Jogar no exterior é um passo fundamental para a nova geração elevar seu nível rumo ao profissional
Por Edvaldo Oliveira em 13 de Abril de 2014 às 00:00
É EVIDENTE QUE UM NOVO TÍTULO de um brasileiro no Banana Bowl após 33 anos, e mais do que isso, a presença de três tenistas do País na semifinal de um dos maiores torneios do calendário juvenil nos cria um sentimento de renovação, esperança e, ao mesmo tempo, de responsabilidade e cobranças.
A campanha de Orlando Luz, João Menezes e Marcelo Zormann foi histórica e relembrou momentos áureos de 1981, quando avançamos à semifinal do Banana Bowl com a minha presença, a de Renato Joaquim e a de Eduardo Oncins na chave em São Paulo. Só não podemos nos esquecer de que há pouco tempo também tivemos gerações promissoras, com Tiago Fernandes, Thiago Monteiro, Bruno Sant’Anna, José Pereira, Fernando Romboli, Nicolas Santos, só para citar alguns bons nomes, mas muitos que não despontaram exatamente na passagem do sucesso juvenil para a dura realidade do profissionalismo.
Diante disso, é muito importante que o jovem brasileiro planeje “sair do casulo” e decida viajar para o exterior nessa fase de transição. De preferência, ele deve arriscar ir para os Estados Unidos ou Europa, porque seu amadurecimento se tornará mais aguçado, tanto no lado pessoal, quanto no cultural, palavras de quem vivenciou o circuito como tenista em uma época em que as facilidades de hoje sequer existiam.
Uma vez jogando nesses dois continentes recheados de célebres escolas – algumas consideradas berço do tênis, como a dos Estados Unidos, da França, Grã-Bretanha, dentre outras –, o tenista brasileiro acaba vivendo muito mais do que as situações de um mero torneio.
Esse “mercado” exige que o brasileiro, por exemplo, eleve seu nível competitivo, apresentando um leque maior de jogadas e opções técnicas, além de um aspecto tático extremamente apurado. No pior dos casos, uma derrota, seja em simples ou nas duplas, garante a oportunidade de treinar como se estivesse em casa, porém com a vantagem de ficar envolto ao ambiente do torneio, praticando, talvez, com atletas de países diferentes, e, é claro, com estilos completamente distintos.
O nível dos atletas, portanto, ganhará maior volume para as demais semanas de torneios. E não falo apenas em relação à parte técnica. Nessa mesma semana, o juvenil pode assistir a vários jogos e, inclusive, à partida do adversário que o derrotou na chave, criando condições para analisar taticamente o que pode fazer diferente na próxima vez que cruzar com esse mesmo rival.
Quando o brasileiro está fora do seu país, o técnico sente que o desempenho do pupilo sofre uma sensível melhora, uma vez que, se ele só compete em torneios por aqui, acabará à beira de
um círculo vicioso, sempre enfrentando os mesmos adversários, seus conterrâneos, com estilos muito parecidos. E, muitas vezes, ao fim de sua participação, o atleta acaba voltando para a sua cidade ou local de treinamento ao invés de aproveitar o torneio para treinar com jogadores diferentes e adquirir conhecimento e experiência com mais rapidez.
Venho de uma época, na década de 1980 e 1990, em que os jogadores precisavam ou tinham que se redescobrir para serem mais completos.
O tênis nos obrigava a jogar bem, tanto do fundo de quadra, como ter um bom voleio para definir os pontos junto à rede, característica essa sempre predominante nos Estados Unidos.
É importante jogar contra tenistas de escolas diferentes
Se nossos juvenis forem jogar por aqueles lados, vão bater de frente com jogadores desse naipe, que procuram definir os pontos com bolas mais retas (ou seja, com menos topspin) e constroem o caminho até a rede na primeira brecha. Consequentemente, o saque se torna um aliado dos norte-americanos, que quase sempre procuram o ace ou ganhar pontos a partir de um bom primeiro serviço. John Isner, Andy Roddick, Pete Sampras e John McEnroe são alguns nomes que comprovam a eficiência dessa fórmula poderosa, principalmente nas quadras rápidas, piso majoritariamente utilizado no calendário mundial.
Dessa maneira, o brasileiro, que joga uma sequência de torneios em quadra dura, aprende que é necessário bater uma bola com mais qualidade e maior risco, com o intuito de não deixar o oponente lhe atacar. Nos Estados Unidos, o juvenil deixa sua zona de conforto – de um jogador sólido apenas do fundo da quadra – e percebe que precisa acrescentar mais recursos ao seu arsenal, como devoluções, movimentação (os passinhos de ajuste para o golpe ficam mais refinados, principalmente no piso rápido) e posicionamento em quadra, ora pouco mais avançados no momento de pressionar o adversário, ora mais cautelosos quando está em risco no jogo.
A Europa, por sua vez, foi o continente em que joguei, pelo menos, 50% dos torneios da minha carreira profissional. E, apesar de não ter tantas facilidades como acontece nos Estados Unidos – alugar um carro, grande quantidade de quadras públicas à disposição para treinar, hospedagem e alimentação mais baratas –, as vantagens de se jogar no Velho Mundo são imensas.
Em uma porção de terra bem menor que a metade dos Estados Unidos, você tem contato com uma vasta variedade de jogadores de distintas escolas tradicionalíssimas de tênis. Em uma semana, poderá enfrentar jogadores de diversos países e aprenderá a ter múltiplas táticas a partir da experiência de enfrentar cada um deles, como:
Por seus desempenhos no Banana Bowl, Luz, Menezes e Zormann inevitavelmente serão cobrados para obterem mais resultados expressivos a curto prazo. Com isso, creio que jogar no exterior, além de contribuir para elevarem seu nível em contato com jogadores de diferentes potências, irá amenizar a carga de responsabilidade sobre esses jovens. Seja na Europa ou nos Estados Unidos, eles poderão jogar mais soltos, porque têm a certeza de que há, ao menos, 100 jogadores que estarão no mesmo nível, seja da mesma idade ou até mais jovens.
Nossos meninos precisam criar o hábito de passar não apenas semanas, mas vários meses fora de casa (algo que vejo como um dos principais obstáculos do adolescente brasileiro devido a um apego familiar acentuado) para terem condições de voltar com um tênis mais compacto, vistoso e forte, para suportar a pressão de jogar bem em seu próprio país.
Se o juvenil brasileiro conseguir completar essa empreitada durante os quatro anos de sua transição para o profissional, creio que teremos mais chances de colocarmos jogadores entre os 100 melhores do mundo no circuito adulto.
Edvaldo Oliveira é técnico-chefe da equipe Oliveira Tennis do Harmonia Tênis Clube, de São José do Rio Preto.