Por que tantos jogadores treinam muito bem, mas na hora do jogo não conseguem desenvolver o seu melhor tênis?
Roberta Menezes em 19 de Julho de 2012 às 08:41
APROXIMADAMENTE 80% DOS tenistas fazem uma ótima aula ou um excelente treino e, na hora do jogo, não conseguem colocar em prática aquilo que exercitou. Isso acontece com tenistas dos diferentes níveis de jogo: iniciantes, intermediários, avançados e profissionais e, para piorar, contra o próprio desejo.
Basicamente, podemos diferenciar dois tipos de tenistas: os competitivos e os não competitivos. Isso pode ser observado pelo professor desde o momento em que o tenista começa a disputar partidas. Mas o que leva um tenista a ser competitivo? Essa característica pode ser construída com o tempo?
A competitividade é uma característica própria. Ela se apresenta de acordo com a história de vida da pessoa.
Se, por exemplo, uma criança nasceu já tendo um irmão e depois ganhou outro, naturalmente, existirá uma competitividade entre os irmãos. Da mesma forma, se essa criança é filha de pais bem-sucedidos profissionalmente, ela desejará ser bem-sucedida também e isso fará com que dispute com os outros uma melhor colocação na vida, um melhor status.
Acho que competitividade pode ser construída, criando-se situações de confronto a serem sobrepujadas. Se o jogador quer melhorar e conseguir jogar uma partida como treina, tem que continuar treinando, não fugir nem negar o problema, e pedir ajuda.
Hoje em dia, a psicologia do esporte vem trabalhando nesse sentido, com atletas que pretendem se profissionalizar ou que já são profissionais. Quando o psicólogo é chamado para ajudar um tenista que está apresentando dificuldades para lidar com determinada situação de um jogo ou mais especificamente num jogo contra determinado adversário, ele irá utilizar técnicas e intervenções como, por exemplo, reforço positivo, extinção de condutas inapropriadas, eliminação do pensamento negativo, dessensibilização sistemática, autocontrole e autoinstrução que poderá ajudar a resolver o problema.
Então, podemos pensar nessa situação-problema vivida pelo atleta como um "bloqueio psicológico" ou como um "trauma"?
O bloqueio psicológico é uma situação em que o pensamento encalha em um problema que não nos deixa avistar possíveis soluções. Ficamos presos ao sentimento de angústia que, muitas vezes, aparece sob a forma de ansiedade. Ele tem origem na infância, nas relações parentais e suas causas são estritamente emocionais.
O trauma é um tipo de dano emocional que ocorre como resultado de algum acontecimento. Pressupõe uma experiência de dor e sofrimento emocional ou físico. Ele acarreta uma exacerbação do medo, o que pode conduzir ao estresse, envolvendo mudanças físicas no cérebro e afetando o comportamento e o pensamento da pessoa, que fará de tudo para evitar reviver o evento traumático. Pode acarretar também depressão, comportamentos obsessivos, fobias e transtornos, como o de pânico. Uma pessoa pode sentir como traumático um evento que outra pessoa pode não sentir, e nem todas as pessoas que passam por experiências traumáticas podem se tornar psicologicamente traumatizadas.
Dentro da especificidade do esporte e da particularidade do jogo, podemos usar os termos "bloqueio" e "trauma psicológico", apenas com aspas. As definições não contemplam exatamente o que pode acontecer com o tenista durante o jogo. O grau de extensão do problema me parece menor. Não é uma questão de sobrevivência, de vida ou de morte.
Em alguns casos, como, por exemplo, o da nadadora Joanna Maranhão, o problema foi tratado, realmente, como um bloqueio psicológico. Ela hoje consegue falar do que aconteceu na sua infância e, com isso, vem retomando a natação. O tratamento do problema foi além do nível comportamental.
Em contrapartida, podemos pensar em Andre Agassi, que teve graves restrições afetivas na infância, mas que conseguiu dar a volta por cima e se tornar um campeão. Isso reforça a questão da individualidade de cada pessoa.
O tênis é um esporte mental e, sendo assim, o jogo se torna um somatório de vários fatores. O emocional no jogo de alto nível é preponderante. Ganha quem consegue administrar a técnica, a tática, o físico e a cabeça. Jogar é um exercício de controle, é um aprendizado infinito.
Ser um "leão de treino" é um bom começo para ser um vencedor. Ninguém é campeão sem esforço, dedicação e amor pelo que se faz. Portanto, se você é um leão, acredite que possa ser um campeão. Vá em frente e peça ajuda se for preciso.