Bruno Soares diz quais aspectos você precisa treinar para ser um bom duplista
Por Arnaldo Grizzo em 21 de Novembro de 2014 às 00:00
Disputar uma partida de duplas definitivamente não é a mesma coisa que jogar simples. Ainda assim, há muita gente que não é capaz de compreender que essa diferença vai além de a quadra ser maior e ter duas pessoas a mais jogando. Tanto que quem insiste em jogar duplas como se estivesse jogando simples, invariavelmente acaba derrotado e, com isso, tende a praguejar contra a modalidade que não é capaz de compreender.
Para ser um bom jogador de duplas, não é preciso ser um exímio jogador de simples, e vice-versa. Para comprovar isso, basta olhar para o ranking profissional e ver quantos tenistas top em simples também são top em duplas. Poucos. Alguns contestarão, porém, que muito disso se deve à natureza do circuito, que, desgastante, inviabiliza que um tenista possa se dedicar integralmente às simples e duplas ao mesmo tempo. Ainda assim, contudo, não se pode negar que duplas top dificilmente são batidas por parcerias de dois bons tenistas de simples. E isso se dá porque jogar simples e duplas é diferente, acredite.
A questão de os corredores serem usados e ter quatro pessoas na quadra pode parecer insignificante, mas muda completamente a geometria do jogo e, com isso, as estratégias. Os fundamentos, os golpes, podem até ser os mesmos, todavia, a forma de usá-los pode variar muito. “Por ser um jogo muito diferente, você tem que trabalhar coisas muito específicas”, aponta Bruno Soares, bicampeão de duplas mistas do US Open, atual top 5 do mundo e um dos maiores duplistas da história do tênis no Brasil.
E para saber como podemos nos tornar jogadores melhores na dupla, a Revista TÊNIS conversou com Soares antes de ele embarcar para o ATP Finals em Londres. A seguir, confira as dicas de treino do brasileiro.
Segundo Bruno Soares, os primeiros fundamentos a serem trabalhados na dupla são o saque e a devolução. “Às vezes, as pessoas dão pouca importância a isso, mas são dois pontos extremamente importantes no jogo de duplas. Na simples também, mas, nas duplas, você precisa ser ainda mais preciso. Quando você joga simples, tem uma margem maior na devolução, pois pode usar a quadra toda. Nas duplas, se fizer uma devolução média, o cara da rede consegue interceptar e acabou o ponto. Então, tem que ser bem mais preciso”, destaca o mineiro, que complementa: “Estes são os fundamentos de entrada no ponto, por isso, é preciso trabalhar muito bem”.
Mas quais saques e quais tipos de devolução trabalhar? Segundo Soares, esta resposta depende muito, tanto do seu estilo, quanto do que pretende fazer estrategicamente contra os adversários. Quando se trata de saque, “há quem goste de ir para o ace, há quem jogue com ¾ de força para poder chegar mais rápido à rede”. Ou seja, cada uma dessas opções precisa ser treinada. Outra observação importante é que você também deve lembrar de treinar o saque em diferentes posições na quadra, pois, se jogar em formação clássica (cada parceiro defendendo um lado da quadra), por exemplo, não poderá sacar muito próximo ao centro da quadra, já que dessa forma deixará um grande espaço aberto, propício para uma boa devolução cruzada do oponente.
Sendo assim, treine saques abertos e fechados tanto do centro da quadra (para quando for utilizar uma formação australiana ou em “i”) quando dos cantos. Da mesma forma, é importante praticar diferentes tipos de serviço, como os quiques, que, caso você queira sacar e volear, serão importantes.
Para o direcionamento do saque e da devolução, Soares lembra que não existem regras e que o ideal é combinar com seu parceiro o que pretende fazer dependendo da estratégia. No entanto, o mineiro lembra que, no circuito profissional, há muitas parcerias que gostam de “roubar o meio”. “Eles estão sempre cruzando, pressionando o centro, tentando interceptar as devoluções cruzadas”, conta. Por que isso? “Ninguém consegue cobrir a quadra inteira, então, geralmente você deixa sempre a jogada mais difícil para o seu adversário. Aí, deixa a paralela aberta, pois é a jogada mais difícil. Por isso, algumas vezes você é obrigado a arriscar algumas paralelas (é bom seu parceiro saber disso!), justamente para os rivais ficarem mais atentos e respeitarem o posicionamento”, afirma Soares.
Ter um bom posicionamento na rede é essencial para realizar um bom voleio
“Não adianta estar com um bom voleio se não entrou bem no ponto”, pondera Soares, apontando que um bom saque e uma boa devolução vêm antes de um bom voleio. Ainda assim, o voleio é um dos pontos-chave do jogo de duplas e é preciso ser treinado.
Apesar de entender que bons voleios estão muito ligados à agilidade, o tenista mineiro considera que, antes mesmo de praticar seus reflexos à rede, você precisa compreender que ter um bom posicionamento na rede é essencial para realizar um bom voleio. “Por isso, trabalho muito o meu primeiro voleio, quando estou sacando e subindo; e a minha continuação depois do voleio, para onde vou, onde vou me posicionar de acordo com o primeiro voleio. Quando meu parceiro está sacando, treino também a minha posição e a minha reação, tentando fechar o ângulo de acordo com o saque dele e onde a bola vai vir, onde vou estar posicionado. Quando meu parceiro faz uma boa devolução, também devo saber como faço para pressionar o adversário que está vindo fazer o primeiro voleio etc. Você deve praticar todas as posições de rede”, afirma.
Depois disso, ele recomenda: “É preciso muito treinamento de reflexo, agilidade. Você pode ficar com seu treinador, ou seu parceiro, mandando bola forte na sua direção e tentando se defender. Além disso, é importante treinar muita bola de interceptação, cruzar a rede, e saber onde você vai mandar esses voleios”.
Para Soares, outro ponto importante a ser observado na dupla é a “segunda bola”. “Segunda bola é quando você bate a devolução e o adversário faz um voleio em você. Nesse caso, você tem muito menos espaço, então precisa trabalhar bem onde vai mandar essas bolas”, pondera. Portanto, é importante praticar essas situações, treinar execução de bolas mais baixas (para dificultar o voleio) ou mesmo de lobs.
Se o tenista profissional costuma ter um raciocínio muito intuitivo, nem sempre isso ocorre em nível amador. Portanto, em alguns casos, ajuda muito ter uma execução predeterminada das jogadas. Soares dá dois exemplos: “Seu parceiro sacou fechado no ‘T’ no lado do iguais, o adversário devolveu e você conseguiu interceptar a bola no centro da quadra. Para onde se deve direcionar o voleio? Se bater na direção do lado da vantagem, tem alguém lá para cobrir a quadra. Se o devolvedor foi deslocado para o centro da quadra por causa do saque fechado, então você vai mandar o voleio na direção do corredor desse cara. Por outro lado, se seu parceiro sacou aberto e você conseguiu interceptar, o meio vai estar aberto, pois o devolvedor foi deslocado para fora da quadra. Então, é só fazer um voleio firme no centro”. “Ter esse tipo de jogada predeterminada, ajuda demais na execução do golpe”, aponta Soares.
É inegável que as melhores duplas são as que se entrosam melhor e, para isso, elas precisam se comunicar bem. “Se eu sei o que meu parceiro vai fazer, fica muito mais fácil me posicionar corretamente”, diz Soares. Em que momentos você consegue se comunicar e definir isso com seu parceiro? Nos dois inícios do ponto, ou seja, no saque e na devolução. Depois disso, não dá para saber onde a próxima bola vai vir. “A partir do momento que sei o que meu parceiro vai fazer, posiciono-me melhor para a próxima bola”, garante o duplista.
“A dupla é matemática, geometria, é fechar ângulo. Você tem que traçar o lugar onde o cara pode bater e ficar no centro. Por isso, uma coisa importante é saber se posicionar sem a bola. Não adianta ficar estático no ponto, esperando a bola chegar. Se a bola está mais para a esquerda, você tem que ir mais para a esquerda, sempre fechando o ângulo provável que o adversário pode mandar a bola. Isso é uma coisa que se treina. Com um posicionamento melhor, você vai acabar participando mais das jogadas”, revela Soares.
No circuito profissional, é raro ver duplistas tentando lobes em seus adversários. Isso ocorre porque a velocidade do jogo é muito grande, o que dificulta a execução de uma boa batida. Um lob mal dado significa tentar se defender de um smash. Ainda assim, Soares acredita que essa jogada é muito subestimada, especialmente entre os amadores. “É difícil dar um bom lob, mas tem gente que tem mão muito boa”, diz.
“Contra oponentes que batem forte, mas raramente usam lobes, você pode pressionar muito, chegando bem próximo da rede para volear. Já contra rivais que dão bons lobs, você sabe que não pode colar tanto na rede, pois tem que cobrir uma área da quadra que nem todo mundo usa”, conta o mineiro, que complementa apontando uma das vantagens para quem sabe usar esse golpe: “A partir do momento que você acerta um bom lob, está numa posição completamente ofensiva e a outra dupla extremamente defensiva”