma expectativa entre as mulheres. Se conseguíssemos colocar uma entre as 200 já seria uma glória".