Mineiros mantêm tradição brasileira nas duplas

André Sá e Marcelo Melo são as maiores atrações do tênis nacional atualmente

Fernando Sampaio em 1 de Agosto de 2007 às 15:28

MARIA ESTHER Bueno, Armando Vieira, Guga e André Sá são os únicos brasileiros que pertencem ao “Last Eight”, o restrito grupo do All England Club, formado por tenistas que chegaram às quartas em Wimbledon. Neste espaço, reservado aos oito últimos, o crachá de imprensa não vale. Visitei o clube duas vezes convidado de Armando Vieira e Maria Esther. E agora, André e Maria Esther são os únicos no “Last Eight” de simples e duplas. É uma marca merecida do André. Mineiro, torcedor do Galo, marido da Fernanda e pai da Carolina, André é diferenciado. Sua família é especial. Os pais, José Geraldo e Maria do Amparo, são muito simpáticos. Conheci-os no metrô de Paris. Ali, me contaram sobre o sonho do André de jogar Wimbledon. Ele saiu do Brasil aos 13 anos, foi morar e treinar na Florida atrás do sonho de criança. Acompanhei de perto sua temporada em 2002. Ele foi eliminado por Tim Henman nas quartas em Wimbledon. Naquele ano, jogou os dois únicos Masters da carreira. Furou qualis duríssimos. Um no saibro de Monte Carlo, onde bateu Gaudio, campeão de Barcelona. E outro no carpete de Madri, onde superou Taylor Dent, um dos saques mais velozes do mundo. Terminou o ano como número 66 e 2º do Brasil, atrás de Guga. O técnico Marcus Vinícius Barbosa, o Bocão, teve participação fundamental. Sempre defendo que viajar com técnico é essencial. É um dos segredos. Antes do Bocão, lembro do André em Wimbledon, tardes chuvosas, jogando palavras cruzadas em Southfields, numa casa alugada, junto Ricardo Acioly, Guga e Larri Passos. André é bem humorado. Isso é ótimo. Já foi eleito um dos mais simpáticos na ATP. É comunicativo, sorridente, antenado, rápido. Adora tocar Rolling Stones no violão. Leva tudo numa boa. É mineiro, uai. É família. Entrou para o tênis porque gostava de imitar o irmão mais velho, Vinícius. Assim como André, o parceiro atual, Marcelo Melo, também é um exemplo de luta e dedicação.

Ele também tem irmãos mais velhos que jogavam, o Ernani e o Daniel. Na geração do Marcelo, os melhores juvenis mineiros eram Rodrigo Cataldi, Henrique Cançado e Bruno Soares. Marcelo não figurava entre os melhores. E daí? Isso nunca o desanimou. Jamais deixou de lutar. É uma prova que mesmo não sendo um campeão fora de série no juvenil, é possível encontrar espaço no profissional. Com 2,03m, ele é um dos melhores duplistas do mundo. E se depender da minha torcida, estará no Masters com André. Fiquei contente com a semifinal deles. Gostei mais ainda de saber que Guga estava em Londres, na casa de um amigo, e resolveu mudar-se para o Hotel Montana e dormir no chão do quarto dos amigos em Gloucester Road. É uma grande prova de amizade.

É, o brasileiro é mesmo criativo. Nunca valorizarmos torneios de duplas no Brasil. Muitas chaves são canceladas em torneios juvenis. E mesmo assim, mantemos a tradição. Tivemos Thomaz Koch e Edison Mandarino; Cássio Motta e Carlos Alberto Kirmayr; Guga e Jaime Oncins e agora Sá e Melo.

É uma pena que os semifinalistas de Wimbledon tenham ficado fora do Pan. Seria a chance de André ganhar a segunda medalha de ouro. E neste momento, a dupla Sá e Melo é a maior atração do tênis brasileiro. É incrível que nunca tenham jogado juntos na Davis. Não falavam tanto em renovação. E aí? Espero que eles jogum contra a Áustria.

Fernando Sampaio produz programas para a tevê e boletins para a Rádio Jovem Pan AM. fernandosampaio@jovempan.com.br
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