Trocar de modelo de raquete é uma decisão difícil, mas, muitas vezes, crucial na vida de um atleta profissional ou amador
por Arnaldo Grizzo em 23 de Agosto de 2013 às 00:00
A IDADE CHEGA PARA TODOS. E parece que até mesmo o maior gênio que o tênis já viu sente o efeito dos anos. Prova inconteste disso é a sua tentativa de mudar de raquete depois de mais de 10 anos jogando com um modelo que, nesse tempo, passou apenas por minúsculas alterações. Sim, Roger Federer, aos 32 anos, reconhece que precisa mudar algo em seu jogo para continuar tendo sucesso em um circuito cada vez mais competitivo.
A precoce derrota em Wimbledon, onde havia sido campeão no ano passado, fez com que o suíço voltasse para casa antecipadamente e, com um tempo a mais livre, ligasse para a Wilson e pedisse para que lhe trouxessem um novo modelo de raquete para testar. “Em diversas ocasiões estive próximo de fazer mudanças em minha raquete. Mas, então, quase sempre, o problema era a falta de tempo”, admitiu Federer.
Com duas semanas extra para treinar, ele não só decidiu empunhar uma raquete de cabeça maior como também colocá-la em prova em dois torneios que não estavam em seu calendário original de 2013: Hamburgo e Gstaad. No primeiro, atingiu a semifinal. No segundo, parou na estreia. Mesmo com as derrotas inesperadas, o suíço pareceu relativamente satisfeito com a troca. “Até agora, estou feliz, mas preciso de muito mais horas de quadra para ver se isso é uma boa decisão”, revelou.
O pouco tempo de teste até o momento, não deu a Federer a segurança suficiente para fazer a troca já antes do US Open. No Grand Slam nova-iorquino, o suíço decidiu jogar com sua “antiga” Pro Staff 90, mas não descartou a troca.”Vou fazer mais testes com a raquete nova quando tiver mais tempo disponível após o US Open. Eu estava jogando há quase um mês com o modelo preto, mas é um protótipo. No fim, senti que precisava simplificar as coisas e jogar com o que conheço melhor”, explicou.
Essa dúvida que certamente paira sobre a cabeça do maior vencedor de Majors (em simples) de todos os tempos é a mesma dúvida que surge na mente de qualquer tenista amador que vê os anos chegando e encontra-se preso a um estilo de equipamento com o que está acostumado, porém, quase nunca é o melhor para o seu jogo no atual estágio da carreira.
Essa mudança, contudo, não é fácil. No quesito troca de raquete, é simples atualizar seu equipamento por outro similar, nos mesmos moldes, mas, partir para algo realmente diferente, não. Pouco tempo depois de se aposentar, Pete Sampras veio a público e revelou, em tom de lamento, nunca ter tentado experimentar outras raquetes, especialmente no fim de sua carreira. “Deveria ter optado por modelos mais modernos, de cabeça maior, especialmente no saibro”, desabafou o norte-americano, que hoje incentiva Federer nessa troca. “Ele poderia jogar com um cabo de vassoura se quisesse. Mas uma raquete de cabeça maior pode ajudar em algumas áreas, especialmente com os backhands altos. Além de ganhar um pouco mais de potência no saque. Acho que vale a pena tentar. Não acho que ele deve entrar em pânico e tentar mudar tudo”.
Sampras acredita que, para que essa mudança de raquete se concretize, o suíço precisa apenas ganhar alguns jogos duros. Isso lhe daria a confiança de que fez a coisa certa. Para o norte-americano, a questão da troca de raquete “é muito mental”, por isso, precisa ser trabalhada durante um bom tempo.
Não devemos ficar presos às raquetes pesadas com as quais nos acostumamos
Mudar de raquete é mesmo algo bastante complicado no circuito profissional. Até mesmo hoje vê-se pouquíssimos tenistas experimentando modelos diferentes dos quais estão acostumados, tanto que, os grandes ídolos, durante suas carreiras, ficam ligados a uma só marca e modelo. Não há quem não vincule Sampras à sua Pro Staff 6.0, por exemplo. André Agassi, por sua vez, tornou famoso o modelo Radical da Head. Voltando mais no tempo, John McEnroe eternizou a Dunlop 200 (antes, a Maxply de madeira também). Mais ainda, Jimmy Connors simplesmente não largava suas Wilson T2000. Ele era tão ligado a esse modelo que, mesmo depois que parou de ser fabricado, Jimbo saiu mundo afora comprando essas raquetes de quem as tivesse.
Para os brasileiros, por exemplo, Gustavo Kuerten representa as Head Prestige. Uma legião de fãs as comprou. Poucos, porém, lembram-se que, em 2003, depois da primeira cirurgia no quadril, o catarinense tentou mudar. Durante alguns torneios preparatórios para o US Open, ele usou um modelo da linha Extreme, mais leve do que estava acostumado. Perdeu na primeira rodada e não deu prosseguimento aos testes.
Todo tenista que hoje tem por volta de 40 anos certamente se lembra quanto tempo demorou para os profissionais de meados da década de 1970 até 1980 deixarem de usar os antigos aros de madeira. Ou seja, definitivamente não dá para dizer que trocar de equipamento seja algo simples e corriqueiro. E se para um profissional – que está toda semana em quadra, treinando, jogando – essa mudança exige muita coragem, paciência, ajustes e disciplina, para um amador também não é fácil.
Mark Mason, proprietário da loja Mason’s Tennis em Nova York – que está há quase 40 anos no mercado e já assessorou inúmeros tenistas amadores e profissionais – diz: “Tive esse problema [troca de raquete] com muitos dos meus clientes que estão ficando velhos e usaram raquetes pesadas por toda a vida”. O especialista afirma que não tem medo de dizer aos tenistas mais velhos que é preciso, sim, fazer essa mudança.
“Faço-os baixar de 300 gramas se eles estão com idade acima de 50 anos, e para baixo de 315 gramas se estão com mais de 40”, aponta Mason, que segue nas dicas: “Quando se fica velho, você perde velocidade, então não chega na bola tão rapidamente. Portanto, precisa de uma raquete que possa manusear facilmente – para que a cabeça da raquete golpeie a bola em frente ao seu corpo. Da mesma forma, ao ficar mais velho, você deveria optar por um modelo de cabeça maior, que vai lhe dar mais potência. Perdemos massa muscular com a idade e deve-se compensar isso com um aro mais potente. Também aconselho os jogadores de dupla a usarem raquetes mais leves para terem manuseio mais rápido, já que é preciso reagir rapidamente nessa modalidade. Para tenistas acima de 60 anos, gosto de recomendar aros com cabeça de 110 in2 ou 115 in2, com peso entre 260 e 280 gramas, pois, nessa fase, o trabalho de pernas realmente ficou mais lento e a raquete precisa reagir mais velozmente. Obviamente que há exceções à regra, mas isso é um bom esquema para seguir”.
Outro expert em equipamentos, Roman Prokes – que trabalhou com diversos profissionais – segue a mesma linha de raciocínio e diz: “Quando se fica um pouco mais velho e mais lento, precisa de ajuda, pois não se consegue chegar na bola. Não se trata de mãos, mas de pés”, e completa: “Mudanças não são fáceis para ninguém na vida”.
Como se pode ver, optar por raquetes mais leves e de cabeça maior não é algo somente para tenistas que estão passando dos 40. Federer fez 32 recentemente e o modelo que estava testando era maior, com 98 in2, ganhando cerca de 50 centímetros quadrados a mais de área em relação à sua costumeira Pro Staff de 90 in2. Fora o tamanho da cabeça, contudo, há pouca informação sobre as requisições do suíço.
Segundo, Eduardo Wetzel, gerente da Wilson no Brasil, não há segredos: “O engenheiro da marca, Ron Rocci, está com Federer ainda ajustando detalhes da raquete que ele usará. Não há mistério, ele quer um desenho de raquete que o acompanhe em sua nova etapa, e ela facilitará seu sweetspot e sua potência. Até agora não se sabe nada mais. Mas não há intenção de criar um segredo. Quando Federer, junto ao engenheiro da Wilson, decidir, todos saberemos”.
É nítido que um aro maior e mais largo traz mais potência. No caso de Federer, percebe-se que o padrão de cordas da raquete anterior (16 x 19) foi mantido no modelo que testou, o que também significa um ganho em efeito. Onde ele perde? Em controle. “Com raquetes maiores, quase sentia que estava perdendo o controle”, lembra Ivan Lendl, que sempre jogou com um modelo da Kneissl. “Os tempos mudaram, contudo, e talvez agora você não perca controle”, aponta o atual treinador de Andy Murray.
E, realmente, a tecnologia mudou bastante da década de 1980 para cá. O trabalho com diferentes materiais possibilitou que as raquetes tivessem cabeças cada vez maiores (aumentando o sweetspot – ou seja, o ponto ideal de contato com a bola – e a potência) sem que o controle fosse tão prejudicado. Novak Djokovic, por exemplo, usa 100 in2, assim como Rafael Nadal. A raquete de ambos pesa cerca de 320 gramas. Já Serena Williams vai além, com 104 in2 e apenas 303 gramas. Sendo eles tenistas tão fortes, só mesmo o avanço da tecnologia para explicar que seus golpes não voem longe.
Federer, porém, é “das antigas”. Seu jogo eclético, com a clássica esquerda de uma mão, é algo que vem sendo “substituído” com o tempo, assim como sua raquete, a Pro Staff 90, com mais de 350 gramas e uma cabeça diminuta. Pode-se dizer que poucos são capazes de fazer o que ele faz com uma raquete assim. Dessa forma, nada mais natural que ele pense em trocar, especialmente vendo que seus adversários têm lhe desafiado no seu golpe mais confiável, o forehand – que vem perdendo força.
Quando mudar a tensão e o tipo das cordas já não surte efeito, é hora de mudar de modelo de raquete
Geralmente, antes de partir para uma mudança mais radical, a maioria dos tenistas, profissionais ou amadores, opta por alterar alguns detalhes que já farão diferença. O primeiro deles é a corda.
Quando você está perdendo potência nos golpes, a primeira providência a ser tomada é baixar um pouco a tensão. Um pequeno ajuste aí já pode fazer com que a troca de raquete seja postergada. Se a questão for algum desconforto, usar filamentos mais macios também ajuda. As opções hoje são inúmeras e valem ser testadas.
Todavia, caso uma mudança na tensão e no modelo da corda não surta o efeito desejado e você continue sofrendo com golpes pouco profundos ou então com dores no braço cada vez mais intensas, é hora de trocar o modelo da raquete. No princípio, não é preciso radicalizar e tentar algo completamente diferente do qual está acostumado. Porém, de nada adianta mudar para algo exatamente similar, com mesmo peso e tamanho de aro, por exemplo.
Acredite, assim como Federer provavelmente vai sofrer um pouco para se adaptar ao novo modelo, você também dificilmente terá uma adaptação imediata. Quando admitiu que estava testando uma nova raquete, o suíço disse: “Uma mudança de raquete, na minha opinião, é uma das maiores mudanças de um tenista”. Então, será preciso paciência, pois a raquete não vai lhe devolver tudo o que você perdeu (especialmente no quesito movimentação) com a idade. Esteja preparado para fazer os ajustes necessários e voltar a vencer.
Experiência própriaComecei a jogar tênis em meados da década de 1980. Lembro-me que as raquetes de madeira, nessa altura já ultrapassadas, ainda viviam na mente das pessoas. Tanto que, minha tia – que tinha uma guardada de seus tempos de tenista – ofereceu-a para mim. Um garoto de 7 anos empunhando uma raquete de madeira de mais de 300 gramas? Se antigamente era “normal”, naquela geração já era estranho. Sendo assim, comecei com uma das de alumínio – na época, não tão leve e nem tão pequena quanto as de hoje. Por volta dos 10 anos, comprei minha primeira raquete “de verdade”. Um dos primeiros modelos de grafite da Wilson – no clube, os adultos ainda jogavam com aquelas Kneissl “sem coração”. Era uma raquete pesada e de cabeça pequena, do modelo da Pro Staff. Sendo assim, não demorou muito para que a evolução natural fosse para a Pro Staff 6.0, a mesma de Sampras. Quando Guga surgiu e com ele a Head Prestige, fui nessa direção. Ainda era uma raquete pesada (perto das 350 gramas), mas com cabeça levemente maior – de 85 para 93 in2. Gostava dela, mas lembro que, tempos depois, cheguei a cogitar usar a Radical, mais leve e de cabeça um pouco maior, pois já sentia dores (musculares) no braço devido ao esforço depois de jogos longos. Bati algumas bolas, não senti muita firmeza nos golpes e rapidamente desisti. Fiquei com a Prestige mesmo. Quando Federer apareceu com a nova versão da Pro Staff, obviamente que fui atrás e não titubeei em comprá-la. Era uma questão mais emocional (jogar com uma das primeiras raquetes da minha adolescência, de um dos meus primeiros ídolos – Sampras) do que técnica, pois ela era mais pesada (mais de 350 gramas) e com cabeça menor (90 in2). Não demorou muito para o braço pedir água. Ainda assim, não desisti dos modelos “duros”, como costumam chamar os lojistas. Testei uma versão da Dunlop 200, pesada porém com cabeça maior (95 in2), e gostei. Ao superar a marca dos 30 anos, contudo, o braço foi sofrendo cada vez mais. Testei mudar as cordas, baixar um pouco a tensão, mas logo percebi que a questão principal estava no peso. Depois de mais de 20 anos jogando com raquetes extremamente pesadas, tomei coragem (não muita) e, enfim, decidi comprar uma versão similar, com cabeça e equilíbrio iguais, porém cerca de 20 gramas mais leve. A diferença pode parecer pouca, porém, em quadra não é bem assim. No começo, vi as bolas voando longe, perdi o controle do forehand. Demorou um tempo, mas, com alguns pequenos ajustes, as coisas foram voltando ao normal, ou quase. Muitas coisas que fazia com as raquetes “antigas”, já não faço mais. Mas não por culpa do novo modelo, mas sim devido à “velha” mão que está segurando a raquete e às “velhas” pernas que nem sempre obedecem da mesma forma que antes. Então, para compensar o modelo “antigo” do jogador que sou, não há outra saída senão uma raquete mais moderna. Ainda estou um pouco preso às referências da minha “vida pregressa” em termos de equipamento (é normal acontecer isso), mas essa pequena troca já mostrou que não devo ter preconceitos em relação às mudanças caso o tempo as exija – para que eu mantenha um nível de tênis aceitável, pelos menos em minha mente. |