Na companhia da dama do tênis: Saiba como 1ª professora foi capaz de reconhecer o talento de Djokovic e ajudá-lo a subir ao topo

Entender a história de Jelena Gencic e sua importância para a vida de Nole

Por Blaza Popovic em 23 de Outubro de 2015 às 00:00

Kopaonik – “pulmões da Sérvia”, como é habitualmente chamado – é o maior e mais conhecido centro de esqui da Sérvia e oferece o ano inteiro condições ideais para recreação e a prática do esporte. Os pais de Novak Djokovic se conheceram nessa pista. Depois de casados, adquiriram uma pizzaria na montanha, e a família passava o inverno e dois meses do verão administrando o negócio, treinando e esquiando.

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Não por acaso, Novak, atualmente, e com frequência, cita em entrevistas que, além do tênis e do futebol, o esqui é um dos seus esportes preferidos, pois, apesar de uma modalidade individual, foi a alavanca para sua paixão por esportes em geral e pela profissão que hoje exerce.

Como ele mesmo afirma em um tom de reminiscência, como que relembrando o rumo dos acontecimentos que marcaram boa parte de sua vida: “Kopaonik é a montanha onde tudo começou para nós. Lá, meu irmão e eu demos os primeiros passos em direção ao tênis Essa montanha tem um significado muito especial para nós e nossas carreiras, para nossas vidas”.

“Naquele tempo (anos 1990- 1991), a uns 50, 100 metros à frente do nosso restaurante teve início a construção das quadras de tênis”, lembra Dijana, mãe de Novak. “Novak observava como os profissionais trabalhavam e começou a mostrar certo interesse. Ajudava-os, levava-lhes refresco, brincava com eles e, quando a construção chegou ao fim, as quadras começaram a receber seus primeiros frequentadores. Ele tinha 4 anos e manifestou vontade de tentar”. A quadra de tênis, à época, era dirigida por Jelena Gencic que, de diferentes maneiras, esteve presente no esporte da Iugoslávia, e posteriormente da Sérvia, por mais de seis décadas. É praticamente a partir do seu nome que começa a lenda do tênis ligada a Novak Djokovic.

“A maior influência na minha carreira, sem dúvida, foi Jelena Gencic”, afirmou Djokovic. Acima, imagem dele treinando em Kopaonik

Atleta e educadora

É preciso ressaltar, antes de tudo, que, quando falamos de Jelena Gencic, referimo-nos a uma pessoa ímpar, no mais amplo significado da palavra. Natural de Belgrado, foi campeã de tênis da Iugoslávia por 32 vezes, em todas as categorias, e, como capitã de todas as seleções femininas da Iugoslávia, conquistou o quarto lugar na Fed Cup, realizada em São Paulo, no Clube Pinheiros, em 1984. Foi presidente da Associação de Tênis da Iugoslávia e do clube de tênis Partizan e, hoje, é presidente do Clube Real de Tênis, sob os auspícios do príncipe Aleksandar Karadjordjevic. Além de tênis, Jelena também praticou handebol. Foi goleira da seleção da Iugoslávia e, no mundial de 1957, realizado na Iugoslávia, ganhou a medalha de bronze. Concluiu o ensino médio em Música, com especialização em Piano; formou-se em História das Artes e trabalhou na televisão de Belgrado desde a sua inauguração como assistente de direção e diretora de vários programas, de jornalismo diário a documentários.

Interessante notar que, ao longo da sua carreira na televisão, chegou a atuar na equipe de programas escolares (mas nunca em esportivos), e, em um deles, levou ao estúdio um menino que estava treinando na época. Quando lhe foi perguntado se tinha tempo para brincar, respondeu que brincava à noite e, durante o dia, frequentava a escola e os treinos. Para ele, o tênis era brincadeira ou obrigação? Obrigação. E qual era seu objetivo em relação ao tênis: “Tornar-me campeão”. O nome do menino, obviamente, era Novak Djokovic.

Em parte da entrevista que Novak deu ao jornal britânico The Guardian, em janeiro de 2008, depois do seu primeiro triunfo no torneio Aberto da Austrália, pode-se ter uma noção de quanto Jelena foi importante ao seu desenvolvimento como tenista: “A maior influência na minha carreira, sem dúvida, foi Jelena Gencic. Ninguém na minha família jogava tênis, ela me passou o enorme amor por esse esporte e me ensinou os primeiros golpes. Posso dizer que ela é a minha mãe tenista”.

"Além do dom natural, ambos possuíam vontade e motivação sobre-humanas ao sucesso, além de disciplina, esforço e concentração". Foto: Divulgação

Reconhecer talentos

Jelena merece mérito não apenas pelo reconhecimento do talento de Novak Djokovic. Além de técnica, essa dama é também uma educadora esportiva, possivelmente a única no mundo que teve oportunidade de treinar cinco tenistas cuja característica em comum é o fato de, em um determinado momento de suas carreiras, terem sido campeões de torneios Grand Slam. Antes de Novak Djokovic, ela colaborou, com sucesso, com o campeão Goran Ivanisevic, Monica Seles, vencedora por nove vezes desses torneios, e também com duas campeãs de Roland Garros, Mima Jausovec e Iva Majoli.

Vale lembrar aqui um fato impressionante. Na época em que Novak Djokovic e Jelena Gencic se encontraram pela primeira vez como aluno e técnica, Monica Seles (que naquele tempo ainda atuava sob a bandeira da República Socialista da Iugoslávia) foi forçada a se retirar do tênis depois de ser agredida a facadas, em um torneio em Hamburgo em 1993, por um fã obcecado por Steffi Graf. Com relação a esses dois tenistas, reconhecidamente talentosos desde a infância, sua primeira treinadora é inequívoca: “Em Novak e em Monica, imediatamente desde o primeiro treino, enxerguei que seriam jogadores para o topo do mundo”. Ela lembra ainda que, também comum entre Seles e Djokovic, era o fato de que, além do dom natural, ambos possuíam vontade e motivação sobre-humanas ao sucesso, além de disciplina, esforço e concentração.

Na última década do século XX, quando Djokovic conheceu Jelena, o panorama não era dos melhores. A Sérvia, demolida pelas guerras civis e sob o regime de Milosevic, encontrava-se em uma péssima situação econômica e política, e, graças às sanções das Nações Unidas, totalmente isolada do resto do mundo.

Por conta do negócio da família, Djokovic passava longas temporadas em Kopaonik. Aos 6 anos, dispunha de muito tempo livre e ficava, diariamente, diante da cerca das quadras de tênis. Enquanto as outras crianças treinavam, ele ficava sozinho do lado de fora, observando-as.

Os dias foram passando, até que Jelena Gencic percebeu a atenção com que o menino ouvia tudo o que falava aos alunos. Então, certo dia aproximou-se e lhe perguntou seu nome e se sabia de que esporte se tratava. Ele disse o nome a ela e respondeu que o esporte era tênis; disse ainda que sabia disso porque já havia pegado em uma raquete. Jelena então lhe perguntou se gostaria de se juntar aos seus alunos e treinar no dia seguinte, ao que Djokovic respondeu: “Estava esperando que a senhora me convidasse”.

No dia seguinte, Novak chegou meia hora antes do início da aula. Jelena o viu da janela do seu quarto esperando os outros aparecerem, e o fato de não estar sentado mostrava claramente quão impaciente estava para começar o treino. Quando se juntou a ele e comentou que havia chegado um pouco mais cedo, Novak respondeu que não, mas, quando ela olhou secretamente dentro da sua bolsa, ficou surpresa, tudo ali dentro encontrava-se alinhado “com perfeição”, raquete, toalha, munhequeira, banana, garrafinha de água. Arrumadíssimo. De imediato, pensou que a mãe o teria ajudado (o que Novak, mais tarde, confessou ser em parte verdadeiro), mas, naquele dia, ele respondeu: “Por que mamãe arrumaria minha bolsa? Eu quero ser tenista, não ela”. Então, Jelena quis saber onde aprendera a fazer aquilo, e, como resposta, ouviu: “É assim que Sampras e Agassi fazem, assisti na televisão”.

Apenas com algumas sessões de treino Jelena Gencic reconheceu o grande talento de Djokovic − sua concentração excepcional, reações instantâneas, excelente mobilidade e o alto grau daquilo que é o mais difícil, porém de extrema importância, a visualização. Quando ela disse que o bom jogador deve antecipadamente programar como vai realizar seu ponto, Novak simplesmente perguntou: “Jeco, a senhora se refere ao espaço vazio?”. Jelena respondeu que sim.

“Naquele instante, sabia que ele era realmente um dos meus. Desde o primeiro momento absorvia cada palavra minha como se dela dependesse sua vida. Por tudo o que possuía, principalmente por sua decisão, vi que carregava o dom divino.”


“O modo como uma criança joga tênis com 6 ou 7 anos de idade é como jogará a vida inteira. Obviamente, a técnica será desenvolvida com o tempo, mas a compreensão essencial do tênis permanece sempre a mesma”

"Novak não queria perder nenhum minuto do treino, desejava aproveitar tudo que viesse em benefício de sua aprendizagem"

Confiança

Pouco tempo depois, Jelena foi conhecer os pais de Novak, e a primeira coisa que lhes disse foi o mesmo que havia dito aos pais de Monica Seles: “Façam tudo para dar ao seu filho um bom desenvolvimento, porque em algum momento ele vai se tornar o melhor tenista do mundo”. Ela ainda se lembra da leve descrença no rosto deles, mas também de que passaram a confiar nela totalmente quando descobriram que tinha grande mérito na formação de Monica Seles. E, mais vivamente, recorda-se de que Novak estava presente naquela conversa. Enquanto falava com Srdjan e Dijana, ele se aproximava com passos curtos e, quando ouviu que figuraria entre os primeiros dez tenistas do mundo, agarrou-se a ela totalmente. Naquele momento, o gesto foi quase imperceptível, mas, hoje, é a prova da ligação profissional e emotiva entre o aluno e a treinadora.

O futuro tenista Novak Djokovic sentiu que podia confiar na tenista sênior Jelena Gencic. Pressentiu que com ela poderia desenvolver seu talento e, sem dúvida, essa confiança foi uma grande alavanca. Por outro lado, Jelena ganhou uma criança ímpar, com a qual pôde trabalhar de forma admirável: “Sabemos que o modo como uma criança joga tênis com 6 ou 7 anos de idade é como jogará a vida inteira. Obviamente, a técnica será desenvolvida com o tempo, mas a compreensão essencial do tênis permanece sempre a mesma”.

Para a prática profissional de um esporte, é indispensável que tudo fique esclarecido desde o início, e uma das coisas mais importantes – senão a mais importante – no esporte é a cooperação dos pais do potencial campeão. Jelena Gencic era uma das técnicas que permitia a presença deles nos treinos, mas não a interferência nos acontecimentos. “Sempre sugiro aos pais: se sentirem que sua presença representa um peso e incomoda seu filho, vamos juntos detectar as razões. Há crianças que jogam mais facilmente se alguém da família estiver presente durante o treino, e para mim isso é maravilhoso. A princípio, gosto quando os pais estão presentes, porque assim podem ver o que seu filho faz na quadra, como se desenvolve e do que ainda necessita”. Mas quando os pais são mais ambiciosos que os filhos, isso é um obstáculo intransponível. Gencic, como treinadora, enfatiza exatamente esse tipo de problema: “Vocês nem sabem quantas crianças frustradas há, que não vão sozinhas aos treinos, e, muitas vezes, nem querem ir, mas acabam sendo levadas pelos pais”.

Jelena Gencic era uma das técnicas que permitia a presença dos pais nos treinos, mas não a interferência nos acontecimentos

“Quando esses pais vêm a mim, minha primeira pergunta é o que esperam do seu filho. Alguns dizem que desejam que ele jogue no torneio de Wimbledon em dois ou três anos. Respondo que isso é um grande equívoco, que essa possibilidade simplesmente não existe, porque somente depois de 12 ou 13 anos de idade é que se pode pensar sobre isso. Então, eles me indagam se sou normal, ao que respondo: ‘eu sou, mas a questão é se vocês são’”.

A influência dos pais

A história do tênis, e também de muitos outros esportes, mostra o nível e o tipo de influência dos pais no desenvolvimento dos jovens jogadores. Por vezes, isso vai tão longe que depende praticamente deles se o filho será um profissional de sucesso ou um bom recreador. Nesse sentido, Jelena Gencic lembra-se muito bem de seus principiantes que mais tarde alcançaram o topo do tênis.

“Goran Ivanisevic ficou famoso pela imagem de menino bravo, mas nunca tive problemas com ele. De imediato, percebi que era carente, que era preciso lhe dar carinho e nunca dizer palavras rudes – esse é o meu princípio. Sempre digo ‘isto está bom, mas precisamos trabalhar um pouco mais naquele outro ponto’. Lembro-me de que disse aos seus pais: ‘Vocês têm uma criança maravilhosa, mas precisam ficar de lado e deixá-la em paz’. Ele tinha muito medo do pai, militar, de olhar severo e cruel”.

No caso de Iva Majoli, campeã de Roland Garros em 1997, a situação era diferente. “Notei Iva Majoli num torneio na Istra; treinava com o irmão e a irmã, e era a mais nova. Disse aos seus pais que prestassem atenção nela, pois era a mais talentosa. Tempos depois, seu pai, que era taxista, me ligou de Zagreb. Ele me explicou que não tinha mais dinheiro e queria saber se eu poderia ajudar em algo. Liguei para Nick Bollettieri, que gratuitamente hospedou Iva, sua mãe e seus irmãos em sua academia na Flórida”.

O terceiro e provavelmente mais interessante exemplo da cooperação na relação família-jogador-treinador foi o caso de Monica Seles e seu pai, Karolj Seles, que, como Gencic se recorda, vinte anos atrás implementou “métodos científicos” no trabalho com sua filha.

“Certa noite, à uma e meia da madrugada, ele me ligou. A princípio, fiquei preocupada, pensando que algo pudesse ter acontecido. Ele me disse: ‘Pegue caneta e papel’. Em seguida, começou a me dizer a altura de Monica na quadra quando joga da linha base, sua altura acima da rede, seu peso, a envergadura de suas mãos com e sem a raquete, e pediu que eu encontrasse, com a ajuda de alguns professores, quais seriam o ângulo e o momento ideais para os golpes de Monica a fim de que gastasse menos energia.

Preparei isso e, numa ocasião, quando os visitei em Novi Sad, testemunhei algo que duvido se algum treinador do mundo já tenha visto: Karolj subiu numa escada e marcou a altura ideal para Monica aplicar melhor os golpes; ele tinha umas 150 bolas, que haviam sido coladas em uma corda, e Monica batia nessa altura ideal”. Hoje, essa imagem pode parecer um tanto estranha, mas este tipo de entusiasmo, combinado com um trabalho colossal, no fim deu excelente resultado.

“À medida que o ensinava, a tarefa se tornava mais fácil para mim, porque ele participava o tempo todo e me ajudava muito”

A família Djokovic nunca procurou atalhos no caminho de Novak em direção ao topo do esporte. Para que fosse possível conquistar um troféu de Wimbledon ou qualquer outro era preciso fazer muito, investir e treinar, e Srdjan, Dijana e Novak tinham consciência disso.

Pedja Nedeljkovic, um dos tenistas que, com Jelena Gencic, tiveram oportunidade de acompanhar o desenvolvimento de Novak, lembra-se de que ele sempre fazia as melhores partidas quando estava sob pressão: “Acho que essa é sua arma mais poderosa. Por exemplo, tinha a audácia de jogar paralelas arriscadas nos momentos de maior importância. Imediatamente ficou claro que seria difícil vencê-lo, pois ele carregava em si o ‘gene da vitória’, enorme talento, mas, antes de tudo, era um grande trabalhador. Acredito que, nesse aspecto, a família foi muito importante, por apoiá-lo cem por cento e por encorajá-lo sempre. De certa forma, toda essa trajetória não deixa de ser uma pressão, mas é inestimável quando ao seu lado você tem não apenas os pais, mas a família inteira”.

As primeiras aulas

A confiança absoluta devotada a Djokovic valeu a pena completamente. A melhor confirmação disso talvez se encontre em sua declaração após ganhar o título de Wimbledon, quando disse que trabalhara vinte anos só para aquele momento de glória. O indiscutível dom e a constante dedicação criaram o vencedor Novak Djokovic. Jelena Gencic lembra-se de que, no início, ele não segurava bem a raquete, mas isso não a preocupava muito.

“Explicávamos a cada aluno como deviam segurar a raquete (há várias maneiras: continental, eastern, western, semi-western), mas eu sempre dizia aos treinadores para não impor às crianças sua visão sobre como precisavam fazer isso e sim, deixar que cada uma decidisse sozinha o que lhe convinha. Novak experimentou tudo, e tudo deu certo. Disse-lhe que treinaríamos as diversas alternativas, até que, sozinho, percebesse se a mão direita seria guia e a esquerda o apoio, pois isso é uma coisa individual. As dez primeiras aulas na escola de tênis são as mais importantes, e o que se aprende nesse momento fica para a vida toda. Desde o primeiro dia praticávamos todos os golpes, sua cabeça estava cheia de tudo, mas trabalhávamos devagar e sistematicamente. Gosto de deixar aparecer naturalmente os desejos individuais de cada jovem jogador, embora os meninos gostem de imitar tenistas adultos e frequentemente não apliquem os golpes como seria desejável”.

Novak Djokovic logo mostrou suas características esportivas. Além de excelente concentração, disciplina e dedicação, Jelena rapidamente entendeu que ele tinha capacidade de prever os passos seguintes do adversário, precisamente a habilidade que distingue os melhores jogadores. E mais: tinha magnífica percepção da bola, ou seja, do tempo que transcorre desde o momento de captar onde ela está até a reação dos músculos em sua direção. Acima de tudo, Novak ajustou-se perfeitamente a uma especificidade da abordagem de treinamento da sua treinadora, na qual ela insistiu. Além dos usuais conselhos que dava a seus iniciantes, sempre sugeria que era preciso escutar a bola. Enquanto os outros alunos ficavam surpresos, perguntando-se o que aquilo significava, Novak logo entendeu. “Ele sabia, porque escutava como um obcecado. Naquela época, não fazia ideia do que era golpe slice ou spin, mas entendeu o som”, diz Jelena.

“Apenas um jogador inteligente pode se tornar campeão, enquanto todos os outros podem surpreender uma única vez porque tiveram um dia bastante bom. E isso é tudo”. Foto: Divulgação/ATP Tour

Atualmente, Novak Djokovic tem a melhor devolução de saque com esquerda de duas mãos e backhand, que não jogava sempre com as duas mãos. Ainda menino, no início conseguiu dominar com apenas uma das mãos, mas, um dia, aproximou-se da treinadora perguntando se poderia tentar com as duas mãos. Quando ela quis saber por que, ele simplesmente respondeu: “Porque minhas bolas ficam mais fortes”. Experimentaram. E foi um sucesso. “À medida que o ensinava, a tarefa se tornava mais fácil para mim, porque ele participava o tempo todo e me ajudava muito. Trabalhávamos bastante o movimento, e ele conseguia manobras de pernas muito boas. Lembro-me de lhe dizer que, se conseguíssemos trabalhar bem esse segmento, se quiséssemos que fosse fenomenal, então deveríamos trabalhar mais ainda sobre ele, em vez dos golpes. Acho que hoje isso está evidente em sua agilidade, na rápida reação em todos os passos do seu jogo.”

Não é de surpreender que Novak Djokovic tenha alcançado a liderança no ranking da Association of Tennis Professionals (Associação dos Tenistas Profissionais – ATP), porque, quando precisava aprender, aprendia; quando algo se tornava difícil, ele não demonstrava de maneira nenhuma. Quando não entendia alguma coisa, não tinha vergonha de perguntar, e se achava que algo precisava ser feito de outra maneira, sugeria. “Novak não queria perder nenhum minuto do treino, desejava aproveitar tudo que viesse em benefício de sua aprendizagem. Depois, podia-se conversar com ele sobre qualquer coisa, pois era muito curioso, mas somente depois do treino, porque, conversando, ele descansava”, diz Jelena Gencic.

Certa ocasião, o tenista norte-americano Arthur Ashe descreveu como se reconhece um verdadeiro campeão: “Apenas um jogador inteligente pode se tornar campeão, enquanto todos os outros podem surpreender uma única vez porque tiveram um dia bastante bom. E isso é tudo”. Jelena Gencic percebeu a verdade dessas palavras desde o início da cooperação com Novak Djokovic. Ele realmente não era apenas um menino comum que gostava de tênis. Tinha vontade e desejo para o sucesso, mas também sabedoria e inteligência suficientes para chegar à realização dos seus sonhos.

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