O controle emocional é um fator decisivo no tênis juvenil, especialmente entre as meninas. Então, como manter a cabeça no lugar?
Por Roberta Menezes em 27 de Julho de 2013 às 00:00
NÃO É INCOMUM VER grandes oscilações emocionais em tenistas, especialmente nos juvenis, mais ainda nas meninas. E isso acaba sendo um fator decisivo que pode levar a vitórias ou derrotas. Sendo assim, é preciso entender os porquês dessa vulnerabilidade das atletas adolescentes.
Vamos começar pensando: “O que acontece nessa fase da vida das garotas?” São jogadoras ainda na adolescência, mas próximas de ingressar na vida adulta. No tênis, essa transição vem acontecendo cada vez mais cedo. E, no tênis feminino, então, isso é mais precoce ainda. São jovens de 15, 16, 17 e 18 anos jogando torneios infantojuvenis e também profissionais. São meninas fazendo escolhas de vida muito cedo. Treinando muito, viajando muito para torneios, ficando longe da família, dos amigos e, muitas vezes, até dos estudos.
Sendo assim, a expectativa e a pressão por bons resultados são enormes. A própria atleta se cobra por querer crescer, tornar-se conhecida mundialmente devido ao ranking da ITF e, assim, se sentir realizada e, de certa forma, recompensada pelo seu investimento. Por outro lado, existe a equipe – com técnico e outros profissionais –, a família, os patrocinadores, a Confederação Brasileira de Tênis e o público que também desejam vê-la no topo.
A questão é como lidar com essa situação, sabendo que, além disso, existem outros aspectos que também fazem parte desse contexto. Estamos falando das capacidades técnicas e táticas, da força mental, do condicionamento físico e ainda de todo o entorno em que a atleta está inserida: a educação, a cultura e a estrutura para o desenvolvimento do tênis no Brasil.
Que jogadores estão sendo produzidos por aqui? Por que no infantojuvenil obtemos ótimos resultados e, quando passamos ao profissional, isso é tão diferente? Não vamos nos ater à parte técnica e tática do ensino, que tem evoluído muito. Falemos, sim, do que se tem feito com relação à parte mental do atleta. De fato, o que se tem promovido para que o lado emocional do tenista seja fortalecido? Como tem se dado isso na prática? Qual o espaço da psicologia do esporte na realidade dos tenistas brasileiros?
Sabemos que a condição básica para se jogar tênis é jogar com alegria, com prazer de estar em quadra, fazendo o que escolheu fazer. Mas, como chegar lá? É fácil quando tudo está dando certo, os golpes estão entrando, o físico está sobrando e a cabeça está no lugar. E quando, de repente, começa-se a errar, o adversário muda a tática, o placar passa a ser negativo e a cabeça vai embora? O que fazer?
Para o atleta de alto rendimento, é necessário a aprendizagem de determinadas habilidades psicológicas que podem ser obtidas por meio de intervenções feitas por um psicólogo. Este profissional utilizará técnicas que deverão ser utilizadas pelos jogadores nos seus treinamentos e nas partidas de campeonatos.
As habilidades psicológicas de atenção, concentração, mentalização e visualização poderão ser obtidas com técnicas de respiração, relaxamento, pensamento positivo, uso das palavras e frases positivas com autoinstruções. Por exemplo, a atenção é a palavra-chave para a concentração, que tem como definição o foco de uma determinada tarefa, ignorando ou eliminando todos os outros. O foco do atleta deve estar dentro da quadra, na bolinha e na estratégia a seguir. Uma mente que divaga permite falhas na atuação.
O controle da respiração durante o jogo é uma das formas mais fáceis de segurar a ansiedade e a tensão muscular. Usar a respiração de forma adequada entre os pontos e no intervalo entre os games é fundamental para conseguir o relaxamento necessário e, consequentemente, para a visualização, o pensamento positivo e o ganho de confiança. Saber utilizar essas técnicas significa a possibilidade de manter um padrão de jogo ou de reverter uma situação negativa na partida.
Por que existem jogadores com uma grande capacidade de virar jogos “perdidos” e outros que, com jogos aparentemente ganhos, conseguem perder? A força mental é, em parte, uma característica de personalidade do indivíduo, mas pode ser desenvolvida – como mostram os atuais estudos de neurociência.
Segundo os neurocientistas, o treinamento aumenta a capacidade de concentração e autocontrole dos atletas. Quanto mais se pratica, mais se fortalece o caminho que o cérebro faz para executar uma tarefa. O exercício diário, a repetição e a prática modificam o cérebro. Imaginar é quase uma prática. A imaginação é um treinamento. Portanto, a motivação, o foco, a atenção, os anos de prática e o pensamento positivo de onde desejam chegar são fundamentais.
Jovens atletas, saibam que a maturidade vem com o tempo, com os anos de experiência. Parabéns por enfrentarem o desafio que vocês têm pela frente. Treinem muito e não deixem que as críticas os façam desistir. Fazer o que vocês têm feito serve de exemplo para muito jovens.