Alguém anotou a placa do Soderling?
Odir Cunha - | Fotos Marcelo Ruschel em 30 de Outubro de 2006 às 14:10
O número um dos suecos atropelou Mello e Saretta em BH. Será que Meligeni poderia fazer algo para evit ar o desastre? |
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INCRÍVEL POTÊNCIA no saque, forehand e backhand, admirável tração no saibro, equilíbrio perfeito nas derrapagens, segurança nos trechos mais críticos do caminho para a vitória. A máquina suec a modelo 1984 (22 anos), de design vigoroso de 1,90m e 81 quilos, 31o no ranking e em ascensão, esmagou quem estava à sua frente e só não fez chover em porque não precisou. Os céus de sabaram sobre a Expominas, onde o Brasil enfrentou a Suécia do super Robin Soder lingnos dias 23, 2 4 e 25 de setembro para tentar voltar à primeira divisão da Copa Davis.
O confronto deveria começar dia 22, sexta-feira, mas a chuva fora de hora transformou em lamaçal a quadra de saibro cuidadosamente construída para ser fofa e lenta mas, preferencialmente, seca. Para complicar, a lona de cobertura foi entregue em Nova Lima, a 20 quilômetros da capital mineira.
O problema porém, estava literalmente mais embaixo. O saibro foi jogado sobre uma superf ície asfáltica e esqueceram da drenagem. Diante da terrível visão do barro vermelho, o capitão do time sueco, o lendário Mats Wilander, ameaçou não colocar o time em campo. Se a quadra é mal construída e não dá condição de jogo, o país anfitrião é considerado perde dor. O árbitro g ral, Soeren Sriemel, adiou a rodada para sábado, enquanto um batalhão de operários trabalhou até alta madrugada para perfurar o asf alto e recompor a quadra.
Um mês antes, Fernan do Meligeni previa: "Temos de vencer os dois jogos contra o Vinciguerra". O capitão da equipe brasileir a chegara à conclusão de que apenas duas vitórias sobre Andreas Vinciguerra, o segundo tenista dos suecos, e mais um surpreendente triunfo nas duplas , faria o Brasil voltar ao Grupo Mundial . Meligeni já sabia que o primeiro tenist a sueco, Robin Soderling, dificilmente seria batido.
O único jogo do sábado deu a impresssão de que o plan o de Meligeni poderia dar certo. Saretta bateu forte na bola e fez um jogo equilibrado com Vinciguerra, de quem havia perdido em três sets na quinta e de cisiva partida do último confronto com a Suécia, na casa do adversário, pela primeira rodada do Grupo Mundial de 2003.
Desta vez, o brasileiro chegou a estar perdendo por 4 a 1 no quinto set , mas, incentivado por Meligeni e pelo público que lotou o Expominas, conseguiu uma vitória heróica. Restava a Ricardo Mello, escalado para enfrentar So derling, tentar ao menos desgastar o robô sueco.
Mas Soderling abriu as turbinas e deu a arrancada para a virada suec a. Só no décimo game permitiu que Mello saísse do zero. O brasileiro, cujas bolas mal passaram do "T", jogou sua pior partida na Davis e comeu poeira, ou melhor, correu o tempo todo atrás do sueco, que soltou tiros certeiros a torto e a direito e perdeu só cinco games no jogo.
GUGA OU NADA
O último momento em que o Brasil vislumbrou o sonho de voltar ao Grupo Mundial foi quando André Sá acertou um voleio parale lo e fechou o primeiro set da partida de duplas. Até ali ele estava devolvendo e voleando muito bem, fazendo uma parceria eficiente com Gustavo Kuerten, que se destacava pelo saque e pelos golpes de fundo.
Mas aos poucos os matreiros e afinados Jonas Bjorkman, 34 anos e 4o do ranking mundial, e Simon Aspelin, 32 anos e 17o, foram se impondo e venceram três sets seguidos, acabando com a esperança e o bom humor de Meligeni, que se irritou com os jornalistas que analisaram a convocação de Guga, afastado de jogos oficiais desde janeiro, como uma jogada de marketing para promover o evento. A derrota nas duplas deixou ao Brasil a opção de vencer os d is últimos jogos de simples. Mas na quarta partida Saretta bateu de frente com o bólido Soderling e só conseguiu equilibrar o jogo no terceiro set -quando teve cinco set points no serviço do sueco -, depois de, a exemplo de Mello, ser amassado nos dois primeiros ( 0 e 3). Com a vitória, Soderling rompeu a fita de chegada, tornando inútil a partida entre Mello e Vinciguerra, que acabou cancelada.
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FALTOU OUSADIA?
"Poderia ter tentado o Thiago Alves no lugar do Mello. O garoto estava muito motivado depois de ganhar uma partida no US Open", sugeriu Robinson Shiba no vôo de volta para São Paulo. Como Robinson, muitos torcedores ficaram com a sensação de que algo diferente poderia ter sido tentado. Não entendiam porque Meligeni não convocou Thiago Alves (97o) e Marcos Daniel (110o), os brasileiros mais bem classificados no ranking da ATP.
O paulista Thiago Alves, de 24 anos, foi o único tenista nacional a vencer uma partida na chave princip al do US Open, derrotando o argentino Mariano Zabaleta em qu atro sets. Além de primeiro em simples, é o segund o brasileiro no ranking mundial de duplas (168o), atrás apenas de A n dré Sá (82o). Por sua vez, o gaúcho Marcos D aniel , 26 anos, foi o que teve o melhor desempe nho nos treinos na E xpominas.
Há dois modos de ver a convo cação de Meligeni: a primeira é a de que ele não quis arriscar ao optar por jogadores mais experientes, que já conseguiram resultados mais expressivos na carreira. Ninguém pode contestar que o talentoso Flávio Saretta , capaz de derrotar feras como Juan Carlos Ferrero e Marat Safin; Ricardo Mello, ganhador de um ATP Tour e com bom retrospecto na Davis; André Sá, que já alcançou as quartas de Wimbledon, e o ídolo Guga formam uma equipe de renome.
Por outro lado, por ainda ser pouco co nhecido no circuito, Thiago Alves poderia surpreender taticamente e ao menos desgastar Soderling, que só mostrou algum cansaço no final da partida com Saretta. Marcos Daniel, por sua vez , é um especialis ta em saibro que tanto po deria jogar nas duplas, como entrar como se gundo tenista de simples .
De qualquer forma , parece pouco provável que qualquer outra escalação pudesse mudar a sorte da equipe brasileira, que hoje não tem um conjunto tão forte como nos tempos de Luiz Mattar, Jaime Oncins, Cássio Motta e Fernan do Roese, ou Guga , Meligeni e Oncins. Ao contrário dos suecos, que possuem um Robin Soberling último tipo novinho em folha, sério candidato a top ten na próxima temporada
OUTRO PLAY-OFF EM 2007?
O Brasil tem tudo para jogar novamente o play- off no ano que vem. Em sorteio realizado dia 28 de setembro, em Roma, ficou estabelecido que a equipe brasileira será a cabeça de chave do grupo 1 da Zona Americana e fará apenas um confronto - de 6 a 8 de abril, com o vencedor de Canadá e Colômbia - para ter o direito de disputar uma vaga no Grupo Mundial.
Qualquer que seja o vencedor entre canadenses e colombianos, o Brasil jogará em casa, pois nas últimas vezes que enfrentou esses adversários teve de sair do País: em setembro de 2003 jogou o play-off contra o Canadá em Calgary e em março de 2005 defrontou-se com a Colômbia em Bogotá.
Como ainda faltam seis meses para o próximo desafio da equipe brasileira, é aconselhável que a CBT encare de frente o trabalho de renovação. Não só Thiago Alves, mas jovens como o promissor Rogério Silva já estão merecendo um olhar mais atento dos responsáveis pelas rotas do tênis nacional.
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