Raquete e corda são inseparáveis. Desde os iniciantes até os profissionais precisam estar atentos aos detalhes que formam uma parceria ideal com seus estilos de jogo
Matheus Martins Fontes em 21 de Março de 2013 às 08:48
VAI FALAR QUE VOCÊ NUNCA foi a uma loja junto com seus pais e escolheu uma raquete apenas por ser a mais bonita. Ou talvez porque é o equipamento do seu ídolo - e isso lhe trará "poderes mágicos". A raquete é um conjunto composto por aro e cordas, ou seja, não adianta você ver uma novinha na prateleira e pensar que vai sair jogando como Roger Federer. O sucesso de um tenista depende da raquete (o aro em si) e, na mesma proporção, das cordas. "Consegui tudo o que consegui porque pensei em todos os detalhes", revela suíço. Ivan Lendl corrobora: "Quando ia para um tiebreak, sempre pegava uma raquete nova, porque não podia perder um ponto por quebrar a corda."
Então, não adianta você ter um chassis de Porsche com um motor de Fusca. A raquete funciona com o equilíbrio do aro, o "chassis", e as cordas, o "motor" da sua máquina. Para isso, você precisa conhecer melhor o seu equipamento e as características específicas para pode escolher os modelos certos para seu estilo de jogo. Dessa forma, a Revista TÊNIS conversou com dois especialistas no assunto para tentar ajudá-lo a não se enganar quando for ao balcão pedir uma raquete e uma corda.
O argentino Luis Pianelli já viu de tudo no mundo do tênis, desde as antigas raquetes de madeira de Bjorn Borg e John McEnroe, até as novas armas dos maiores atletas da atualidade, como Federer, Rafael Nadal, Maria Sharapova, entre outros. Já foram viagens para Roland Garros, Australian Open, Masters de Miami, 10 anos no time da Copa Davis da Argentina. Juan Martin Del Potro, até hoje, lembra-se com carinho do companheiro que encordoou suas raquetes durante a saga no US Open de 2009. Ninguém melhor do que ele para tentar dar um norte a quem ainda tem dúvidas sobre o equipamento que pode usar nas aulas do clube, ou até para você que está pensando em mudar de raquete buscando mais controle ou potência.
Pianelli afirma que três palavras são fundamentais para se recomendar uma raquete a um aluno: potência, controle e manuseio. No mercado, há várias opções de equipamentos que apresentam atributos que podem agradá-lo e ser decisivos na hora de apontar a escolhida na prateleira. A seguir, o especialista aponta as caraterísticas que você precisa ficar atento na hora de selecionar sua raquete:
Maior parte dos profissionais usa cordas híbridas e, segundo especialistas, os amadores também deveriam pensar em colocar filamentos diferentes na horizontal e vertical
Junto com Luis Pianelli no Brasil Open e credenciado também a trabalhar como encordoador em Grand Slams, Ricardo Dipold é outro mestre quando a questão é deixar o equipamento o melhor possível para o cliente. Além da raquete, o profissional complementa a orientação do amigo argentino e enfatiza a importância da corda tanto para quem é destaque no circuito quanto para quem acaba de ingressar no esporte.
A primeira coisa a ser notada é o padrão de encordoamento, que se resume na marcação de dois dígitos - o número de filamentos dispostos na vertical (mains) na cabeça da raquete e, em seguida, na horizontal (crosses). Quanto mais cordas, mais fechada a trama, ou seja, você terá mais controle, porém precisará fazer mais força para gerar efeito. Quanto menos cordas, mais espaçadas as tramas e mais fácil gerar efeito. Para quem está nos primeiros passos no esporte, é uma boa começar com uma dessas.
E mesmo que você venha a adquirir uma raquete no mesmo estilo de um de seus ídolos, não pense que irá atuar como eles. Os equipamentos são muito específicos para cada atleta e a tensão maior nas cordas (superior a 60 libras mais ou menos) ou o tamanho de uma raquete similares ao do ídolo não são sinônimos de evolução para o amador. "Não adianta assistir ao Nadal, Djokovic, Federer, Serena, Venus, que são profissionais, e querer ser iguais a eles. O amador quer usar o material deles, mas não se preparou para isso. Quantas vezes você faz academia e musculação? Faz pilates? Não adianta pôr uma tensão igual a do seu ídolo e pensar que vai ser a melhor para você. É o tenista que precisa buscar sua evolução individual e não copiá-la. Deve buscar um equilíbrio", analisa Dipold, que trabalhou também no WTA de Florianópolis.
Dessa forma, ajustar a tensão das cordas é outro ponto primordial. Até os profissionais variam a quantidade de libras. Geralmente, quando um tenista joga duas semanas seguidas, ele encontra condições distintas quanto ao clima, altitude, da quadra e, assim, "testa" o seu equipamento. "No Brasil Open, o Thomaz Bellucci começou usando 47 libras e, no Federer Tour, variou entre 48 e 51. Conforme o jogador vai ganhando confiança, ele diminui a tensão para ver qual o seu limite", explica o encordoador.
Mas para o amante do tênis, que, talvez não tenha o mesmo bolso dos jogadores que acompanha, não dá para ficar trocando de cordas a cada dia. Dessa maneira, o ideal, mesmo um pouco caro, é ter duas ou até três raquetes iguais. Para Dipold, o fato de variar a tensão nos equipamentos auxilia o tenista a ter um plano para qualquer circunstância. "Imagine uma pessoa que sai de Campos do Jordão, que é alto, e vai para uma casa de praia, ao nível do mar. Ela vai se acostumar a ter sempre uma raquete para jogar, uma na altitude, uma no nível do mar. Se tiver três, aconselho pôr a tensão na terceira igual à da altitude, porque é sempre melhor você ter controle do que potência. É difícil jogar na altitude e ter que encurtar o braço", aconselha o paulistano.
"Quanto mais top é o cara, mais campeão é o seu equipamento. Tudo bem que ele acaba gastando mais, mas é o material mais fino, o que tem de melhor. A [Kristina] Mladenovic usa o mesmo encordoamento da Venus. Quer dizer, é uma jogadora nova, ainda ali no top 50, mas tem postura e característica de uma que vai ser top. Você consegue enxergar isso apenas no encordoamento", comenta Dipold.
E para quem realmente se preocupa com os detalhes, vale a pena mesclar duas cordas diferentes em uma mesma trama, o chamado hibridismo. Hoje em dia, os principais nomes do circuito fazem uso dessa técnica, como Djokovic, Federer, Andy Murray, Maria Sharapova. Mas nem sempre foi assim. Nas décadas passadas, a maioria dos tenistas utilizava tripa natural, um multifilamento, buscando potência e uma sensibilidade apurada. Então, por que mudar e acrescentar outra corda? Simples, gerar efeito na bola.
"Os tops estão usando mais as tripas na vertical (mains), porque dá mais potência, além de ser mais macia e permite mais toques, mas também o copolímero na horizontal (crosses), que dá mais a possibilidade de pôr efeito na bola, pelo fato de a corda se movimentar e voltar ao mesmo lugar, coisa que a tripa não faz. Para se ter uma ideia, a Serena mudou o encordoamento dela no meio do US Open, porque sentiu que poderia render melhor com essa técnica (hibridismo). Na casa dela, diante da torcida, trocar a corda no meio do torneio, não é brincadeira. É um orçamento caro, mas de campeão", explica Dipold.
E para você, que está começando a entender melhor essa estratégia no equipamento e também deseja fazer a coisa certa sem gastar tanto? Não se preocupe. Você pode inverter a disposição das cordas na raquete em relação aos seus ídolos, com o copolímero na vertical e a tripa na horizontal, e terá uma combinação bem-sucedida de conforto com durabilidade e ainda evitará lesões no braço por conta do multifilamento ser extremamente macio.
QUAL TENSÃO SEU ÍDOLO USA? Roger Federer: média entre 49,5 lbs mains e 47,3 lbs crosses (22,5 kg / 21,5 kg) Rafael Nadal: média entre 56,1 lbs (25,5 kg) Serena Williams: média entre 65 lbs mains e 63 lbs crosses (29,5 kg / 28,6 kg) Venus Williams: média entre 66 lbs mains e 64 lbs crosses (30 kg / 29 kg) Novak Djokovic: média entre 59,4 lbs mains e 57,2 lbs crosses (27 kg / 26 kg) Maria Sharapova: média entre 65 lbs mains e 63 lbs crosses (29,5 kg / 28,6 kg) Victoria Azarenka: média entre 62 lbs (28,1 kg) CONVERSÃO: 1 kg → 2,2 lbs |