Tênis é um jogo de cabeça
Domingos Venâncio Dep. De Capacitação Da Cbt em 15 de Junho de 2010 às 09:15
Grandes treinadores, como Brad Gilbert (acima), costumam trabalhar bem a parte mental do tênis. Seu livro "Winning Ugly" é um clássico da literatura do tênis e possui várias dicas sobre os aspectos psicológicos do esporte |
A parte psicológica do tênis é tão importante quanto a física, técnica e tática, e a história mostra quantos grandes tenistas tiveram sucesso quando encontraram apoio de treinadores que sabem usar o lado psicológico a favor de seus pupilos.
"Keep on playing those mind games." (Continue com esses jogos mentais.). As palavras são da música de John Lennon, mas poderiam muito bem ter saído das instruções de um psicólogo esportivo. Nunca se falou tanto em preparação mental para o jogo de tênis como hoje, mas, na verdade, pouco se vê sua aplicação na rotina de treinos diários de jovens tenistas. E não é por falta de profissionais da área, visto que, em todo o mundo, e também no Brasil, há um grande número deles atuando nas mais diversas modalidades esportivas.
Treinamento mental não é novidade. Golfistas americanos, nos anos de 1970 já utilizavam métodos de preparação mental que incluíam até hipnose. Thomaz Koch já dizia, há muito tempo, que o jogo começa a ser ganho (ou perdido) no vestiário. Os livros de tênis "If I'm The Better Player, Why Don't I Win?" (Se sou o melhor jogador, por que não ganho?) de Allen Fox , e "Tournament Tough" (Duro Torneio) de Carlos Goffi, que datam do início da década de 1980, tratam fortemente do tema e foram editados em diversos países do mundo. Fox, ex-tenista profissional norte-americano, psicólogo, técnico de tênis da Universidade de Pepperdine, na Califórnia, jogou (e venceu) o primeiro tie-break da história do tênis contra seu compatriota Nick Saviano, em Newport, Road Island, e consagrou-se como um grande formador de "cérebros do tênis".
Gilbert e Goffi
Um de seus pupilos, o também norteamericano Brad Gilbert, dispensa comentários no que tange a parte mental do jogo. Sem grandes "armas", chegou ao quatro lugar no ranking da ATP e figurou entre os 10 primeiros por cinco anos seguidos, faturando US$ 5 milhões em prêmios. Como técnico, levou dois jogadores, Andre Agassi e Andy Roddick ao topo do ranking (fato inédito entre os homens, no tênis aberto). Seu livro "Winnig Ugly" (Ganhando Feio), de enorme sucesso de vendas e crítica, também trata da parte mental do tênis. O brasileiro Carlos Goffi, que também é psicólogo, ganhou fama por ser o técnico do norte-americano John McEnroe (para muitos, um grande desafio mental, levando-se em conta o terrível temperamento daquele que é, sem dúvida, um dos maiores gênios da história do tênis). O livro de Goffitrata da preparação mental de tenistas juvenis, principalmente antes e durante os torneios. Goffiprega que - em um esporte em que a bola fica em jogo, em média, apenas 10 minutos a cada hora - em uma partida entre dois jogadores de nível técnico e físico nivelados (algo muito comum no tênis de alto nível), vencerá aquele que fizer o melhor uso dos 50 minutos de bola parada. Ele ensina rotinas que melhoram a capacidade de raciocínio tático e controle emocional, mesmo sob pressão.
Exemp los de mudança mental
Muitos tenistas contratam seus técnicos visando especificamente um melhor desempenho na parte mental do jogo. Jogadores com grandes golpes, que, por deficiência tática ou emocional, não conseguem aproveitá-los ao máximo. Com este pensamento, a argentina Gabriela Sabatini, dona de grande técnica e físico, contratou o "cérebro" do brasileiro Carlos Kirmayr, obtendo sucesso imediato (vitória no US Open) à base de mudanças táticas e muita motivação. Entre outros exemplos, a parceria de Agassi (depois Roddick) com Gilbert, como já mencionado, alcançou tremendo sucesso. Larry Stefanki foi contratado pelos temperamentais chilenos Marcelo Rios (cheio de talento) e, posteriormente Fernando Gonzalez (cheio de força), que também buscavam (e conseguiram) melhor desempenho tático e emocional. O russo Marat Safin buscou os mesmos predicados no sueco Mats Wilander. O caso mais clássico aconteceu em meados dos anos 1980 quando os gêmeos duplistas Tom e Tim Gullikson (pois é, os irmão Brian não são novidade), em fim de carreira, e até dando umas "aulinhas" de vez em quando, buscaram apoio no mais renomado psicólogo do tênis, o norte-americano Jim Loehr. Com nova atitude e confiança, dando fim aos "surtos de icterícia", eles começaram a vencer muitos torneios, incluindo alguns Grand Slams e assim abriram os olhos de muitos grandes nomes, que passaram a treinar com Loehr, sempre com ótimos resultados. Esperamos que os nossos técnicos também "abram os olhos" e busquem o apoio necessário por parte dos profissionais desta área tão importante a seus jogadores. Afinal, a música de Lennon dizia "play those mind games together" (joguemos este jogos mentais juntos).