Não consegue ficar calmo ao ver meu filho em quadra? Saiba o que fazer
Por Suzana Silva em 27 de Abril de 2015 às 00:00
“Desde aquele momento em que vi meu bebê saindo da barriga da mãe, nossa, a emoção foi indescritível. Naquela época os recursos de exames pré-natais não eram tão evoluídos como hoje, e saber o sexo do bebê foi ainda uma surpresa. Fixei meu olhar na área genital. É um menino!”
Este é o primeiro momento real da paternidade, pois a mãe foi sentindo a barriga crescer, o corpo pesar, as costas doerem, os enjoos, bem, a mãe foi sentindo a maternidade chegando aos poucos durante a gravidez. De qualquer modo, aquele ser indefeso abrindo a boca para o mundo impressiona. Pai e mãe.
Corta. Anos depois, aquele ser aparentemente indefeso – aquela imagem da cena do parto não abandona jamais pai nem mãe – empunha uma raquete de tênis nos seus primeiros campeonatos. Como não querer orientá-lo, preveni-lo dos perigos, incentivá-lo? Quem tem filhos já com vida independente, morando fora de casa, sabe: um filho é um filho e merece atenção e cuidados para todo o sempre...
A emoção, quando se trata de filho, é atômica, assume proporções incalculáveis. E aí, o guri escolhe praticar justo aquele esporte branco, elegante, de boas maneiras e fair play: “Tênis exige silêncio”, diz a placa ao lado da quadra. “MAS COMO É QUE EU VOU FICAR QUIETA COM MEU FILHO JOGANDOOOO?”, pergunta a mãe desesperada.
Calma, vamos pensar assim: essa energia que lhe impulsiona a levar seu filho para jogar um torneio federado a 150 km da sua cidade é o amor. É a energia do amor que lhe deixa morrendo de frio durante um confronto de interclubes da filha que vai até meia-noite, numa noite de junho em Curitiba, com geada e tudo.
Ou então, é a energia da projeção: ”Quero que meu filho tenha a oportunidade de ser o campeão mundial, já que não pude sê-lo por ter quebrado a perna aos 16 anos”. Neste caso, não poderei ajudá-lo, pois não tenho a pretensão de ser psicóloga, apenas uma observadora do comportamento humano, uma geradora de reflexões.
De qualquer modo, trata-se de uma energia presente, que não se pode ignorar. Então, lidemos com ela! O que podemos fazer durante uma partida, de modo a transmitir calma e confiança necessárias às crianças para que lidem com os desafios que a partida oferece, e ainda ajudar seu desenvolvimento como pessoa e como tenista?
Bem, se você já jogou tênis e teve a oportunidade de olhar para seu pai, sua mãe, ou amigos que assistiam ao seu jogo, o que buscava ao olhar para eles entre os pontos? Aprovação, suporte, confiança? Ou desprezo, espanto, raiva?
A maneira como os pais se comportam durante a performance esportiva dos seus filhos pode determinar se a criança percebe o mundo como um lugar seguro ou ameaçador.
Pais que encaram o esporte como parte da educação dos filhos, e cada torneio como uma oportunidade de desenvolvimento e evolução, fazendo amizade com os pais dos outros tenistas, trocando informações e curtindo a experiência de estar com seu filho, independentemente do resultado, passam a ideia de que praticar esportes é algo agradável e seguro.
Por outro lado, pais que ficam tensos durante a partida, que encaram o adversário e sua família como inimigos, que se importam demais com o resultado e tratam o filho de modo a diminuí-lo nas derrotas, destroem a possibilidade de essas crianças continuarem a praticar esportes durante toda a vida. A competição esportiva se torna ameaçadora, pois nela os filhos imaginam que podem perder o que mais lhes importa: o amor dos pais.
E assim, o tiro sai pela culatra. Os pais amam demais seus filhos, agem de modo desequilibrado durante seus jogos, querem tanto que eles vençam sempre, que o resultado final pode ser trágico assim: a criança sai do esporte para sempre. Há casos de crianças que abandonaram definitivamente a prática de qualquer atividade física. Isso é trágico.
Mas, queridos pais, queremos que essa estória das crianças no esporte tenha um final feliz. Queremos que elas continuem gostando do esporte, que façam amizades, que viajem muito para jogar. Queremos que elas possam escolher por elas mesmas seu futuro no tênis, de modo que ir para uma universidade norte-americana com bolsa de estudos, ou se tornar uma profissional do ensino do tênis, seja uma escolha unicamente delas. Ficou faltando a opção: “Ser a número 1 do mundo”? Já coloquei. Elas podem escolher esse objetivo também, quando chegar a hora.
Então, o que nos resta, pais? Ao assistir à partida de tênis dos filhos, direcionar nossa energia de amor para os canais certos. Há muitas coisas bacanas para fazer a fim de manter a calma durante o jogo dos guris. Vamos a uma brincadeira. Assinalem as alternativas certas:
Algumas coisas bacanas que podemos fazer durante o jogo dos nossos filhos:
1 - Se a partida ocorrer no Rio Grande do Sul, durante um mês de inverno, compartilhar o chimarrão com o pai do adversário;
2 - Acessar os e-mails do trabalho no celular;
3 - Caso sua esposa tenha ido com você, fazer uma completa DR;
4 - Tomar uma caipirinha, bem devagar, com bastante saquê e, de preferência, de morango, já que o limão pode queimar seus lábios se o torneio estiver sendo jogado em dia de sol escaldante no interior de São Paulo ou em Cuiabá;
5 - Assistir ao jogo do amigo ou da amiga do seu filho, já que nesse caso você consegue suportar a emoção com tranquilidade;
6 -Ler um livro de autoajuda ou outro tipo de leitura leve, que dê para olhar um ponto de vez em quando;
7 - Palavras cruzadas eu não ia sugerir, mas dizem que faz bem para prevenir Alzheimer.
Bem, se realmente você quiser fazer coisas legais durante o jogo, e ainda se divertir, há outras opções bem mais construtivas:
1 - Conversar com os pais dos adversários e descobrir como o filho deles consegue conciliar estudos e torneios;
2 - Conversar com o técnico do seu filho e saber o que estão treinando no momento, e quais serão os objetivos para os próximos meses;
3 - Conversar com o técnico da adversária e perguntar o que ele percebeu sobre como sua filha pode melhorar taticamente;
4 - Conversar com a equipe de arbitragem do torneio para saber mais sobre as regras do jogo – leve suas dúvidas;
5 - Fazer algum tipo de análise estatística do jogo, usando ferramentas simples como anotar num papel ou no celular o número de erros cometidos em cada golpe durante a partida (*);
6 - Se sua filha sai constantemente da concentração, procure mapear em que momentos isso ocorre: quando o placar está muito fácil?; depois de uma dúvida de marcação de bola ou de contagem?; antes de sacar ela não fala a contagem e acontecem muitos erros por causa disso?, etc;
7 - Observe que tipo de jogada seu filho mais gosta de realizar, e que tipo de jogo o incomoda mais. Bem depois do jogo – no dia seguinte, melhor ainda – vocês podem ter uma conversa sobre que opções ele pode usar para lidar com o tipo de estratégia que o incomoda.
Essas são algumas ideias. Anotar coisas pode deixá-lo ocupado e usando a energia do amor com algo construtivo. Se já tentou todas as ideias acima e a coisa realmente estiver fora do controle, cartas para a redação.
(*) Para ficar rápido e fácil anotar “estatísticas” sobre os golpes que geram erros, você pode usar as iniciais FH para forehand, BH para backhand, 1S para primeiro saque, 2S para segundo saque, FHV e BHV para os voleios, Sh para smash, FHret e BHret para as respostas de saque, FHapp e BHapp para os golpes de aproximação, FHw e BHw para as bolas vencedoras, FHpass e BHpass para as passadas, FHdro e BH dro para as curtinhas, FHlob e BHlob para os lobs, e assim por diante. Na frente, coloque os “pauzinhos” ou “tracinhos” para indicar número de erros. Leve ou passe suas anotações para o professor de seu filho, ele saberá como usá-las.