Por que os maiores nomes do circuito atual foram buscar ajuda dos grandes ídolos das gerações passadas?
Por Arnaldo Grizzo em 1 de Fevereiro de 2014 às 00:00
TUDO COMEÇOU NO FIM DE 2011. Naquele réveillon, o “sem rumo” Andy Murray anunciou que estava contratando Ivan Lendl como seu treinador, para surpresa geral. Diferentemente de outros jogadores aposentados que se mantêm perto do circuito, o tcheco estava completamente desaparecido. Desde que deixara as quadras em 1994, ele se dedicou à família, ao golfe, perdeu boa parte do físico privilegiado que tinha, raramente era visto e mais raramente ainda concedia entrevistas. Ver Lendl ressurgir assim para ajudar um tenista talentoso, mas com sérios problemas de cabeça era estranho, porém, de certo modo compreensível.
Murray, assim como Lendl em seus primeiros anos, já tinha estado em algumas finais de Grand Slam e não havia conseguido vencer. Mais do que isso, faltava ao escocês aquela determinação, o sangue-frio e também algo mais de preparo físico – ou seja, as mesmas características que fizeram com que o tcheco se tornasse uma máquina de jogar tênis e merecesse a alcunha de “robô”. Funcionou para Murray, que venceu o US Open de 2012 e, no ano passado, foi capaz de dar a maior alegria aos britânicos ao conquistar Wimbledon.
Seria um sinal? De repente, alguns anúncios inesperados. No dia 18 de dezembro, Novak Djokovic contratou o alemão Boris Becker para a sua equipe. Dez dias depois, Roger Federer realizou um sonho de infância e trouxe o sueco Stefan Edberg para perto de si. Vale lembrar que, poucos dias antes disso, sem alarde, o japonês Kei Nishikori havia dito que estava contratando Michael Chang. Ter ex-tenistas como técnicos não é algo incomum no tênis, mas ver tantas estrelas retornando ao circuito ao mesmo tempo é espantoso, especialmente por eles, apesar de terem sido grandes tenistas, não serem treinadores tarimbados.
Trazer esses ídolos de volta seria apenas uma jogada de marketing de alguns dos maiores tenistas do circuito atual? Dificilmente, pois há tanta coisa em jogo que nenhum deles quer se dar ao luxo de fazer escolhas ruins. Federer, por sua idade e suas conquistas, talvez fosse o que menos expectativa tivesse nessa parceria com Edberg. Todos sabem de sua admiração pelo sueco, seu ídolo de infância, mas será que o suíço arriscaria jogar fora mais um temporada? Com Edberg ao seu lado, engana-se quem acha que Federer vai agora disparar em direção à rede como seu treinador fazia nos áureos tempos do saque-e-voleio. O sueco não seria ingênuo de propor isso ao seu pupilo na era do topspin. Ainda assim, Edberg pode ser um bom conselheiro para Federer, alguém a quem o suíço certamente vai ouvir, nem que seja por respeito.
A parceria entre Andy Murray e Ivan Lendl deu resultado, mas ser treinado por um grande campeão do passado não é garantia de sucesso hoje
Nessa mesma linha parece estar a dupla Nishikori-Chang. Apesar de o tenista japonês nunca ter se espelhado no atual treinador – seu ídolo era o compatriota Shuzo Matsuoka, que chegou a ser top 50 na década de 1990 e até hoje é um dos ídolos do tênis no Japão –, certamente também ouviu falar muito de Chang enquanto crescia. Baixinho, mas extremamente rápido, ele foi uma inspiração para muitos asiáticos, apesar de nascido nos Estados Unidos (seus pais eram taiwaneses). Nishikori, apenas 3 centímetros mais alto do que seu treinador, também vai precisar de pés velozes, que aliados a um estilo bem menos conservador do que o de Chang, podem lhe garantir um lugar no top 10 em breve.
Já a parceria entre Djokovic e Becker é mais curiosa. O alemão tinha um estilo explosivo dentro e fora das quadras. Dentro era mais uma questão de potência, de destruir os adversários com seu arsenal. Fora, levando uma vida nem um pouco ortodoxa, envolvendo-se em escândalos mesmo depois que se aposentou. O estilo de ambos não se parece em quase nada. Enquanto Djoko se transformou em um tenista extremamente tático e regular, Becker era o cúmulo da agressividade. Seria esse contraponto o ideal para o sérvio agora?
Trazendo resultados ou não, a volta de grandes ídolos ao circuito é algo ainda mais cativante para os fãs, pois os mais velhos serão capazes de reviver na memória um pouco das glórias de seus heróis do passado e os mais novos terão a oportunidade de vasculhar a história do esporte. Mais do que isso, é um incentivo para que os grandes nomes nunca se afastem verdadeiramente do tênis.