A doença que já atrapalhou a carreira de muitos grandes tenistas, entre eles Roger Federer
Por Jefferson Cabral em 9 de Maio de 2014 às 00:00
A MONONUCLEOSE, TAMBÉM conhecida como “doença do beijo”, é uma enfermidade de baixa mortalidade, produzida pelo vírus “Epstein-Barr”. Sua transmissão ocorre principalmente através da saliva, ou seja, o vírus pode ser transmitido pela tosse, espirro, objetos como copos e talheres, ou qualquer outro modo onde haja contato com a saliva de uma pessoa contaminada, como o beijo, por exemplo.
A porta de entrada do vírus é a mucosa da boca e da faringe. As células do tecido linfoide são o alvo da infecção pelo “Epstein-Barr”. Depois de atingir a faringe e infectar o tecido linfoide, o destino do vírus são os linfócitos B, onde há um receptor específico. Por eles, o vírus se prolifera e invade a corrente sanguínea, disseminando-se pelo fígado, baço, medula óssea e gânglios linfáticos.
O período de incubação da mononucleose, ou seja, em que o vírus fica alojado no organismo antes da sua manifestação, não é definido com exatidão, mas situa-se entre quatro e seis semanas, em média – em crianças pequenas, esse período costuma ser um pouco mais curto, de duas semanas aproximadamente. No entanto, algumas pessoas podem adoecer muito tempo depois.
A incidência da moléstia tem seu pico entre 15 e 25 anos, ou seja, entre adolescentes e adultos jovens – idade em que o beijo está diretamente implicado na transmissão do vírus. Em alguns países, mais de 90% da população adulta já apresentou contato com a mononucleose. Na maioria dos casos, as pessoas têm o primeiro contato na infância, mas a infecção passa despercebida porque o vírus não costuma causar doença quando a criança o adquire. Na verdade, menos de 10% das crianças que se contaminam com o “Epstein-Barr” desenvolvem algum sintoma. Dessa forma, a maioria da população já teve contato com o vírus da mononucleose e já possui anticorpos, estando imunes ao vírus. Após os 30 anos, a mononucleose é rara, uma vez que virtualmente todos nesse grupo já terão sido expostos ao vírus em algum momento da vida.
Os sinais clínicos mais frequentes da mononucleose incluem febre, comprometimento de toda a garganta, aumento dos gânglios linfáticos e fadiga intensa, que persiste por várias semanas após a melhora do quadro. Outro sinal característico é o aumento do baço (o órgão aumenta tanto de tamanho que pode ser palpável abaixo das costelas, à esquerda do abdômen). Quando ocorre esse aumento, é necessário manter repouso devido ao risco de ruptura. E por mais que seja rara, a ruptura do baço acontece e pode levar à morte devido ao intenso sangramento. O acometimento do fígado não é comum, mas podendo levar a um quadro de hepatite em até 20% dos casos. Outros sintomas inespecíficos, como dor de cabeça, dores musculares, tosses e náuseas também são comuns.
O tratamento da mononucleose é feito como nas várias doenças causadas por vírus, ou seja, não há tratamento disponível e nem mesmo é necessário uma vez que, na maioria dos casos, ela é autolimitada, o que quer dizer: a manifestação da doença acaba em determinado momento sozinha. São utilizados medicamentos visando o alívio dos sintomas por meio de analgésicos, antitérmicos e, se necessário, medicamentos contra enjoo. É recomendado para aqueles que apresentam baço inchado que não pratiquem esportes ou atividade que representem risco de ruptura.
O tempo de recuperação é lento, podendo levar algumas semanas. O mal-estar e a indisposição duram semanas para passar e os gânglios, um ou dois meses para retornarem ao tamanho normal. A alta pode demorar devido ao comprometimento do fígado. O repouso deve ser mantido até o exame clínico, deixando claro que o baço voltou à normalidade. A recuperação completa ocorre, em média, dois meses depois na maioria dos pacientes.
A doença apresenta imunidade permanente, sendo muito difícil apresentar manifestações em uma segunda infecção. Não há necessidade de isolamento dos doentes uma vez que a infecção ocorre apenas com contato muito próximo ou íntimo. Embora a vacinação tenha uma abrangência que vai além da infecção, esse recurso ainda não existe com a eficiência e segurança recomendáveis.
Em alguns casos, podem acontecer complicações devido à mononucleose, como a obstrução da via aérea superior ou infecção bacteriana. Outras complicações raras são descritas, tais como hepatite fulminante, miocardite, pericardite com alterações eletrocardiográficas e pneumonia. Estima-se que a mononucleose evolui para óbito em cerca de 1 caso em 3.000 adoecimentos.
DiagnósticoO diagnóstico da mononucleose pode ser feito por sintomas e achados que o médico faz durante o exame clínico, além de dados que ele levanta durante a entrevista ao paciente. O diagnóstico com precisão é feito através de hemograma, com aumento dos leucócitos. Quando o fígado é acometido, pode haver elevação das enzimas hepáticas chamadas de TGO e TGP. O diagnóstico definitivo, porém, é feito através da sorologia, com a pesquisa de anticorpos. |
Mononucleose: Retorno À prática esportiva |
Critérios para avaliar a volta do atleta à prática esportiva: |
Treino leve em três semanas se:
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Treino intenso ou esportes de contato um mês após o início do quadro clínico se: |
* Não houver esplenomegalia, com comprovação ultrassonográfica (<14 cm no seu maior eixo); *Devem ser usados protetores em alguns casos. |
Entre as infecções respiratórias agudas, a mononucleose é a mais prejudicial para o atleta, levando-se em conta a sua evolução demorada. Sem dúvida, o mais importante para o médico é determinar o momento no qual o atleta pode retornar à prática esportiva.
Podemos aconselhar o retorno ao treinamento com intensidade moderada, a partir da terceira semana, quando estiverem presentes as seguintes condições: que o paciente esteja sem febre, a função hepática esteja normal, o baço esteja de tamanho normal e sem dor a palpações. A partir de um mês após iniciado o quadro clínico, será autorizada a realização de treinos intensos ou esportes de contato. Os indivíduos praticantes de esportes extenuantes ou de contato (futebol, ginástica, rúgbi, hóquei) ou atividades associadas ao aumento da pressão intra-abdominal, em especial o tênis, têm risco mais elevado de lesão no baço, sendo necessária atenção especial, com prazos maiores de repouso até o retorno.
O público praticante de esportes frequentemente apresenta tolerância diminuída quando retorna à prática de exercícios físicos. Um estudo realizado com adolescentes mostrou que após seis meses infectados com a mononucleose, os jovens apresentaram tolerância reduzida ao exercício físico, com diminuição da capacidade física e alterações pulmonares. Dessa forma, o retorno para a prática de esportes nas mesmas condições de antes da doença pode levar um tempo maior para algumas pessoas.
No mundo do tênis, vários jogadores conhecidos já foram diagnosticados com a mononucleose, dentre eles: Jelena Dokic, Jarmila Gajdosova, Mario Ancic, Radek Stepanek, Justine Henin, Andy Roddick, Robin Soderling, e até Roger Federer. O caso mais recente foi de Soderling, diagnosticado com a doença em meados de 2011. Desde então, a imprensa informa que o jogador tenta retornar ao circuito profissional, mas ele apresenta recaídas, com cansaço extenuante e fadiga muscular durante os treinamentos, limitando o seu desempenho e sua volta ao circuito profissional.
Não existem estudos mostrando a relação da manifestação da mononucleose em jogadores de tênis. No entanto, os especialistas na área não atribuem o tênis como fator para o aparecimento da mononucleose. Porém, pelo fato de o tênis ser um esporte de altíssima intensidade, o retorno às quadras nas mesmas condições que jogava antes de contrair a doença pode levar um período maior para o atleta. A maioria dos tenistas que ficaram de fora do circuito devido à doença, permaneceram afastados por um período médio de dois a três meses antes de retornar às competições. Porém, cada organismo responde de uma maneira diferente e alguns jogadores podem demorar mais tempo para retornar ao circuito.