Quando as habilidades físicas se equivalem, a vitória tende a ficar com quem tem mais habilidade mental
Rodrigo Scialfa Falcão em 27 de Janeiro de 2010 às 09:13
Em qualquer esporte as emoções oscilam muito e isso pode ocorrer, inclusive, dentro de uma partida de tênis. Às vezes, o atleta se encontra num momento de plena euforia e prazer por ter fechado um set e ter jogado muito bem. Mas em poucos minutos as sensações, emoções e sentimentos podem mudar bruscamente, como num match-point desperdiçado, num vacilo, ou quando o adversário acerta bolas impossíveis e imprime um ritmo de jogo altamente competitivo e duro. As emoções tomam conta de um jogo, elas estão ali embaixo da pele do sujeito, a todo instante.
Portanto, todo atleta deveria ter um preparo psicológico e emocional incorporado as suas rotinas de treinamento. Na maioria das competições, os jogadores ganham ou perdem dependendo de como eles e seus adversários atuam naquele determinado dia. Com a capacidade física sendo razoavelmente parecida para ambos, o vencedor é geralmente o atleta que tem melhores habilidades mentais. Analisemos, assim, as oscilações em nosso próprio desempenho cotidiano. Como é que em certos dias você não faz nada errado, enquanto que em outros não consegue fazer nada certo? Você não perdeu para suas habilidades físicas, são suas habilidades emocionais que oscilam.
O tênis é um esporte solitário por essência. Por mais que o tenista esteja cercado de olhares, ele está sozinho. Em quadra, é ele consigo mesmo e com o adversário - que você não sabe como irá se comportar durante o jogo. É um esporte que exige autoconhecimento. Excesso de confiança em alguns momentos não é bom, assim como muito medo também prejudica o desempenho. Saber dosar é a característica fundamental, o tal do "equilíbrio emocional". Não é tarefa fácil, mas é possível de ser treinado e aprendido.
Foi-se o tempo em que a ciência achava que os aspectos psicológicos e emocionais estavam separados dos físicos. Toda emoção e sentimento têm um componente fisiológico que repercute no corpo como um todo. Podemos visualizar isso nas rotinas do esporte: é difícil separar algum problema que estamos enfrentando em nossa vida cotidiana e não levá-lo para dentro de quadra. Controlar esses anseios é essencial.
A influência dos sentimentos
Emoções e sentimentos negativos, como a raiva e a angústia, secretam hormônios relacionados ao estresse que, por sua vez, aumentam exageradamente os batimentos cardíacos e podem impedir que nos concentremos adequadamente. Sentimentos positivos, como a euforia e autoconfiança exagerada, também podem atrapalhar, pois deixam o corpo mais relaxado e menos ativado, consequentemente mais disperso e isso pode evitar que tenhamos a atenção adequada durante algum momento decisivo da partida.
O objetivo de se trabalhar as habilidades psicológicas com os atletas é controlar a ansiedade deles antes e durante os jogos. Perceber o foco de atenção e concentração de estímulos internos e externos que podem atrapalhar e repercutir negativamente em sua performance e em seu controle emocional.
Outras habilidades também devem ser analisadas, sempre objetivando contribuir para o desenvolvimento psicológico do esportista e para que isso possa se tornar mais um diferencial em sua capacidade competitiva. Elementos que seguramente repercutirão na sua capacidade de enfrentamento, de controle da intensidade de ativação, bem como na sua autoestima e influenciarão na sua motivação, e que fazem toda a diferença na hora de separar os vencedores dos vencidos.
Estas habilidades são ampliadas através de treinamentos específicos, aprendizagem de técnicas e utilização de instrumentos que permitam ao atleta explorar seu potencial psicológico e os aspectos que irão influenciar seu desempenho final. O objetivo do psicólogo do esporte é trabalhar o desenvolvimento cognitivo, comportamental e emocional do atleta, visando sua saúde (física e mental).
É um engano acharmos que a psicologia do esporte só trabalha com os aspectos negativos ou com os problemas dos atletas. É importante enfatizar que a preparação psicológica não será eficiente se ocorrer apenas nos momentos agudos da competição, ou em fases negativas como frequentemente acontece.
A função é auxiliar a potencializar os aspectos positivos que o indivíduo possui para que esse seja mais um diferencial no seu rendimento.
Rodrigo Scialfa Falcão - é psicólogo especialista em Psicologia do Esporte - falcao.rs@gmail.com