Quantas vezes você já pensou que poderia ganhar de seu oponente apenas batendo mais forte que ele? Aprenda a variar e perceba que mais vale usar a mente do que os músculos
Arnaldo Grizzo em 10 de Janeiro de 2017 às 12:00
Usar a força para subjugar os adversários pode até funcionar... |
ISSO É MUITO COMUM QUANDO SE É adolescente. Você entra na quadra para enfrentar um adversário mais novo, menor, nitidamente fisicamente mais fraco. Logo, seu pensamento é: "Basta eu bater forte para ganhar, já que ele não vai suportar o peso da minha bola". Até uma certa idade, na maioria das vezes, isso vai funcionar, pois os oponentes mais franzinos vão mesmo sucumbir diante das "bombas" dos fortões. No entanto, acho que não há leitor que não tenha passado pelo tipo de experiência que eu também já passei.
No auge dos meus 18 anos, acreditava que estava jogando bem (para um 4a classe) e, além de enfrentar jovens da minha idade ou então pessoas mais velhas, no clube tinha a oportunidade de jogar contra garotos mais novos. Alguns bem mais novos. Um deles, em particular, com 11 anos, baixinho, magrinho, pequenino, nem um pouco amedrontador.
Quando entrei em quadra contra ele pela primeira vez, logo pensei: "Esse nanico não vai conseguir fazer um ponto. Vou massacrar ele". A partida começou comigo servindo. "Ele não vai ver a cor da bola no meu saque", foi o que passou pela minha mente. No primeiro ponto, acertei um bom saque chapado no meio e ele não conseguiu devolver. "Não falei?" Mais alguns bons primeiros serviços e o primeiro game era meu. "Vai ser barbada".
No segundo game, ele - que de tão pequeno mal superava a altura da rede - foi para o saque. Seu serviço, obviamente, não era potente, mas também não era um totózinho, uma bola empurrada. Tinha peso e boa colocação, o que me impedia de querer atacar sempre - fato que eu só fui perceber vários games depois. Então, tentei atacar o saque do menino e cometi erros. Logo ele ganhou o game de serviço. "Não faz mal, da próxima vez eu encaixo as bolas na quadra e coloco ele para correr", pensei.
Fui sacar novamente e aquele baixinho começou a devolver os meus saques. Surpreso, mas querendo impor a minha força de qualquer modo, sentei a mão nas bolas de meio que quicavam pedindo para serem batidas. O que aconteceu? Errei várias por excesso de força, o game se complicou e, com mais duas bobeadas, acabei perdendo o saque. "Impossível! Agora esse nanico vai ver uma coisa. Vou trucidar ele."
O garoto foi para o saque e, entre erros não forçados de devolução e novos erros não forçados em trocas de bolas, ele manteve o serviço. Eu não percebia o que estava acontecendo, mas aquele menino, mesmo sem ter tanta potência nos golpes, era capaz de colocá-los onde queria. Além disso, ele sabia muito bem alternar efeitos, confundindo-me. Mais do que isso, corria como o capeta e sabia se defender como ninguém, sempre jogando uma bola alta e funda quando a situação complicava, fazendo com que eu não pudesse atacar de novo, ou, se atacasse, tivesse um risco muito alto e errasse.
De minha parte - bravo, indignado com a situação, com não ser capaz de vencer esse pivete "nos meus termos" -, continuei tentando a mesma "tática" inicial - bater forte na bola. Na verdade, fui além, tentei bater cada vez mais forte, acreditando que a força era a resposta para os meus problemas. "Como ele ousa devolver essa bola?" E quanto mais eu forçava, mais errava. Era óbvio, mas, cego de raiva, não percebia e não era capaz de mudar. Perdi de 6/1, mais do que isso, sai com o orgulho todo destruído. Era para ter aniquilado o menino e, no fim, fui eu a ser destroçado.
Usar a sabedoria para derrotar os mais fortes vem desde os tempos da Bíblia, com David e Golias (representados nesta famosa pintura de Caravaggio) |
#Q#
GOLIAS: COMO VENCER O DAVID?
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... mas é sempre melhor ter outras opções na manga para não ser surpreendido |
"NÃO É FORÇA, É JEITO"
Foi assistindo a alguns jogos femininos de Wimbledon 2011 que voltei no tempo e relembrei essa fatídica partida. Vi diversos confrontos em que o planejamento tático das atletas era "bater forte e torcer para a bola não voltar". Até mesmo a final feminina teve um pouco disso. Até aquele momento, Maria Sharapova tinha estraçalhado suas rivais usando, basicamente, a força. A russa tem golpes de fundo extremamente potentes e ganhou diversos jogos na base do "overpower" (como dizem os norte-americanos), ou seja, batendo forte de maneira que a adversária não consiga alcançar a bola, ou erre, ou atrase a batida, ou dê uma bola mais fácil em seguida. Na decisão de Wimbledon, quando não conseguiu encaixar bem o seu saque, Sharapova viu sua oponente, Petra Kvitova, alta e robusta, soltar o braço na devolução e nas trocas de bola sobrepujando-a, fazendo-a encolher (e encurtar) os golpes e correr atrás da bola pela quadra toda, quase sempre chegando atrasada. Tudo o que ela tinha feito com as adversárias até aquela rodada, ela estava sentindo na pele naquele momento. E qual foi sua resposta? Nenhuma. Ela até tentou bater mais forte do que a tcheca em alguns momentos, mas, oscilante no saque e sem saber variar, foi completamente dominada e perdeu a chance do bicampeonato em Wimbledon. Faltou a Sharapova o que tem faltado a muitas das mulheres no circuito da WTA: saber mudar a tática quando uma delas não está funcionando.
BATER FORTE É TÁTICA?
A princípio, não há nada de mal em pensar em ter como tática "bater mais forte que o adversário", porém, digamos que isso não seja uma estratégia muito sabia e muito menos bem elaborada. "Bater forte" deveria significar "jogar nos seus próprios termos", ou seja, tentar ter o controle dos pontos através de um conjunto de ações inteligentes e não somente da força dos músculos. A história de David e Golias se repete mundo afora nas quadras de tênis, por isso, os que possuem esse espírito de Golias precisam aprender a usar mais a mente e não somente os músculos. Pois, quando a combinação cérebro e músculos está afinada, ela é quase imbatível. Então, não se deixe levar apenas pela força dos braços e mais do que exercitar os músculos jogando tênis, exercite a mente.