Cada vez que o suíço é derrotado, mais tenistas começam a acreditar em uma vitória sobre o "imbatível" número um do mundo. Vencê-lo não é simples, mas algumas estratégias se mostram eficazes
Gustavo Pereira em 2 de Abril de 2008 às 07:27
Na verdade, as surpresas começaram no ano passado com as derrotas consecutivas para os argentinos Guillermo Cañas e David Nalbandian, o surpreendente tropeço diante do italiano Filippo Volandri, além do fim da invencibilidade de dez partidas contra o chileno Fernando Gonzalez, um de seus maiores fregueses.
Os fãs ficaram surpresos. Teria Federer finalmente perdido a magia e a precisão dos golpes? Seria apenas uma fase ruim, somada a um problema físico, já que divulgou recentemente que contraiu mononucleose? Ou os adversários descobriram a fórmula para superá-lo? As duas primeiras dúvidas serão respondidas apenas com o tempo. Mas a terceira já possui um rascunho.
Cara-a-cara
O gaúcho Marcos Daniel era o 133º colocado no ranking em 28 de setembro de 2005, data do maior desafio de sua carreira. Estreava no ATP de Bangcoc, disputado em carpete, algo nada favorável aos golpes do brasileiro, moldados nas quadras de saibro da América do Sul. Do outro lado da rede, estava ninguém menos que o número um do mundo. Federer ganhou como era esperado, mas Daniel surpreendeu e caiu apenas por 7/6 (7/3) e 6/4, com uma quebra de saque de diferença.
“Para jogar contra Federer você precisa estar 100% o tempo todo, se não ele te passa por cima”, afirma Daniel. “Tem que variar bastante o saque e as jogadas, para que ele sempre fique na dúvida, mas o principal segredo ali é manter a bola muito funda na esquerda. Se você der na direita, está ferrado. Assim, o que você deve fazer é ficar trocando na esquerda e ter uma opção de bola na paralela para poder surpreendê-lo.”
Essa foi justamente a tática aplicada por Gustavo Kuerten no duelo contra Federer na terceira rodada de Roland Garros em 2004. A esquerda na paralela é o golpe que todos reverenciam no jogo de Guga. Foi com ela que ele aplicou o triplo 6/4 que eliminou o número um do Aberto da França. O brasileiro cedeu apenas dois break-points ao suíço na partida, venceu mais pontos com o primeiro e segundo saque e mostrou muita agressividade na rede.
Por essas razões o australiano Lleyton Hewitt disse uma vez que Guga era um dos poucos adversários que podem atropelar Federer em uma quadra. Por quê? “Guga tem um saque forte, não possui fraquezas no fundo de quadra e está melhor nos voleios”, apontou o exnúmero um e um dos maiores rivais de Kuerten em seu auge.
De fora
“O cara é bom, mas não é invencível como pregam. A maioria dos caras que ganharam dele foi porque jogaram sem se importar, sem ligar para quem estavam enfrentando. Federer vinha ganhando muitos jogos de primeira rodada, que é geralmente quando ele não está 100%, com a ‘camisa’. Tênis é muito mental. As pessoas não percebem, mas é”, garante Meligeni.
Para ele, o suíço continua como o melhor no circuito e as derrotas para Djokovic e Murray são aceitáveis. O que lhe impressiona é a atitude dos jovens. “Djokovic não respeita Federer mais do que se deve respeitar. Portanto, seria normal derrotá-lo em alguma ocasião.” No caso de Murray, Azevedo acredita que o escocês possui uma qualidade rara no circuito: “Ele é um jogador que sabe fazer a transição da defesa para o ataque como poucos”.
#Q#
“O que Murray, Djokovic, Cañas e Nadal têm em comum é que todos jogaram ou jogam no contra-ataque diante de Federer”, analisa o técnico brasileiro. Entretanto, cada um mantém as características de seu jogo. Como Djokovic e Cañas, que possuem esquerdas bem diferentes. O sérvio consegue mudar a direção da bola com facilidade para atacar. Já o argentino se defende como poucos e força Federer a sempre bater uma bola a mais, induzindo-o ao erro.
“Quando se entra em quadra para enfrentar Federer, o importante é saber que vencê- lo será difícil, mas não impossível”, garante Azevedo. “Quando começou essa rivalidade entre eles, diziam que Federer não perderia para Nadal fora do saibro. Bem, isso já aconteceu duas vezes (Miami-2004 e Dubai-2006). E o espanhol já deu muito trabalho para o suíço na grama de Wimbledon, quando precisou de cinco sets para ser superado.”
A fórmula do sucesso contra Federer, em princípio, pode parecer simples. Teoricamente, você deveria jogar bem na defesa, pois suplantá-lo no ataque é complicado, e sempre fazê-lo bater uma bola extra. Depois, precisa saber encontrar brechas no seu backhand, especialmente forçando os primeiros serviços nesta direção. Em seguida, tente não dar ângulo para ele e mantenha a bola o mais funda possível, de preferência no meio ou no mesmo lado da quadra, para que ele não faça suas jogadas espetaculares. Por fim, acredite que pode vencê-lo.
Enfim, basta ter qualidades suficientes para suplantar as deficiências do número um do mundo. Mas encontrar lacunas para jogar contra alguém que muitos consideram o melhor de todos os tempos não é tão fácil assim. Mesmo assim, as recentes derrotas fizeram com que muitos tenistas acreditassem na vitória e a aura de imbatível do suíço já não é a mesma. Seria Roger Federer um “mero mortal”?