Pode parecer coisa de profissional, mas você também pode tirar vantagem das formações “australianas” na dupla
Por Arnaldo Grizzo em 27 de Outubro de 2014 às 00:00
O duplista saca sobre a cabeça de seu parceiro abaixado na rede, a bola volta e o voleador, que estava no centro da quadra, define o ponto. Parece coisa de profissional quando vemos essa jogada no circuito. No entanto, a tática “australiana” e suas variações, apesar de consideradas “avançadas”, são comuns e relativamente simples de executar, apesar de precisarem ser bem ensaiadas, ou melhor, bem combinadas, para funcionar.
A primeira regra para conseguir realizar uma “australiana” é a comunicação
Se você é um jogador de duplas, sabe que a formação clássica diz que um tenista fica na rede e o outro no fundo, cada um em um lado da quadra, ou seja, se você está sacando na direita, seu parceiro estará posicionado na rede na esquerda. A formação “australiana” original, porém, coloca os dois tenistas do mesmo lado da quadra na hora do saque. Isso mesmo, você saca com seu parceiro em sua direção na rede.
Por que isso? A ideia dos duplistas australianos, por isso o nome da tática, era proteger o lado fraco do sacador ou limitar um golpe forte do recebedor adversário. Vamos dar um exemplo. Você é destro e tem um backhand ruim. Quando saca no lado da vantagem, a todo momento seu oponente está dificultando a sua vida com ótimas devoluções cruzadas em direção ao seu backhand problemático. A solução? Coloque seu parceiro daquele lado na rede, saque e deixe a paralela livre para seu adversário jogar. Assim, além de ele ter menos quadra para jogar (a trajetória da cruzada é sempre maior do que a paralela) e precisar fazer com que a bola passe sobre a parte mais alta da rede (o meio da rede é mais baixo), você poderá se defender com o forehand.
Contudo, com o tempo, a formação “australiana” foi sendo adaptada e hoje a maioria dos duplistas usa o que os norte-americanos chamam de formação em “I”, que é quando os dois tenistas ficam em linha e, depois do saque, cada um vai para um lado da quadra, no intuito de confundir o recebedor adversário. É uma tática muito eficiente e você, mesmo não sendo profissional, pode e deve acrescentá-la no seu jogo.
Jogar com a formação “australiana” e suas variações pode até parecer coisa de profissional, mas você também pode tentar no seu clube. Mas antes de ir para a quadra e se agachar no meio da quadra quando seu parceiro está sacando, é melhor discutir com ele essa estratégia. Do contrário, o que poderia ser uma arma da sua dupla vai se tornar em uma grande dor de cabeça para vocês, ou então vai ser motivo de piada entre os amigos.
Portanto, a primeira e fundamental etapa dessa tática é a comunicação entre os parceiros. Vocês precisam saber o que cada um vai fazer e como vai fazer. Geralmente, quem define quando e como executar essa tática é o sacador, pois ele é quem precisa ter o feeling de que está tendo problemas para confirmar o saque diante das boas devoluções de seus oponentes. Além disso, ele tem a opção de colocar o saque em um ponto pré-determinado, o que é vital para a boa execução da tática.
O sacador deve saber para onde o parceiro vai se deslocar após o saque, assim como o parceiro precisa saber onde o sacador pretende colocar o serviço
Dessa forma, o sacador diz como e onde vai sacar e indica ao voleador qual lado da quadra ele deve defender logo após o serviço. Vale lembrar que é preciso combinar isso também nos segundos saques. Mas, caso vocês não queiram ficar conversando a todo instante, há uma maneira simples de fazer essas combinações: com sinais.
Num dos casos, o sacador diz ao parceiro onde e como pretende executar o primeiro e, caso esse não entre, o segundo serviço. Sabendo disso, o voleador, antes de o ponto começar, coloca a mão para trás e indica um lado, que é a direção para qual ele pretende ir depois do saque. O sacador pode aceitar ou não a sugestão. Se aceitar, apenas diz algo para confirmar, um “Ok”, por exemplo. Se não, também diz e, dessa maneira, o voleador aponta o outro lado. Apesar de o sacador ter a primazia da escolha de onde vai posicionar o saque, o voleador também pode palpitar e, com sinais, indicar ao parceiro, onde gostaria que o saque fosse executado.
Em uma formação “australiana”, o sacador deve ficar mais próximo do centro da quadra
Tanto para a formação “australiana” quanto para a em “I”, o sacador precisa estar próximo do meio da quadra. Do contrário, vai precisar correr muito para cobrir as áreas que ficaram desprotegidas. Portanto, não faz sentido, como na formação clássica, sacar dos cantos da quadra. Isso só fará com que você tome diversos winners na paralela. Ao sacar do centro, contudo, você poderá se deslocar com mais facilidade para cobrir o lado oposto ao do seu parceiro. Além disso, seu ângulo para sacar no “T” – a opção mais indicada – é muito melhor.
Ao executar a formação em “I”, a melhor tática de saque é mirar no “T” e também bater um serviço com mais efeito, um quique, em vez de um chapado. Isso vai dar mais tempo de reação tanto ao sacador quando ao voleador para que assumam suas posições em quadra. Além disso, sacar no “T” diminui o ângulo do recebedor para tentar uma paralela no corredor ou então uma cruzadinha muito angulada.
No entanto, como a ideia dessa formação é não ser previsível, apesar de o saque quique fechado ser o mais eficaz, é preciso combinar variações de serviço, do contrário a jogada perde toda a eficácia. Portanto, às vezes, arrisque um saque aberto chapado ou então mire no corpo. Enfim, faça com que seu adversário não se sinta confortável recebendo. Ou seja, nesse tipo de estratégia, é preciso ter um saque minimamente razoável. Se seu saque for muito fraco, as chances de sucesso diminuem.
Muitos tenistas não arriscam a formação em “I” mais por medo de levar boladas de seus parceiros quando estão na rede do que por não acreditarem na eficácia da tática. Todavia, basta dar uma boa olhada em como os profissionais se comportam para perceber que, às vezes, é mais fácil levar uma bolada quando estamos em uma formação clássica do que em linha, a não ser que seu parceiro seja capaz de executar saques péssimos. Mas, aí, talvez seja melhor você nem tentar esse tipo de formação, ou tampouco jogar ao lado dele...
Para a formação em “I”, o voleador deve ficar próximo do centro da quadra agachado. Se a cabeça estiver no nível da rede, a chance de ser atingido pelo parceiro é ínfima. Não é preciso ficar muito perto da rede, pois quanto mais perto, maior a chance de levar uma bolada, mas, mais importante do que isso, assim que o recebedor devolver a bola, você precisa se deslocar diagonalmente e não lateralmente. Ao avançar na diagonal, você pode interceptar a bola da melhor forma, atacando-a.
O voleador tem papel crucial. Ele precisa ser ágil e rápido para tentar interceptar a devolução
Uma das razões de optar pela formação em “I” é tentar interceptar a resposta dos adversários depois de criar essa confusão em suas mentes. É por isso que o voleador precisa saber para onde vai o saque e definir sua movimentação. Ele precisa estar muito atento, pois, assim que o saque passa sobre sua cabeça, ele deve levantar e estar preparado para ir na direção pré-definida. Caso a bola venha em direção ao lado escolhido, ele deve estar avançando em diagonal, fazer a parada de pernas e tentar definir com o voleio. Ele também será responsável por interceptar devoluções mal feitas que flutuem, especialmente no meio – e mesmo no lado oposto ao que ele deveria ir, desde que tenha combinado isso com seu parceiro que, por exemplo, decidiu ficar no fundo da quadra após o saque.
O voleador tem papel crucial nessa tática. Ele precisa ser rápido e ágil, e não deve dar pistas de qual direção vai tomar após o saque, para não facilitar a vida dos devolvedores. Um bom voleador vai esperar até o último segundo possível para fazer seu movimento, pois assim, caso a bola venha no meio, mesmo que rápida, ele vencerá o ponto facilmente.
Quanto mais rápido você conseguir uma devolução, mesmo que não seja no cantinho da quadra, maior será a dificuldade dos rivais em tentar se defender
A formação em “I” é uma opção para quem gosta de sacar e volear na dupla, mas também pode ser usada pelos que preferem ficar no fundo aguardando o melhor momento de subir à rede. Na opções de saque-e-voleio, o sacador geralmente escolhe ir para o lado do forehand, pois teoricamente tem mais domínio do voleio desse lado.
AntídotosSua dupla está perdida diante de uma parceria que, a todo momento, usa a formação em “I”? Pare, respire fundo e pense taticamente você também. Não adianta ficar com raiva do voleador adversário e mirar nele com toda a força. Isso só vai facilitar a vida dele para matar o ponto. Se seus oponentes estão usando esse tipo de estratégia, é porque estão com receio das devoluções. Sabendo que o saque no meio é a melhor tática para essa formação, fique mais atento a esse tipo de serviço e antecipe-se sempre que possível. Ao tentar a formação em “I”, seus adversários deixarão enormes porções da quadra descobertas e, quanto mais rápido você conseguir uma devolução, mesmo que não seja no cantinho da quadra, maior será a dificuldade deles em tentar se defender. Se a formação em “I” requer muita conversa entre os parceiros que a estão executando, não é diferente com os adversários. Quanto mais vocês conversarem para definir táticas para anular essa estratégia, melhor. Portanto, antes de o ponto começar, avise seu parceiro do que pretende fazer: devolver na cruzada ou na paralela; para que ele esteja pronto para agir em seguida. Dessa forma, se os rivais estão lhe dando a paralela, arrisque algumas. Mas, se perceber que sua devolução está indo alta e o voleador oponente se deliciando com ela, converse com seu parceiro para que ele possa assumir um posicionamento mais conservador e tentar impedir que o voleador adversário finalize o ponto imediatamente. Muita gente, diante da formação em “I”, deixa de responder o saque na cruzada ou no meio. No entanto, essas opções não devem ser descartadas, especialmente se você conseguir baixar bem a bola, impedindo que o voleador rival faça seus golpes acima da linha da rede. Se ele precisar jogar o voleio para cima, sua dupla terá uma nova chance de atacar. Se optar pela cruzada, lembre-se de avisar seu parceiro para que ele possa reagir rapidamente caso sua resposta não seja tão eficaz. Se a ideia da formação em “I” é confundir, a dos devolvedores também precisa ser. Para isso, você pode variar com lobes de devolução, especialmente quando percebe que os oponentes estão sacando e voleando e vindo muito perto da rede. Lobar fará com que um deles tenha que recuar (e, às vezes, ambos), o que pode lhe dar tempo para atacar. |