"Autofala" é uma técnica bastante usada por atletas de elite e que ajuda a melhorar o desempenho
Rodrigo S. Falcão em 18 de Maio de 2010 às 06:53
Quem nunca conversou consigo mesmo? A "voz interior" é comum e frequente a todo o momento e com os atletas não é diferente. Antes, durante, nos intervalos de um jogo, a tal voz interior pode ser a melhor amiga ou o pior inimigo de um tenista. Autofala (nome científico dado para o diálogo interno ou diálogo consigo mesmo) é uma técnica muito utilizada por atletas de elite. ele pode ser aquele estímulo relevante de que o jogador precisa para se lembrar de executar um movimento, para se acalmar num momento crítico da competição, para fechar-se diante das provocações do adversário e de sua torcida.
Jadel Gregório, atleta brasileiro do salto em distância, por exemplo, já comentou que utiliza a técnica de autofala para se preparar melhor para as provas e saber as sequências que deve utilizar para buscar saltar com perfeição.
Concentração
No esporte, estar concentrado é um dos aspectos importantes para o bom rendimento. A concentração inclui comportamento que pode ser chamado de observacional, de orientação ou de atenção. Estudos indicam que o foco da concentração em dimensões de amplitude (amplo/estreito) e direção (interno/externo) deve variar em função da demanda da situação.
Às vezes, problemas de concentração ocorrem porque o atleta não aprendeu a alternar rapidamente entre um tipo de controle de estímulo e outro. No futebol, o jogador que explora o campo para encontrar um espaço livre está exibindo controle externo amplo. Quando o jogador acha um espaço e corre para ele, precisa alternar para controle de estímulo externo estreito, a fim de se concentrar no passe de um companheiro de equipe.
Depois que a bola é recebida, esse mesmo jogador precisa alternar mais uma vez, rapidamente, para o controle externo amplo, a fim de checar a posição do goleiro, avaliar o alinhamento da defesa e encontrar um companheiro livre para quem a bola possa ser passada.
Scala (2005) descreve um estudo de Ziegler com 24 tenistas para entender o processo de mudança do foco de atenção quando a atenção é autodirigida. O atleta, no momento da execução da tarefa, fala uma palavra que lhe dá uma dica do que fazer. O objetivo era determinar os efeitos da técnica de autofala para aquisição de duas habilidades no tênis: forehand e backhand. A técnica foi explicada aos tenistas em quatro passos:
1- A importância de olhar o oponente e verbalizar "bola", quando viam ela saindo;
2- Focalizar nas costuras da bola e verbalizar "saltar", quando a bola tocava a superfície da quadra;
3- Focalizar o contato da bola com a raquete e verbalizar "bata", quando viam a bola em contato com a raquete;
4- Preparar-se fisicamente para a próxima bola, verbalizando a palavra "pronto" e focalizando a atenção novamente no oponente.
Os resultados indicaram melhora nos forehands e backhands durante as intervenções. A autofala tornou o controle dos estímulos mais eficaz e, consequentemente, melhorou a atenção e o rendimento dos atletas. Mas, reforço a idéia de que quando estamos lidando com aspectos psicológicos, comportamentos e ações, qualquer mudança é de médio a longo prazo.