Imprevisível só o clima

Roland Garros 2013 foi um passeio para Nadal e Serena. Mas quem duvidava disso?

Arnaldo Grizzo em 25 de Junho de 2013 às 12:48

ASSIM QUE RETORNOU às quadras depois de meses recuperando-se de lesão, ficou claro quem dominaria o circuito de saibro. A vitória de Novak Djokovic em Monte Carlo levantou uma ponta de dúvida, que logo foi dirimida com os títulos nos Masters 1000 de Madrid e Roma. Ganhar Roland Garros pela oitava vez era questão de dias para Rafael Nadal.

Poucos percalços surgiram no caminho até a semifinal, a 35a vez que ele e Djoko se enfrentaram no circuito profissional. Ali, chegou a ter uma quebra abaixo no quinto set, quando o sérvio parecia caminhar para a vitória, mas, mais uma vez, provou que, em cinco sets no saibro, é humanamente impossível vencê-lo. Fim de partida, o campeão estava decidido, pois, na outra chave, não havia quem sequer o ameaçasse.

Quando David Ferrer impediu o sonho francês de ter novamente um finalista em Roland Garros, ficou ainda mais claro que Nadal morderia mais uma taça. Deu no que deu. Seu oitavo título em nove anos (só não venceu em 2009). Assim, tornou-se o primeiro homem a ganhar um mesmo Grand Slam tantas vezes. Este foi seu 12º troféu em Majors.

O favoritismo e os números de Rafa são impressionantes e este ano encontraram equivalência no circuito feminino, com Serena Williams. O domínio da norte-americana sobre as rivais chega a ser vergonhoso. Vencer sets por 6/0 nas primeiras rodadas contra adversárias teoricamente mais fracas, tudo bem, mas numa semifinal de Grand Slam? O jogo contra Sara Errani pareceu o de uma juvenil (e juvenil fraca diga-se) contra uma profissional. Nem mesmo Maria Sharapova, que no ano passado tinha quebrado seu tabu e vencido o Aberto da França pela primeira vez na carreira, pôde fazer algo contra a potência de Serena.

Ou seja, foram duas barbadas.

 


Rafael Nadal

OITO
Quando Nadal ficou poucos meses afastado das quadras em 2009, devido à tendinite no joelho, houve quem desse sua carreira por terminada. "Seu jogo é baseado nas pernas. Não tem como se recuperar". Dois anos antes, ele já havia passado um período de provação com o mesmo problema físico e precisou ir a público dizer que não era nada. Na volta, fez o que todos consideravam impossível: destronou Federer. Em 2012, nova lesão e agora um longo período fora das quadras. Seria o fim, enfim? Não. Depois de um começo oscilante na temporada de saibro sul-americana, uma vitória fantástica nas quadras duras de Indian Wells (em seguida um merecido descanso para as pernas, pulando Miami) e o domínio dos torneios no saibro europeu, Roland Garros era apenas questão de detalhe. Esse detalhe era Djokovic. Mas ele foi superado e Nadal alcançou algo que nunca nenhum homem tinha feito antes na história, vencer um Grand Slam por oito vezes.

 

ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA 
Na década de 1980, Brad Gilbert ficou famoso por seu jogo "feio", mas eficiente. Provavelmente foi um dos piores top 10 da história. Ele mesmo reconhece isso. Assim como Gilbert era questionado naquela época, hoje é David Ferrer. Seu jogo, contudo, não é feio. Monótono talvez seja a melhor expressão. Ainda assim, é eficiente. Aos 31 anos, sua constância é louvável e tem lhe trazido recompensas cada vez maiores, com semifinais no US Open do ano passado e também no Australian Open deste ano. Desta vez, foi, finalmente, a uma final de Grand Slam. Para quem acha que um tenista "baixo" (só 1,75 m) e "velho" não pode ir muito longe, Ferrer é uma aberração.

 

SEM GRAÇA
Quando as irmãs Williams despontaram, dizia-se que existiam, ao mesmo tempo, o tênis feminino e o tênis que elas jogavam. Hoje, com Venus quase se aposentando, há o tênis feminino e o tênis que Serena joga. Antes, porém, seu domínio era apenas na força monstruosa dos golpes. Agora, à força junta-se uma consciência tática (baseada na força) que impossibilita quase qualquer tentativa de equiparar uma partida. Quando está focada, Serena é imbatível. Venceu este Roland Garros, apenas o seu segundo título no Aberto francês (o primeiro foi em 2002), sem fazer esforço, humilhando - como de costume - as adversárias. Que saudades dos tempos de Justine Henin e de outras tenistas que lhe faziam frente usando muito mais do que apenas a força.

QUANDO A FORÇA SUPERA A FORÇA
Há momentos, e não são poucos, na carreira de Maria Sharapova em que ela parece completamente perdida em quadra diante de uma rival que é capaz de suportar suas pancadas de fundo de quadra. Sua incapacidade de readaptar seu jogo diante de uma tática que não está dando certo é flagrante. Viu-se isso com clareza, por exemplo, na final do Australian Open do ano passado diante de Victoria Azarenka. Desta vez, em seu 16º confronto diante de Serena, a russa bem que tentou variar, mas sucumbiu novamente. Para quem gosta de estatísticas, Sharapova venceu a norte-americana apenas duas vezes na carreira, no longínquo ano de 2004 (uma na final de Wimbledon), desde então nunca mais.
0/30
De repente, um francês espetaculoso levanta o público e vai derrubando seus oponentes com seu estilo divertido de jogar tênis. Nas quartas, enfrenta um oponente duríssimo, que havia sido número 1 do mundo e vence com categoria. Falta pouco para a França ter um campeão em casa. O cenário é familiar para a torcida francesa, que viu isso ocorrer em 1983, com Yannick Noah. Naquele ano, o francês passou pelas quatro primeiras rodadas sem perder sets, assim como Tsonga neste ano. Nas quartas, um duelo contra o temível Ivan Lendl, que tinha sido número 1 do mundo semanas antes de Roland Garros. Resultado: uma vitória incontestável que deu moral para o resto da campanha. Trinta anos depois, Tsonga destroçou ninguém menos que Roger Federer. Em seguida, assim como Noah, na semi, Tsonga pegou um adversário menos cotado. Porém, diferentemente do compatriota, caiu sem que a torcida francesa pudesse sequer fazer alguma diferença. Sonho adiado.

 

TOP 10

Faltava pouco para Bruno Soares. Faltava encaixar uma boa sequência de vitórias. A parceria com o austríaco Alexander Peya começou a dar resultado, mas, para se consolidar entre os melhores - assim como em simples -, é preciso ter resultados consistentes nos grandes torneios. O primeiro foi a semifinal no Masters 1000 de Indian Wells. Depois, contudo, vieram duas derrotas em primeiras rodadas em Miami e Monte Carlo. Em Madri, recuperação com o vice-campeonato - somado ao título no ATP de Barcelona. E logo nova derrota na estreia em Roma. Um bom resultado em Roland Garros era fundamental para as pretensões da dupla ir a Londres no ATP Finals. Bruno Soares e Peya só não foram mais longe do que as semifinais em Paris porque os irmãos Bryan estavam inspiradíssimos. A campanha levou Soares ao sexto lugar no ranking de duplas, igualando a marca de Carlos Kirmayr em 1983. Falta pouco para superar Cássio Motta, que foi quarto no mesmo ano. Peya e Soares são o segundo time no ranking de 2013 e, agora, há chances reais de estarem em Londres.

SEMPRE LÁ
Não é de hoje que todo mundo aponta Beatriz Haddad Maia como um grande trunfo do tênis feminino brasileiro. A jovem de 17 anos vem alternando torneios juvenis e profissionais há um algum tempo e, com calma, alcançando resultados importantes. Neste ano, venceu dois Futures e fez final da Copa Gerdau em simples e duplas (no Banana Bowl também, em duplas) antes de chegar a Roland Garros. Em 2012, fez grande campanha em Paris e ficou com o vice nas duplas ao lado da paraguaia Montserrat Gonzalez. Desta vez, a história se repetiu, com novo vice em parceria com a equatoriana Domenica Gonzalez.

RESULTADOS DAS FINAIS DE ROLAND GARROS 2013
Rafael Nadal (ESP) v. David Ferrer (ESP) 6/3, 6/2 e 6/3
Serena Williams (USA) v. Maria Sharapova (RUS) 6/4 e 6/4
Bob e Mike Bryan (USA) v. Michel Llodra e Nicolas Mahut (FRA) 6/4, 4/6 e 7/6(4)
Ekaterina Makarova e Elena Vesnina (RUS) v. Sara Errani e Roberta Vinci (ITA) 7/5 e 6/2
Lucie Hradecka e Frantisek Cermak (CZE) v. Kristina Mladenovic (FRA) e Daniel Nestor (CAN) 1/6, 6/4 e 10/6
Juvenis
Christian Garin (CHI) v. Alexander Zverev (GER) 6/4 e 6/1
Belinda Bencic (SUI) v. Antonia Lottner (GER) 6/1 e 6/3
Kyle Edmund (GBR) e Frederico Ferreira Silva (POR) v. Christian Garin e Nicolas Jarry (CHI) 6/3 e 6/3
Barbora Krejcikova e Katerina Siniakova (CZE) v. Beatriz Haddad Maia (BRA) e Domenica Gonzalez (ECU) 7/5 e 6/2
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