O presidente da ATP diz ser um grande fã do tênis e acredita que, em menos de dois anos diante da entidade, ainda não alcançou algo grandioso. Porém, além de ter promovido várias mudanças no período, seu maior feito foi ter mudado mentalidade da associ...
Arnaldo Grizzo em 12 de Novembro de 2007 às 09:31
Aliás, desde que assumiu o comando, ele afirma que quer, cada vez mais, aproximar os fãs do esporte e, para isso, implantou uma nova mentalidade na ATP. Com a experiência de quem já esteve nos mais altos escalões da empresa de Walt Disney, solicitou diversas pesquisas de opinião pública e, como manda o figurino, começou a tomar decisões baseadas nas respostas que recebia dos fãs. Ou seja, a maior mudança que promoveu não foi na regra de duplas, no hawk-eye, no formato do circuito ou até mesmo na infrutífera tentativa de introduzir o round-robin. Seu maior feito até agora foi começar a ouvir os espectadores, algo que talvez nunca tivesse sido feito antes.
Durante o Brasil Open deste ano, a Revista TÊNIS entrevistou Mark Young, CEO da ATP para as Américas, e ele se mostrou empolgado com os novos rumos da associação. Desde então, com a prestimosa ajuda de Luiz Carvalho e Davina Aryeh, tentamos contato com de Villiers. E, durante o US Open, o evento de maior público do tênis no mundo, conseguimos agendar um precioso horário para conversar com o presidente. Por coincidência, a entrevista foi marcada para a sexta-feira, 31 de agosto, dia em que a ATP anunciou o novo formato do circuito para 2009.
Mudanças
Pela manhã, de Villiers convocou a imprensa e falou sobre a criação dos torneios “1000”, “500” e “250”. Estes eventos, designados por sua pontuação (os números que representam os pontos obtidos pelo campeão), serão intercalados com os quatro Grand Slams de forma a deixar a turnê mais simples de ser entendida pelos fãs e menos penosa para os tenistas. Sendo assim, os atuais Masters Series se equivaleriam aos torneios “1000” e terão a participação obrigatória dos melhores tenistas (chamados de mandatários).
Atualmente, são nove os Masters Series (Indian Wells, Miami, Roma, Monte Carlo, Hamburgo, Cincinnati, Canadá, Madrid e Paris) e, em 2009, serão apenas oito, com a exclusão de Hamburgo e o acréscimo de Xangai, sendo que Monte Carlo será do grupo dos “1000”, porém não mais mandatário. Haverá ainda 10 torneios do tipo “500”, que ocorrerão em Rotterdam, Dubai, Acapulco, Memphis, Barcelona, Washington, Pequim, Tóquio, Basel e Valência. “A nossa igreja não são as pessoas que estão sentadas aqui. Nossa igreja não é o fã inflexível. Estes continuarão com o tênis e amarão o tênis. Chame-o do que quiser e eles ainda o assistirão porque isso é o que é: isso ainda é tênis. Mas temos que atrair mais pessoas para o esporte”, afirmou de Villiers na coletiva.
Mas nem tudo foram flores durante a conversa. O presidente da ATP precisou abordar o problema das apostas. “O elefante enfim veio à tona”, riu quando um repórter tocou no assunto. De Villiers explicou longamente todos os programas montados para evitar a corrupção no meio do tênis, mas se irritou quando um jornalista afirmou conhecer tenistas envolvidos em apostas e achar incrível a ATP nunca ter pego alguém. “É muito fácil especular”, retorquiu de Villiers.
Não tenho problemas com críticas. Sempre espero que todas as mudanças do meu período sejam difíceis, especialmente em um esporte que não muda muito. Mas estamos sendo honestos com nossos fãs |
A coletiva terminou com um clima um pouco mais ameno, mas o fantasma das apostas iria crescer ainda mais nas semanas seguintes, com declarações e especulações surgindo de diversos lugares. A nossa entrevista estava marcada para o começo daquela tarde. Na hora determinada, o assessor da presidência, Kris Dent, conduziu a reportagem da Revista TÊNIS até o camarote da ATP no Arthur Ashe Stadium e, no caminho, gentilmente fez a seguinte observação: “Sem perguntas sobre apostas, ok?”
Ok Kris, a pauta original não tinha a ver com isso mesmo... Sendo assim, durante quase meia hora, Etienne de Villiers conversou sobre o seu trabalho frente à ATP e o mercado de tênis mundial. Confira.
Nestes quase dois anos, você promoveu diversas mudanças em um esporte que prima pelas tradições e, por causa disso, você tem sido muito criticado. Como lida com as críticas?
Não me importo. Não tenho problemas com críticas. Sempre espero que todas as mudanças do meu período sejam difíceis, especialmente em um esporte que não muda muito. Mas estamos sendo honestos com nossos fãs. Ouvimos o que eles dizem e vemos se as coisas que estamos fazendo estão funcionando ou não. Se elas funcionam, permanecem. Se não, param. Se você está preparado, é experiente, é honesto sobre as experiências, honesto com seus eleitores... Eu não me importo com as críticas. Isso é bom...
Neste período, qual foi sua maior conquista até agora?
Não acho que tenha alcançado nada que possa ser considerado grande ainda. O que pude fazer foi montar um time forte ao meu redor, do qual estou muito orgulhoso. Conseguimos reunir algumas pessoas ótimas, aquelas que já estavam e aqueles que vieram para ajudar a fazer essa caminhada. E então somos capazes de falar em uníssono como um esporte, mais resolvido do que era antes. Sinto-me muito bem com o fato de estarmos trabalhando muito mais próximos com a WTA, ITF, mais próximos dos fãs. Estamos todos comprometidos em fazer o esporte falar com uma só voz, pois este é um esporte só, o tênis.
Como sua experiência na Disney pode ajudar o tênis?
Acho que a minha experiência nos negócios podem ajudar o tênis de maneira que possamos dar aos fãs mais do que eles gostam. Estamos promovendo uma enorme quantidade de pesquisas e acho que entendemos melhor do que as pessoas gostam ou não. Tentaremos corrigir isso e dar-lhes um produto melhor, um jogo mais bem comercializado. Atualmente é difícil para o fã comum entender do que se trata.
Tênis é um esporte sério demais? Precisa ser mais divertido?
Não acho que o tênis seja um esporte “sério” (tenso). Se você observar os nossos jogadores, eles são grandes personalidades e cada um é de um tipo diferente. Apenas precisamos mostrá-los mais, mais destas diferenças e, obviamente, o que eles fazem nas quadras.
Ultimamente, a ITF tem se preocupado em fazer as pessoas jogarem mais tênis. Isso também é uma preocupação da ATP?
Somos responsáveis pelo esporte profissional masculino e o nosso papel é fazer o esporte crescer neste nível. E tudo o que ajuda o esporte a crescer, a estimular o esporte, é uma boa coisa. Sim, nós estamos – não preocupados – mas
Como assim?
Muito do que leva os jovens para o esporte é uma associação com os grandes profissionais. Se você olhar para a atratividade do futebol no Brasil é por causa dos grandes heróis que jogaram, como Pelé, Garrincha. Eles são os grandes modelos que farão os jovens se interessarem pelo esporte. Quanto mais “inspiradores” pudermos tornar nossos jogadores, maior será o nosso esporte, mais vamos ajudar a aumentar as categorias de base.
"Sinto-me muito bem com o fato de estarmos trabalhando muito mais próximos com a WTA, ITF, mais próximos dos fãs. Estamos todos comprometidos em fazer o esporte falar com uma só voz, pois este é um esporte só, o tênis"
Conversei com Mark Young durante o Brasil Open...
Eu vi.
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"Somos abençoados por termos Roger. Um esporte que tem alguém tão bom quanto ele, tão responsável e comprometido, é muito abençoado. Acho que o esporte deve muito de seu crescimento ultimamente a Roger" |
E ele estava muito contente. O que você fez para deixar o pessoal tão entusiasmado?
(risos) Acredito que é um conjunto de coisas... Acredito fundamentalmente que amar o que você faz é uma parte vital de ser bem sucedido na vida. Acho que nos cercamos de pessoas que estão apaixonadas pelo que fazem. Reconhecemos que cometeremos erros, que vamos assumir riscos e tentar coisas. E também gosto de pensar que encorajo as pessoas a fazer as coisas e se sentirem responsáveis por algo. Dar mais responsabilidades para as pessoas e tentar compartilhar uma visão de algo, é realmente excitante. E, por fim, se divertir com isso. Rir, rir muito. Isto é esporte...
"Quanto mais ‘inspiradores’ pudermos tornar nossos jogadores, maior será o nosso esporte, mais vamos ajudar a aumentar as categorias de base" |
Pela manhã, você citou Phil Anderton durante a coletiva, e Mark Young também falou muito dele. Ele é o grande nome por trás das ações da ATP? O que ele faz?
Ele é um extraordinário homem de marketing. Ele vem de um background de marketing excelente, em firmas como Coca-Cola, Procter & Gamble. Mas marketing não é uma palavra de ordem, marketing é uma disciplina, é um foco e uma obsessão com o consumidor. E ela começa por entender uma situação: o que o seu consumidor sente, o que a sua marca sustenta, os valores que você criou. E, assim, moldar tudo ao redor disso, sua distribuição, seu preço, seu produto e sua promoção. Ele trouxe estas disciplinas para cá e nós compartilhamos muitas destas coisas. Introduzimos muito mais análises baseadas em fatos, e decisões baseadas em fatos e em pesquisas. O que fez uma grande diferença para o esporte que tradicionalmente era conduzido apenas por opiniões. Todo mundo tem muitas opiniões e muitas delas eram de pessoas do meio. Então, havia poucos fatos sobre os fãs “comuns” e os fãs gostariam de estar mais envolvidos com o tênis. E quando você os ouve e avalia o que dizem, você começa a encontrar a maneira certa de agir.
O que causou essa mudança de mentalidade na ATP?
Isso nunca foi uma mudança de mentalidade. Nunca olhei para o que estava acontecendo no passado, simplesmente olhei o que precisávamos fazer. Na Disney, éramos obcecados por pesquisas. Pesquisávamos 60 shows que produzíamos por semana no mundo todo. Toda semana você pegava informação sobre cada show, e é assim que se informa sobre como está progredindo. Para mim, não foi difícil começar isso, pois vim para o esporte como um fã e continuo sendo um fã. Olho para ele como um fã olharia e tento entender como eu me sentiria mais atraído para certas coisas ou não. Como não sou o único fã, então tenho que conseguir o máximo de informações.
É verdade que a ATP nunca teve orçamento para marketing antes?
Não é verdade. Sempre tivemos um orçamento de marketing. Acho que era ao redor de um US$ 1 milhão, US$ 800 mil dólares por ano, mas o foco era em comunicação e, por causa do seu tamanho, era muito esporádico em termos do que estavam tentando fazer... E eles fizeram algumas coisas boas no passado, com o programa New Balls Please, que foi excelente. Mas eles nunca tiveram dinheiro suficiente para continuar com eles, nunca tiveram exposição e promoção adequadas.
O mercado de tênis está crescendo globalmente?
Sim, o tênis está crescendo. Está crescendo imponentemente nos últimosquatro anos de um ponto que... Você sabe, ele declinou durante a década de 90, não hádúvida quanto a isso... Esta também não é uma questão simples de responder, porque são mercados diferences. O esporte está crescendo enormemente no Leste Europeu, por exemplo. Está crescendo geometricamente em lugares como a China. Está crescendo aqui nos Estados Unidos, mas está perdendo para outras formas de entretenimento. Os EUA ainda é um desafio para o esporte. A USTA está fazendo um grande trabalho e está tentando construir o esporte aqui, mas certos mercados são um desafio. Acreditamos que estamos em uma posição muito boa agora. Temos diversos torneios que querem investir, você viu isso no anúncio que fizemos na criação dos “1000”. Mais de US$ 500 milhões de investimento estão vindo para o esporte na camada mais alta. E estamos analisando o número de candidaturas que tivemos para os “500” e, de novo, centenas de milhões de dólares estão vindo para o esporte também. Estamos observando isso no número crescente de espectadores. Então, achamos que está crescendo e tudo o que temos que fazer é capitalizar com estes grandes atletas, pois é onde temos nossa maior riqueza... e o momentum.
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O crescimento de um mercado depende basicamente de seu poder econômico?
Não acho. Acho que a Argentina é um bom exemplo de onde o esporte está indo bem sem ter recursos econômicos como nos Estados Unidos, Alemanha ou França. Muitas nações ricas gostariam de ter o sucesso que Croácia, Sérvia ou Argentina estão tendo. Então, não acho que haja uma correlação. Mas não acho que exista uma solução fácil também. Se tivesse a resposta para isso, todas as federações de tênis do mundo me contratariam... (risos)
Mas o circuito não vai atrás do dinheiro somente?
O que estamos fazendo é levar o circuito para onde o crescimento está, para onde há mais potencial. Colocar um dos grandes, “1000”, na China, representa o interesse que temos em um dos maiores poderes globais. Colocar um evento na primavera, na Espanha, visa um grande mercado de tênis. Ao levar o Masters de volta para Londres, não estou seguro que vamos fazer mais dinheiro do que se levássemos para outro lugar. Estamos fazendo isso porque a Grã-Bretanha é um grande mercado, que é pouco servido em termos do que pode ser oferecido para os fãs. Achamos que há um grande potencial para o tênis, em um mercado muito, muito grande. Tendemos a ir ao lugar que seja melhor para o esporte e não aonde podemos fazer mais dinheiro.
Em uma conversa com Larry Scott (presidente da WTA), ele disse que o tênis feminino é mais popular que o masculino atualmente...
(Risos) Como ele mediu isso?
Você concorda?
Acho que o tenis está crescendo... Não vou entrar nessa de quem é mais popular. Acho que se analisar o número de pessoas que assistem no masculino em contraposição ao número de pessoas que assistem no feminino, você vai descobrir que mais pessoas assistem o tênis masculino... Não sei como você define popular... Não entro em discussões de quem está mais forte do que quem. Acho que o esporte deveria crescer. Nós, como esporte, deveríamos ver que este é o mesmo esporte que o das mulheres, e se Larry acha que o tênis feminino é mais popular, ok...
"Ele (Guga) estimulou o esporte em um país que tradicionalmente sempre esteve focado no futebol. Ele é tão famoso quanto Pelé lá. É uma pessoa excepcional" |
E como você lida com a competição natural que há entre as duas entidades, por patrocinadores, mídia?
Acho que estamos trabalhando mais próximos um do outro. Em certas situações seremos competitivos, não há duvida. Mas, em geral, apelamos para diferentes mercados, diferentes coisas. Acho que nos sobrepomos ligeiramente, mas, na maioria das vezes, somos complementares.
Os tenistas não deveriam se empenhar mais para ajudar a promover o tênis?
Temos programas agora no departamento de marketing e pessoas estão se dedicando a administrar os top 25 jogadores do mundo, desenhando uma promoção adequada, estratégias para cada um deles, pensando em como usá-los mais efetivamente, além de apenas submetê-los a entrevistas sem fim, em que não estamos necessariamente otimizando o valor do tempo da pessoa. Então, é muito mais um foco estratégico que temos na promoção de jogadores e eles estão respondendo muito calorosamente a isto, o que é uma coisa boa.
Mas eles não deveriam ser mais acessíveis?
A demanda do tempo deles é grande, então tentamos tudo para conseguir tanta exposição quanto possível. Mas, você sabe, trabalhando com cada uma das equipes de managers deles, tentamos maximizar a demanda de exposição, mas algumas vezes isso significa que algumas pessoas não terão acesso e isso é um problema.
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O que Roger Federer significa para a ATP?
Uma coisa fantástica. Somos abençoados por termos Roger. Um esporte que tem alguém tão bom quanto ele, tão responsável e comprometido, é muito abençoado. Acho que o esporte deve muito de seu crescimento ultimamente a Roger. Estou emocionado. Acho que ele foi a melhor coisa que aconteceu no tênis durante muito tempo.
O que Guga ainda representa para o esporte?
Um atleta excepcional, uma personalidade excepcional. Uma pessoa que trouxe o sorriso para o rosto de muitas pessoas, alguém que trouxe muita alegria... Ele estimulou o esporte em um país que tradicionalmente sempre esteve focado no futebol. Ele é tão famoso quanto Pelé lá. É uma pessoa excepcional.
Como desenvolver o tênis no Brasil? Você teria alguma idéia?
Não. Infelizmente adoraria poder dizer que tenho algo para te dar. Acho que André Silva (representante dos jogadores da ATP) é uma pessoa melhor para se perguntar isso. André conhece o mercado. Não estive no Brasil recentemente. Costumava visitar o país muitas vezes, mas não tenho ido recentemente. Tenho que admitir que não sei o suficiente sobre o tênis brasileiro para falar sobre isso, mas vou ir dar uma olhada em breve. E fazemos isso de novo, o que acha?
Muito bom! Você ainda joga tênis? Com que freqüência?
Sim! quando estou em Londres tento jogar todos os dias. Forço membros do staff (olhando para Kris Dent) para jogar comigo e eles o fazem relutantemente. Amo o esporte. Tenho uma quadra fora de Londres, em Portugal, onde tenho uma casa. Tinha uma quadra quando era jovem, por isso é o esporte que amo. Ombros ruins, contudo... (risos)
"Introduzimos muito mais análises baseadas em fatos, e decisões baseadas em fatos e em pesquisas. O que fez uma grande diferença para o esporte que tradicionalmente era conduzido apenas por opiniões" |
PERFIL
Etienne de Villiers
Nascimento
19 de agosto de 1949 em Pretoria, África do Sul
Formação
Engenheiro Civil – Universidade de Pretoria Recebeu a bolsa-escolar Rhodes para política, filosofia e economia na Oxford University
Currículo
Trabalhou durante 15 anos na Wald Disney Company, sendo presidente da empresa para assuntos na Europa, África e Oriente Médio e da televisão internacional, antes de assumir a presidência da ATP em janeiro de 2006
Família
Vive em Londres com a esposa Anita Os filhos se chamam Paul e Monique