Como ser um "bom garfador"

Todo mundo já teve de lidar com esse tipo de jogador. Talvez você mesmo seja um deles e não saiba (ou finge que não sabe). Para você se tornar um "profissional da garfada", seguem algumas dicas*

Arnaldo Grizzo E José Eduardo Aguiar em 29 de Janeiro de 2009 às 12:58

*Atenção desavisados e ingênuos: Esta matéria é uma sátira! A Revista TÊNIS, assim como você, leitor, e todos os tenistas sérios do mundo, ABOMINA esse tipo de atitude.

Para alguns, é involuntário. é um erro. um equívoco. Para outros, uma interpretação diferente das regras. Para outros, contudo, é um desvio de caráter, uma sem-vergonhice deslavada, uma cara de pau tremenda. seja como for, quem nunca "garfou" numa partida de tênis que atire a primeira pedra.

Brincadeiras a parte, não queremos aqui promover a falta de desportividade. Mas não há como não retratar a conduta de um dos principais personagens do mundo do tênis. Ele é onipresente. Está em todos os clubes, academias, torneios. Quando ele aparece, os que conhecem sua fama já saem de perto. o "garfador" é uma figura obrigatória em todas as rodas de tênis.

Ele é aquele cara que vem com um 'out' naquele momento-chave do jogo e que desestabiliza qualquer um. é aquele que não tem medo de cantar fora qualquer bola perto da linha. é aquele que se faz de vítima se percebe que você notou suas artimanhas. é aquele de quem você vai duvidar sempre, não importa se ele resolver não usar sua estratégia escusa. é aquele para quem o importante definitivamente não é competir, mas ganhar e, para isso, é capaz de tudo.

Para esse cara, a expressão "sua fama o precede" cai muito bem. Todo clube tem o seu garfador principal, o número um, que é motivo de chacota ou mesmo de repúdio. Este tipo de profissional "da metida de mão", na verdade, sempre deixa legado. é uma raça que, por mais que se tente exterminar, nunca é extinta. Eles sempre procriam por aí.

A mente dele funciona de maneira simples: se não ganho no jogo, ganho no antijogo. Ele não tem problema em admitir isso para si mesmo, porém nunca o fará em público e tentará esconder esse desvio de personalidade até a morte. Pobre, mal sabe que sempre será flagrado e taxado como um garfador. Para ele, vale a máxima: bola que pega mais para fora da linha do que dentro dela, é fora. há casos ainda piores, até clínicos, de gente que não se contenta com a "surrupiada" leve e parte para o total descaramento na hora de "meter a mão" em uma bola.

Mas, enfim, a verdade é que cada garfador tem uma técnica infalível para ludibriar o oponente. Conversamos com alguns, que não quiseram se identificar (por razões óbvias), que são mestres nesta cultuada arte da "ladroagem" tenística. Com isso, montamos um manual de regras de conduta para que você, aprendiz de garfador, torne-se um verdadeiro connaisseur.

Regras de conduta do bom garfador Três regras básicas:

- Bola dentro, mas perto da linha, é fora.

- Bola na linha é fora, com certeza.

- Bola fora é muito fora!

Técnica fundamental para indicar uma bola fora:

- Levante o indicador (sinal convencional para dizer que uma bola foi fora), faça uma cara de desapontamento e diga "Out" secamente, sem forçar. O segredo está em acreditar internamente que a bola foi mesmo fora, apesar de ter sido boa.

- Marque sempre com convicção. Portanto, levante o indicador imediatamente e nem encoste na bola que saiu se ela vier em sua direção! Pois ela saiu, não é mesmo?!

- Se o adversário insistir em perguntar se a bola foi boa ou ruim, reafirme: "Out" e, agora com cara de: "Putz, meu velho, saiu um pouquinho". Faça um sinal com polegar e indicador mostrando quanto teoricamente a bola saiu.

Técnica equivocada:

- Nunca caia no erro de pegar uma bola no ar, antes de sair, e gritar: "Out". Isso é para garfadores amadores e inexperientes. Esse tipo de técnica denuncia o seu status como garfador e dá ao adversário a oportunidade de ganhar o ponto, pois você pegou uma bola ainda no ar. Se você faz isso, meu amigo, perdão, mas devemos dizer que sua técnica está completamente equivocada. Abandone-a ou terá problemas.

#Q#

Sobre a quadra e o ambiente:

- Sempre prefira jogar em quadra de cimento. Ela não deixa a marca da bola! - Procure jogar sem platéia. Você não quer testemunhas que denigram a sua imagem, ora bolas! Nem quer palpiteiros que podem se intrometer e dar uma de juiz.

Preparando o tereno e mantendo a sua integridade:

- Seja educado (ou hipócrita, como quiser) no começo da partida e diga: "Caso tenha dúvida no ponto, é só falar". A maioria das pessoas não vai falar, por mais que tenha dúvida.

- Se o adversário marcar uma bola duvidosa como fora, consulte-o com a sutileza que não deixa dúvidas: "Você viu fora?" Se ele confirmar, ok, aceite, mas diga: "Daqui tinha me parecido boa, mas não tem problema, a quadra é sua". Se ele hesitar na marcação, insinue que você talvez gostasse de voltar o ponto, mas não volte. Você não vai querer dar essa liberdade ao seu adversário quando precisar garfar uma bola.

- A dica seguinte é para garfadores que querem passar do nível intermediário para avançado: Marque algumas bolas fora como boas para confundir o adversário, especialmente quando ele já estiver suspeitando demais de seu comportamento. Mas só faça isso se estiver ganhando com folga, obviamente.

Preparando o tereno e mantendo a sua integridade:

- Seja educado (ou hipócrita, como quiser) no começo da partida e diga: "Caso tenha dúvida no ponto, é só falar". A maioria das pessoas não vai falar, por mais que tenha dúvida.

- Se o adversário marcar uma bola duvidosa como fora, consulte-o com a sutileza que não deixa dúvidas: "Você viu fora?" Se ele confirmar, ok, aceite, mas diga: "Daqui tinha me parecido boa, mas não tem problema, a quadra é sua". Se ele hesitar na marcação, insinue que você talvez gostasse de voltar o ponto, mas não volte. Você não vai querer dar essa liberdade ao seu adversário quando precisar garfar uma bola.

- A dica seguinte é para garfadores que querem passar do nível intermediário para avançado: Marque algumas bolas fora como boas para confundir o adversário, especialmente quando ele já estiver suspeitando demais de seu comportamento. Mas só faça isso se estiver ganhando com folga, obviamente.

Quais bolas garfar, técnicas e táticas:

- Escolha o melhor momento para garfar as bolas. Não dá para ganhar todas. As pessoas começam a suspeitar e sua fama fica muito grande.

- Prefira "roubar" bolas próximas à linha de fundo e não laterais. A chance de levantar suspeitas é menor.

- O bom garfador só garfa nos pontos importantes: break-points contra, para ganhar vantagem...

- Só garfe no começo do jogo se for extremamente necessário. Prefira "guardar" suas "jogadas" para situações importantes.

- Cuidado ao garfar bolas com o adversário na rede, pois a visão dele será melhor. Mas, lembre-se: na hora do aperto, não hesite, levante o dedinho e diga, seguro: "Out!"

- Tomou um lob que vai perto da linha? Corra cobrindo o trajeto da bola e, no momento em que ela tocar no solo, levante o dedo ao céu como se estivesse pedindo uma Brahma e pare de correr! Não tente bater na bola.

- Mesmo se a partida estiver fácil (se você fez o jogo ficar fácil), não deixe de usar suas armas nas horas importantes para não correr o risco de animar o adversário.

- Para garfar saques, prefira os primeiros serviços. São mais rápidos e mais difíceis de ser auferidos. Mas, lembre-se: convicção na marcação e não vá em direção à marca da bola sob nenhuma circunstância! Ela foi fora!

- Garfe segundos serviços só em momentos importantes.

- Garfe (todas) as bolas longas e fundas do lado oposto de onde você está, sem hesitar. Se o adversário ameaçar relutar, encontre uma marca qualquer e faça o famoso risco no chão (se for saibro). Se for cimento, nem se aproxime do local onde hipoteticamente foi a bola.

Técnicas para garfar no saibro, "o grande desafio":

-Para garfar no saibro, é preciso ter técnica mais refinada e conduta mais séria. Se você e um iniciante nesta artimanha, fique atento para não ser pego. O saibro costuma ser a casa dos garfadores nível máster, que têm anos e anos de domínio desta arte de ludibriar.

- No começo, faça o discurso de sempre: "Caso tenha dúvida, é só falar".

- Depois do bate-bola, antes de começar a partida, passe o pé sobre as linhas de saque. ATENÇÃO: cuidado para não apagar as marcas fora. Apague só as marcas que acertam a linha e as de dentro.

- Repita o procedimento no fundo se achar necessário, mas não faça isso o tempo todo durante o jogo pois levanta suspeita.

- Nunca apague uma marca fora na linha de fundo ou lateral, ela pode lhe ser útil no futuro.

- O procedimento a ser seguido no saibro é o mesmo da quadra de cimento: prefira garfar as bolas fundas às laterais.

- Se a bola pegar na linha e desviar, cuidado. Estas são as mais complicadas de garfar, mas não impossíveis. Se o adversário insistir que a bola foi boa, diga que pegou no morrinho de saibro logo após a linha.

- No saibro, apesar de parecer difícil "roubar", é mais fácil convencer seu oponente de que as bolas saíram. Para isso, basta que você marque todas as bolas "fora". A técnica é a seguinte: Faça um semicírculo com a raquete no local onde você acha que a bola caiu, mesmo que não haja nenhuma marca de bola lá. Se houver, melhor. Se não, sem galho. No stress. Dificilmente alguém vai atravessar a quadra para conferir. A maioria das pessoas somente aceita que existe uma marca de bola lá e pronto.

#Q#

Situação chata: uma pessoa de fora resolve se intrometer. Não dê atenção, a plateia nunca será favorável a você!

- Caso você se veja em situação de "perigo" e o adversário atravessou a quadra para ver a marca, mantenha a calma. Ache uma ou duas marcas perto do local que você sugeriu. Se você marcou o "nada" e ele alegar que não há marca lá, diga que você se enganou, que acredita que seja uma das marcas ao lado. E, se ele insistir e não houver como dissuadi-lo, pergunte se ele quer voltar o ponto. Muitos não aceitarão e darão o ponto para você. Mesmo assim, insista e mostre boa vontade. Se for um ponto importante, não insista.

- No saibro, a regra de tentar ludibriar o adversário marcando boa uma bola fora, só para tentar "manter a integridade", não vale tanto a pena.

Lidando com situações extra-quadra e mantendo a dignidade:

- Uma situação chata é quando alguém de fora resolve se intrometer no jogo em favor de seu adversário "pobre e oprimido", questionando publicamente suas marcações. Opções: Olhe feio para a pessoa e diga algo como: "O jogo é na quadra". Ou então, dê risada da pessoa e diga algo como: "Nunca faria isso". Outra opção: Faça cara de louco e diga algo como: "Para mim foi fora". Mas, por regra, evite dar papo para quem está de fora. Ele nunca estará a seu favor.

- Acredite: todos no seu clube ou academia provavelmente já sabem que você é um garfador, portanto, apesar deste desvio de caráter, tente manter as aparências e seja uma pessoa simpática dentro e fora da quadra, do contrário, ninguém mais vai querer jogar com você.

- Se você já é conhecedor de sua fama entre os parceiros, faça-se de rogado e comece a imputar a fama de garfador em outro. Às vezes, funciona.

- Lembre-se: a sua espécie, o garphadoricus tenisae, é extremamente necessária ao tênis amador. Sem você, faltaria algo no jogo. Então, se quiser se tornar um garfador, ao menos, o seja com estilo. Não denigra a imagem de seus antecessores, sendo alvo de chacota. Seus ascendentes demoraram anos para lapidar essa técnica milenar e refinada de afanar os oponentes e não merecem que um iniciante qualquer bote tudo a perder.

- Se você é um deles, leia este artigo e comente com os amigos, reprovando ou tirando sarro das atitudes retratadas. Isso ajuda a manter as aparências.

- Por fim, um conselho: Tome vergonha na cara e vença sem precisar disso!

Instrução - Tática

Mais Instrução - Tática