Minimanual explica os elementos do trabalho de pés e dá dicas para treiná-los
Suzana Silva em 3 de Novembro de 2016 às 15:10
Se a proposta do ensino do tênis para crianças envolve a proposição de desafios constantes e de “missões” a cumprir, envolvidas com muita diversão, o aprendizado de como se mexer em uma quadra de tênis não poderia ser diferente. Os elementos do trabalho de pés exigidos para os golpes de fundo que temos de ensinar são:
1. O saltito de antecipação (o tenista “aterrissa” desse saltito no momento exato do ponto de contato do adversário);
2. O giro do quadril e do pé que está mais perto na direção da corrida para a bola (na verdade, quadril e ombro giram juntos, o que chamamos de unidade de torção);
3. A corrida propriamente dita, que envolve um passo forte de arranque na saída para a bola, e os pequenos passos de ajuste na aproximação do momento do golpe;
4. Preferencialmente, uma base sólida e equilibrada dos pés para executar o golpe (que pode ser alinhada, fechada, semiaberta ou aberta);
5. A transferência de peso de uma perna para outra na direção do golpe;
6. Passo de recuperação e deslocamento – que pode ser feito com galopes laterais ou corrida – para voltar a uma posição adequada na quadra.
Cada um desses elementos pode ser trabalhado de forma lúdica e desafiadora para as crianças, de modo que elas nem percebam que estão trabalhando duro.
Cabe aqui lembrar que, até os sete anos, todas as habilidades motoras básicas de deslocamento precisam ser bem estimuladas (correr de diferentes formas, galopar, saltar, saltitar, deslizar, rolar), processo que tem sido bem prejudicado graças ao sedentarismo imposto pela vida moderna dos centros urbanos.
Muitas crianças chegam às aulas de tênis com pernas fracas e com pouco repertório de movimentos. E lá vamos nós, professores de tênis, cobrir esse gap.
Podemos trabalhar os pés em momentos variados da sessão:
Como exemplos de exercícios que podemos utilizar em qualquer uma dessas fases da sessão:
1. Todas as combinações possíveis de deslocamentos na escadinha (corridas para a frente, laterais, saltitos, passo duplo, saltos com um pé só, abrindo e fechando as pernas, combinando fora e dentro da escadinha etc.). Na fase principal da aula, passar pela escadinha e golpear, ou golpear e recuperar pela escadinha são clássicos.
2. Saltitos usando obstáculos baixos (disquinhos, elásticos, barrinhas, ou até as próprias linhas da quadra) são ótimos para estimular a energia elástica que precisamos nos saltitos de antecipação e nos arranques.
3. Para a unidade de torção e transferência de peso da perna de trás para a da frente, o lançamento de bola de Pilates, de uma bola de basquete e até uma medicine ball para os mais velhos – usando as duas mãos na bola para lançá-la de baixo para cima para um companheiro ou parede – é um clássico também.
4. Passos de ajuste, giro do quadril e saltar para tirar o corpo de um saque que vem em sua direção são bem estimulados com o exercício do hexágono. Desenhe um hexágono de aproximadamente 60 centímetros em cada lado no saibro ou com fita crepe na quadra rápida. A criança começa dentro do hexágono e deve saltitar com os dois pés para fora e para dentro em cada lado do mesmo, completando três voltas completas. Quem faz mais rápido?
5. Para aprender a deslizar no saibro, há muitos exercícios de correr e voltar, seja tocando as linhas da quadra, seja transportando bolas de um disquinho (que fica no chão) para o outro. Mas saibam que até numa quadra poliesportiva é possível aprender a deslizar: no piso de taco de madeira, você só precisa de um pano de chão bem seco para que as crianças corram, subam no “tapete mágico” e escorreguem a maior distância que puderem.
6. Pular corda continua sendo um exercício imprescindível ao desenvolvimento de um tenista, seja a grande corda unindo todos os alunos ao mesmo tempo, ou as cordas individuais, com desafios progressivos (recorde no número de acertos ou quem consegue mais saltos em 30 segundos, são bons desafios).
7. A força do passo de recuperação pode ser estimulada em saltos laterais entre as linhas do corredor de duplas. Experimente combinar com o golpe: começar com um pé na linha lateral de simples, saltar para a linha lateral de duplas, saltar de volta para a linha de simples e correr para rebater um forehand (todos os saltos alternando as pernas que tocam as linhas).
8. Almofadas de equilíbrio e caminhas elásticas também podem ser utilizadas para desenvolver senso de balanço e energia elástica para “arrancar” para as bolas. Combine com corridas curtas e golpes: as crianças adoram desafios.
9. Um banco baixo de madeira (tipo banco sueco) também faz maravilhas pelo footwork, seja quando usado como obstáculo para saltos, seja em combinações (por exemplo, andar em cima do banco rebatendo uma bola para cima, a cada quatro passos, sair e voltar para o banco, sem parar de quicar a bola).
10. Tubos de bola, garrafas pet, arcos de plástico, as próprias raquetes das crianças, entre outros objetos, podem virar obstáculos e indicar percursos que trabalhem as trocas de direção, os zigue-zagues e os saltos em distância. Combinar percursos com os golpes ou fazer percursos que sirvam de etapa de um circuito são atividades superdesafiadoras e divertidas para as crianças.
11. As atividades do tipo “espelho” (duas crianças ficam frente a frente nas linhas do corredor de duplas, uma sendo a líder, a outra o espelho) são muito divertidas também. A criança líder fica se deslocando lateralmente em cima da linha, para lá e para cá, e o espelho deve ficar na frente dela imitando seus movimentos. Elas podem criar movimentos com os braços também enquanto se deslocam lateralmente, mantendo as palmas das duas mãos para a frente. Cada criança pode ser líder por 30 segundos, com descanso de 30 segundos e inversão das posições.
12. Para ensinar as bases de apoio para os golpes, nada como a “cruz mágica” ensinada pela Escola Francesa de Tênis: risque uma cruz no chão, ou marque-a com fita crepe na quadra rápida, numere cada espaço de um a quatro e ensine as posições de pernas para os golpes de forehand. O primeiro número se refere à posição da perna esquerda, o segundo à posição da perna direita, para destros. Veja ao lado.