Segundo melhor do mundo em 1975, argentino dá lição sobre dedicação ao esporte
Walter Preidikman em 21 de Dezembro de 2016 às 14:03
Muitas pessoas perguntam por que juvenis com grande potencial não alcançam lugares de destaque na carreira profissional. Dentro das inúmeras razões, para mim, há algo que é o principal empecilho no caminho e revelo aqui uma história para explicar.
Uma vez, jantando com o lendário Guillermo Vilas, ele confessou a tristeza que sentia ao ver a falta de interesse e envolvimento dos juvenis que estão em um trabalho de alto rendimento e supostamente dedicam seu tempo e apostam suas fichas no tênis como futura profissão. Com ar de desânimo, ele disse: “A grande diferença é que nós éramos tenistas e eles estão tenistas”. Pedi para ele elaborar um pouco mais seu raciocínio, e então completou: “Ser tenista é viver o tênis intensamente, pautar seu dia a dia e envolver o tênis em todos os aspectos da vida, treinar, comer, conversar e observar tênis. Estar tenista é ser algumas poucas horas por dia. Como então podem afirmar que tênis é a coisa mais importante das suas vidas?”.
Ouvindo suas palavras transportei para a minha vida de treinador e relembrei como meus jogadores e eu nos comportávamos. Lembrei dos anos e anos de circuito, em que o tênis era e ainda é o foco dos nossos dias: treinar duro, assistir aos “bons” treinando, chegar ao clube do torneio e só sair depois de ter visto todos os jogos, conversar e procurar extrair o máximo de coaches com mais experiência, procurar estar a par de tudo o que estava acontecendo nos quatro cantos do mundo, compartilhar e aproveitar. Aquele era o nosso mundo e quanto mais tempo nele, melhor.
Hoje os jogadores querem dominar o jogo, mas esquecem que o domínio vem pelo conhecimento, e este vem pelo estudo. Estudar para conhecer, conhecer para dominar. Para mim, há duas grandes fontes do saber: observar e perguntar, que infelizmente são cada vez menos procuradas. A maioria dos tenistas se comporta como se já soubesse todas as respostas.
Voltando a Vilas, ele me contou que pedia, por carta, conselhos a Rod Laver (canhoto como ele) e que seu treinador, Ion Tiriac, tinha um caderno onde constavam as características principais de todos os seus possíveis rivais – e ele estudava isso minuciosamente.
Sei que os tempos mudaram, mas que grande contraste. Quem sabe nossos treinadores tenham a força de inspirar esses meninos a viver, sentir e se deixar envolver verdadeiramente pelas maravilhas do nosso esporte. Sei também que não é a única solução para melhores resultados, mas sei que é um bom caminho.