Alguns dos melhores juvenis do mundo se encontraram nos torneios realizados no Brasil
Rodrigo Linhares em 27 de Abril de 2009 às 11:59
Vistas da Terra, as estrelas brilham longe. O poeta dizia até que "as estrelas não sabem que brilham distantes de nós". No entanto, imagine o prazer de poder observar uma estrela ainda em formação, bem do seu lado. Ela ainda não tem tanto brilho e não está em um ambiente tão charmoso como as constelações, mas, mesmo assim, ela decola, alça voo e ganha corpo até atingir um lugar no espaço onde qualquer pessoa, de qualquer parte do mundo, vai poder a observar e admirar.
Quem a viu em formação sempre terá um sentimento peculiar, uma satisfação, um carinho muito diferente daqueles que só a conheceram observando sua beleza no céu, anos luz de distância. No circuito de tênis, antes de decolar, muitas estrelas esquentam seus motores e mostram seu potencial nas maiores competições juvenis do mundo e o Brasil é o palco de duas delas: o Banana Bowl e a Copa Gerdau.
Leciane Siva |
O Banana Bowl foi criado em 1969 pelo visionário e pioneiro Alcides Procópio. Um dos grandes nomes do desenvolvimento do tênis brasileiro na área empresarial e na organização do esporte, Procópio criou o torneio à imagem do Orange Bowl, disputado nos Estados Unidos. Ele queria ver, no Brasil, uma competição juvenil com a mesma importância e representatividade da norte-americana. E conseguiu.
O torneio é uma das principais vitrines de talentos. Entre os brasileiros, por exemplo, alguns campeões são Gustavo Kuerten (16 anos), Jaime Oncins (16 anos) e Fernando Meligeni, que foi campeão dos 18 jogando pela Argentina. Entre os estrangeiros, a lista traz nomes como o dos norte-americanos John McEnroe, campeão dos 18 anos em 1977, e Andy Roddick, campeão em 2000. Os dois lideraram o ranking profissional posteriormente.
Há 26 anos, o Banana tem um grande companheiro que torna o Brasil um dos centros do tênis juvenil mundial no começo do ano. A Copa Gerdau, realizada em Porto Alegre, na Associação Leopoldina Juvenil, também tem uma lista de participantes que fizeram sucesso como profissionais, como a musa sérvia Ana Ivanovic, que pôde ser vista pelos espectadores que assistiram a edição de 2002.
A atual campeã de Roland Garros lembra com carinho dos torneios disputados no Brasil: "Foi provavelmente a melhor viagem da minha carreira. Tive dias maravilhosos na América do Sul. Visitamos muitos lugares e conhecemos pessoas interessantes. Os torneios foram bons, e eu adorei a cultura. As pessoas são mais tranquilas e amigáveis, gostei muito disso. Adoraria voltar ao Brasil se um dia tiver a chance".
BRASILEIROS EM AÇÃO
Na 39ª edição do Banana Bowl, o Brasil teve um desempenho fraco e não havia sequer um representante do País na final de nenhuma das seis categorias disputadas (14, 16 e 18 anos masculino e feminino). Com isso, continuou o jejum nos 18 anos, quando a última campeã foi Roberta Burzagli, em 1991. A chave dos 18 anos, principal categoria juvenil, foi disputada no Lagoa Iate Clube, em Florianópolis, enquanto as outras categorias aconteceram no Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo.
Na Copa Gerdau, o desempenho brasileiro foi melhor e o grande destaque foi o bicampeonato de José Pereira nos 18 anos. A jovem promessa já havia conquistado o título da categoria em 2008 e repetiu o feito. Leciane Silva, campeã dos 14 anos, também chamou a atenção.
#Q#Além da presença e torcida dos brasileiros, estes grandes torneios juvenis são muito especiais pela reunião de talentos de vários países. Cada um com sua história particular, com uma cultura diferente, contando com mais ou menos apoio do que os outros para se aventurar pelo circuito juvenil. A Revista TÊNIS conversou com alguns jogadores estrangeiros que se destacaram nestas competições e, apesar de muito jovens, já têm a responsabilidade de representar o trabalho de formação de tenistas realizado em seu país.
CHILE
Jaime Galleguillos |
O chileno Jaime Galleguillos Lopez passou pelo Brasil, faturou o título do Banana Bowl e ficou com o vice da Copa Gerdau na categoria 14 anos. Seu principal objetivo era conseguir se firmar entre os seis primeiros do ranking da Confederação Sul Americana de Tênis (Cosat) para se classificar para a disputa da Gira Européia. Com as boas campanhas no Brasil, ele terminou em terceiro do ranking. Mas, apesar dos bons resultados, ele conta que praticamente não existe ajuda da Federação Chilena de Tênis. "Se tivéssemos mais apoio, jogaríamos muito mais tranquilos. Sem ficar se preocupando muito se posso ir a este torneio ou não por causa do dinheiro.
Às vezes, jogamos muito pressionados". No Brasil, eles receberam hospedagem e alimentação graças a um convênio da Federação Chilena. "Mas, lamentavelmente, estamos hospedados muito mal. Nada é bom no alojamento", criticou o tenista durante o Banana Bowl. Enquanto não recebe mais incentivo, ele segue com seu sorriso no rosto fora das quadras e com a determinação e persistência que levam seus adversários à loucura durante as partidas.
PERU
Daniel Santos também é uma grande promessa do tênis do continente e não recebe quase nenhum apoio da federação de seu país para competir. "As viagens são 100% bancadas pelos pais dele. A federação ajuda muito pouco. Não é uma federação forte economicamente", explica o treinador peruano, Ricardo Ramos.
O jovem talentoso terminou 2008 como o melhor da América do Sul na categoria 14 anos. Agora, disputa seu primeiro ano na categoria 16 anos. "Estas etapas e estes torneios dão muita experiência e permitem aos garotos terem o espírito competitivo que necessitam", explica Ramos. Daniel é fã de Rafael Nadal e sonha em ser um grande tenista. "Quero ser profissional. Acho que é o que todos sonham.
Graças às ajudas de meu pai e meu treinador, acredito que posso ser". Ainda em seu primeiro ano de 16, ele já se estabeleceu no top 10 do continente.
ARGENTINA
Cara de menina, tênis de gente grande. Carolina Costamagna é a melhor tenista de 14 anos da América do Sul. Diferentemente dos outros atletas, os melhores do ranking juvenil na Argentina têm todas as despesas pagas pela Associação do país para disputarem os torneios da Gira Cosat. "Eles pagam tudo. Meus pais não pagam nada", explica Costamagna, com uma naturalidade surpreendente.
Apesar de ser a líder do ranking, a garota de Córdoba não abre mão dos estudos. "Estou fazendo o colégio. Quando falto, depois tenho um tempo para fazer as provas, não é um problema". Em 2009, ela esteve pela primeira vez no Brasil para jogar o Banana e a Gerdau. Agora, ela se prepara para fazer bonito na Gira Européia: "Estes torneios nos dão muita experiência para conhecer novas meninas, novos jogos, observar o que te falta. Meu objetivo é disputar a Gira Européia, para a qual já estou classificada. Mas, quero ir como primeira do ranking", disse Costamagna.
Carolina Costamagna |
Resultados do Banana Bowl Feminino 14 anos - Domenica Gonzalez (ECU) v. Carolina Costamagna (ARG) 6/4 e 6/3 Masculino 14 anos - Jaime Lopez (CHI) v. Juan Marino (COL) 6/7(6), 7/5 e 6/3 |
Resultados da Copa Gerdau Feminino 14 anos - Leciane Silva (BRA) v. Constanza Vega (ARG) 6/4, 3/6 e 6/4 Masculino 14 anos - Juan Pablo Paz (ARG) v. Jaime Lopez (CHI) 6/4, 6/7(5) e 6/0 |
BOLÍVIA
Para os bolivianos, o apoio da Federação do país também se resume aos convênios de hospedagem e alimentação. Os altos custos com passagens aéreas ficam por conta dos pais. No caso da família Deheza, os gastos vêm em dobro, pois as gêmeas María Ines e María Paula estão entre as melhores do circuito e disputam as principais competições juvenis.
Atualmente, María Paula é a terceira do ranking Cosat de 16 anos, sua irmã é a quarta, e a distância entre as duas é de apenas um ponto. "Primeiro vamos estudar, antes de ir para o tênis profissional. Depois, veremos se nos dedicaremos completamente ao tênis ou se apenas como esporte", contou María Paula que, em 2008, foi campeã do Banana Bowl na categoria 14 anos.