Quatro anos depois de se aposentar, o maior tenista do Brasil recebe a honra de entrar para o Hall da Fama
Carolina Almeida em 30 de Março de 2012 às 07:21
ELE FOI LÍDER DO RANKING DA ATP por 43 semanas. Foi o primeiro brasileiro a ser número um do mundo. Ganhou três Grand Slams, todos em Roland Garros. Foi campeão da Masters Cup de Lisboa em 2000. Conquistou 20 títulos como profissional, disputou 29 finais e teve mais de 350 vitórias na carreira, contra 195 derrotas. Agora, ao falarmos de Guga, também podemos adicionar mais um grande resultado em sua carreira: faz parte do seleto grupo de tenistas do Hall da Fama. Ele foi selecionado na categoria "Jogador Recente" e precisou da aprovação de 75% de um júri formado pela mídia internacional.
O anuncio oficial foi feito no dia 8 de março, numa cerimônia realizada no Auditório do Banco do Brasil, na Avenida Paulista, em São Paulo, acompanhada pelo Presidente do Hall da Fama, Christopher Clouser. Enquanto o telão passava os principais momentos de Guga como profissional, o catarinense se emocionava e enxugava as lágrimas que caiam. Para prestigiá-lo, estiveram presentes Maria Esther Bueno, outra lenda brasileira a figurar no Hall da Fama, e Thomaz Koch, lembrado por Guga em diversos momentos de seu discurso. "Nos meus primeiros 10 ou 12 anos no tênis, não sabia que o Hall da Fama existia. Estava muito longe das minhas expectativas e imaginação", contou o ídolo.
Ao fazer um balanço da carreira, o Manézinho da Ilha declarou que conseguiu aproveitar muito bem as oportunidades que apareceram, e que seu ingresso no Hall da Fama foi a maior recompensa que poderia ter. Uma das razões por ter ganhado o título está fora das quadras: Guga incentivou o esporte dentro do Brasil de diversas maneiras, sendo a mais notória delas através do Instituto Guga Kuerten. Fora das quadras, Kuerten classifica como seu maior êxito o fato de ter conseguido conectar o povo brasileiro com o esporte. "Com isso, o tênis se tornou acessível, gostoso, uma contribuição de satisfação especial".
A honraria, que foi dedicada ao pai, já falecido - Guga contou que foi ele quem o ensinou a brincar de tênis, quando tinha seis anos - só será oficial no dia 14 de julho, quando acontece a cerimônia oficial na sede do International Tennis Hall of Fame and Museum, em Rhode Island, Estados Unidos.
A CARREIRA DE GUGA foi marcada por grandes jogos, grandes vitórias e também grandes derrotas, pois não é só de sucessos que se faz um ídolo. Kuerten deu duro e precisou jogar muito tênis para conseguir chegar aonde chegou, numa época que não tinha Federer, Nadal e Djokovic, mas que, em compensação, era dominada por tenistas como Sampras, Agassi, Kafelnikov, Norman, Hewitt e Safin. A seguir, uma retrospectiva dos momentos mais marcantes de sua carreira, lembrados até hoje pelo brasileiro.
Sete meses depois de ganhar seu primeiro título de nível ATP, em duplas, ao lado de Fernando Meligeni, Guga venceu seu primeiro Grand Slam. No caminho para o título em Roland Garros, em 1997, ele precisou passar por três ex-campeões do torneio: Tomas Muster, na terceira rodada, Yevgeny Kafelnikov, nas quartas, e Sergi Bruguera, na final. O último jogo foi relativamente fácil, venceu o espanhol por 3 sets a 0. A batalha mesmo aconteceu contra Muster, então número cinco do mundo. Guga reverteu uma desvantagem de 0-3 no quinto set e salvou 14 break-points.
Resultado: Gustavo Kuerten (BRA) v. Tomas Muster (AUT) 6/7(3), 6/1, 6/3, 3/6 e 6/4
Ter chegado à final do Masters Series de Miami, em 2000, foi uma das maiores conquistas de Guga, pois foi quando sua carreira deu uma verdadeira guinada (além de esse torneio ser considerado pelos tenistas como o quinto Grand Slam). O torneio é sempre lembrado pelo brasileiro, pois, mesmo sendo jogado em quadra rápida, ele conseguiu vencer tenistas como Goran Ivanisevic e o número um da época Andre Agassi, antes de enfrentar Pete Sampras. O jogo, que parecia estar fácil para o norte-americano no primeiro set (venceu por 6/1), acabou disputadíssimo, com os três próximos sets sendo decididos no tiebreak e Guga jogando de igual para igual, mesmo sem vencer. Ao anunciar sua turnê de despedida, o brasileiro fez questão de jogar em Miami por conta desse duelo.
Resultado: Pete Sampras (USA) v. Gustavo Kuerten (BRA) 6/1, 6/7(2), 7/6(5) e 7/6(8)
A temporada de 2000 foi memorável para Gustavo Kuerten. O primeiro grande título do ano em que foi bicampeão de Roland Garros foi no Masters Series de Hamburgo, numa final que marcou a época. Safin era um dos principais rivais de Guga na temporada e o jogo, que durou 3h52m foi jogado de igual para igual, sendo decidido apenas no tiebreak do quinto set. Pela primeira vez na carreira, o brasileiro conseguiu vencer Safin, e, poucas semanas depois, mais confiante, conseguiu o bi em Roland Garros. Não é à toa que essa é a partida preferida de Guga com o russo.
Resultado: Gustavo Kuerten (BRA) v. Marat Safin (RUS) 6/4, 5/7, 6/4, 5/7 e 7/6(3)
O ano de 2000 foi coroado com o bicampeonato de Roland Garros. Mas o título foi suado. Para chegar até a final, contra Magnus Norman, ele precisou passar por um time nada fraco: Nicolas Lapentti, Yevgeny Kafelnikov, Juan Carlos Ferrero, todos bons jogadores de saibro. Na partida decisiva, que durou 3h44m, Norman chegou a salvar 11 match-points.
Resultado: Gustavo Kuerten (BRA) v. Magnus Norman (SWE) 6/2, 6/3, 2/6 e 7/6(6)
O torneio Masters Cup de 2000, em Lisboa, foi classificado por Guga como o mais marcante de sua carreira. Até então número dois do mundo, ele precisava levantar o troféu para ser o primeiro do ranking. O começo foi difícil. Ele perdeu a primeira partida para Agassi, numa superfície dura e coberta, que não era sua especialidade. Sem desanimar, Guga conseguiu duas vitórias seguidas, sobre Norman e Kafelnikov, e se classificou para as semifinais, em que enfrentou Sampras. Com mais uma vitória, ele passou para a final, reencontrando Agassi. Com triplo 6/4 e 19 aces, Gustavo Kuerten se tornou número um do mundo.
Resultado: Gustavo Kuerten (BRA) v. Andre Agassi (USA) 6/4, 6/4 e 6/4
Guga está no seleto grupo de tenistas que conseguiram vencer Roland Garros por três vezes. Seu último título, em 2001, veio cheio de emoções. Nas oitavas, ele virou um jogo praticamente perdido contra Michael Russell e proporcionou às pessoas que o assistiam uma das imagens mais bonitas do circuito. Perdendo por 2 sets a 0, tendo tido um match-point contra e disputando o tiebreak, Guga conseguiu o impossível e virou o jogo. Venceu aquele e os outros dois sets e, no final da partida, desenhou um coração no saibro, mostrando seu amor por aquele que considerou seu torneio mais querido. Depois, na final contra Alex Corretja, o coração reapareceu, junto com a camiseta escrita "Eu amo Roland Garros".
Resultado: Gustavo Kuerten (BRA) v. Michael Russell (USA) 3/6, 4/6, 7/6 (3), 6/3 e 6/1
Cincinnati 2001 foi o primeiro Masters Series que Guga ganhou em quadras rápidas, e fez isso com louvor. Sua campanha foi perfeita. Ele venceu, em sequência: Andy Roddick (27º), Tommy Haas (16º), Goran Ivanisevic (19º), Kafelnikov (6º), Tim Henman (8º) e Patrick Rafter (7º). O mais incrível foi que, por conta da chuva, Guga precisou primeiro terminar a semifinal no domingo para, uma hora depois, começar a jogar a final, sem qualquer sinal de cansaço. Entrou e acabou com Rafter em parciais de 6/1 e 6/3.
Resultado: Gustavo Kuerten (BRA) v. Patrick Rafter (AUS) 6/1 e 6/3
Uma das vitórias mais bonitas da carreira de Guga aconteceu no US Open de 2001. Ele entrou em quadra como número um do mundo, enfrentava o bielorusso Max Mirnyi na terceira rodada e perdia por 2 sets a 0. Mas, com uma garra impressionante, ele conseguiu virar o jogo, venceu dois tiebreaks e carimbou 33 aces nas 3h31m de duelo. Nesse jogo, Guga sentiu fortes dores no quadril, que o atrapalharam pelo resto da carreira.
Resultado: Gustavo Kuerten (BRA) v. Max Mirnyi (BLR) 6/7 (5), 5/7, 7/6 (4), 7/6 (3) e 6/2
Entre os jogos de Guga que não vão sair da lembrança de nenhum brasileiro, com certeza está o do catarinense com Roger Federer, na terceira rodada de Roland Garros 2004. De um lado, o suíço, que chegava ao torneio pela primeira vez como número um do mundo, e do outro, o brasileiro, 30º do ranking, que já havia passado pela primeira cirurgia no quadril. Quem pensava que o jogo seria fácil para Federer se surpreendeu ao ver Guga "ensinando" o suíço a jogar no saibro, ganhando o jogo por triplo 6/4.
Resultado: Gustavo Kuerten (BRA) v. Roger Federer (SUI) 6/4, 6/4 e 6/4