O brasileiro teve sorte de não enfrentar o suíço e nem Rafael Nadal
Fernando Sampaio em 12 de Dezembro de 2006 às 10:12
Em julho, escrevi aqui na Revista Tênis que a atual geração é menos talentosa e carismática do que aquela que jogava na época do Guga. Recentemente, Guga deu a mesma opinião numa coletiva, só que na minha opinião ele exagerou ao deixar a impressão de que ganharia de todos que estão aí no topo agora e que seria o número um mesmo com Federer e Nadal. Não é bem assim. É bom lembrar que na época do Guga, vários jogadores que chegaram a ser número um, hoje, com Federer na parada, jamais chegariam lá. Até mesmo Guga.
Você pode argumentar que Guga tem um retrospecto favorável contra Federer. É verdade, mas Nalbandian e Nadal também têm e não chegaram lá. E este retrospecto de dois a um de Guga contra Federer é bem discutível. Em 2003, Guga bateu Federer em Indian Wells. Foi a única partida entre os dois disputada na quadra rápida. E mais, naquele ano, além de Federer ainda não ser o melhor de todos, perdeu para Squilari, Costa, Horna, Santoro, Mirnyi, Gambill, Mantilla e vários tenistas top 50. Só para Nalbandian ele perdeu três vezes. Mesmo vencendo Wimbledon, Federer só decolou depois do título da Masters Cup.
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No saibro, foram duas partidas entre Guga e Federer. O confronto na terra está empatado. Em 2004, já como número um, Federer perdeu feio para Guga em Roland Garros. Concordo em afirmar que Guga foi melhor que Federer na terra batida. É só olhar os títulos. Mas e daí? O Nadal também é melhor que o Federer no saibro e não consegue ser número um. E a dificuldade para Guga chegar ao número um hoje seria ainda maior porque ele teria de enfrentar Rafael Nadal. Guga seria tricampeão de Roland Garros se Nadal estivesse jogando? Acho que não.
Na verdade, Guga deu sorte de nascer dez anos antes de Nadal; alguns antes de Federer e depois de Muster, Agassi e Sampras. Portanto, cada gênio na sua época. Nem minha bola de cristal saberia dizer quem venceria Wimbledon com Federer, Sampras, Borg e Becker. Acredito que os gênios seriam gênios em qualquer época, mas não dá pra dizer quem seria o melhor se jogassem juntos.
Para terminar, lembre-se que Roddick poderia representar muito mais para a história do tênis se Federer não existisse. O garoto teria sido tricampeão de Wimbledon, campeão da Masters Cup, bicampeão do Masters do Canadá, campeão de Cincinnati e teria mais títulos do US Open. O cara cruzou com Federer em seis finais e quatro semifinais. Haja terapia. Imagine agora o tênis sem Nadal. Guillermo Coria seria bicampeão de Monte Carlo; Mariano Puerta campeão de Roland Garros e Federer campeão de Roland Garros e do Grand Slam.
Portanto, não dá pra dizer que os tenistas de hoje são piores do que na época de Guga, quando Rusedski, Schalken e Norman também chegaram ao top ten. Portanto, a única certeza que tenho é que antes o pessoal tinha mais carisma e talento. Você duvida? Então me diga se conhece alguém que tem o pôster do Davydenko, Ljubicic ou Nalbandian?
Na época Guga, o prestígio dos jogadores garantia o espaço do tênis masculino na mídia. Sampras, Agassi, Rafter, Rios, Ivanisevic, Hewitt, Moyá, Safin, Kafelnikov garantiam retorno. Hoje, alguns jogos femininos, especialmente os de Sharapova, têm mais público que muitos masculinos. A esperança está na nova geração. Garotos como Murray, Monfils, Gasquet, Djokovic, Berdych, Baghdatis têm muito mais carisma que vários que estão aí no topo. Esta nova geração pode fazer com que o tênis não dependa única e exclusivamente de Federer e Nadal. São os novos "New Balls".
Fernando de Sampaio Barros produz programas para a tevê e boletins para a Rádio Jovem Pan AM . fernandosampaio@jovempan.com.br |