Código de conduta paterno

Como ser um pai que interfere apenas o suficiente para que os filhos tenham uma vida feliz no esporte?

Carlos Omaki em 21 de Novembro de 2012 às 08:07

Pais devem estipular um bom “manual” do que pode e do que não pode para a criança, com preocupações como hierarquia, disciplina, educação e confiança

Na maioria dos casos, a iniciação nos esportes se dá pela preocupação dos pais no desenvolvimento físico, na saúde e em outros tantos aspectos ligados ao bem-estar dos filhos. Assim, cada pai costuma encaminhar seu filho para o esporte com que mais simpatiza. E não há nada de errado com isso, pois, o pior tipo de pai para um “atleta” é o desinteressado. Por isso, se você permitir que seus filhos iniciem em atividades pelas quais você não tem a menor simpatia, já pode estar se colocando nesse grupo.

A BRINCADEIRA PODE VIRAR ESPORTE

Seu filho pegou o “jeitinho” da coisa (tênis) e agora parece que pode ir além das raquetadas aventureiras das aulas de meia hora ou das atividades da escolinha de tênis. O que fazer?

Você precisa levar em consideração três pontos para escolher com quem seu garoto(a) irá aprimorar seus conhecimentos, intensificar a prática e chegar ao alto rendimento. Uma é a localização, outra, o preço, e a terceira, a informação. É imprescindível saber o histórico, o perfil e tudo que seja importante para avaliar alguém (professores) que talvez durante alguns anos vá passar mais tempo com seus filhos do que você. Vale uma nota do psiquiatra Içami Tiba: “Ensinar uma criança a aprender é uma das maiores lições de vida que os pais podem passar aos seus filhos”.

ESCOLHA O TREINADOR E DEIXE-O TRABALHAR

Durante os últimos dois anos e meio, venho trabalhando com um grupo de “crianças” (atletas) em que nenhuma sessão de treino foi ministrada sem a minha instrução, e parte desses jovens nunca jogou uma partida sem a minha presença desde o início do trabalho. E mesmo competindo relativamente menos do que algumas centenas de atletas que já treinei, a evolução emocional desse grupo foi, sem dúvida, a melhor obtida em 30 anos de profissão.

O sistema adotado criou uma “dependência” logística, uma cumplicidade e companheirismo entre mim e os jogadores e reduziu a ansiedade dos pais que, quando se deram conta, já viam seus filhos ganhando torneios.

A experiência determinou as posições, com os pais se colocando como apoiadores e torcedores fiéis, com confiança total no trabalho – absorvido pelas crianças. Como a influência dos pais é muito maior do que a do treinador, esse grupo foi muito valorizado por todos, porém sem sofrer a “pressão” mais influente dos pais.

A HORA DE DIVIDIR O COMANDO

Há um momento em que seu filho estará mudando de fase na hierarquia das necessidades. Ele estará abandonando a anomia, que é a fase em que tudo ao redor da criança está lá para a servir, e estará entrando na heteronomia, que é quando, então, ela reconhece que “o outro existe” e passa a entender que viver com outras pessoas dá mais prazer, e, além disso, que outros “mestres” além dos pais podem e devem ser aceitos. Mas, sem maturidade, elas necessitam de um mediador nos relacionamentos, um regulador (os pais) para controlar o emocional e os impulsos. Essa tutela, do pai e da mãe, é que estipulará as “leis”, as regras a serem seguidas e a forma como serão seguidas. Por isso, os pais precisarão aceitar essa nova fase de dividir “o comando” e algumas responsabilidades, sedimentando a base do crescimento com comprometimento e cumplicidade.

PRESSÃO POR COMPARAÇÃO

O fator mais comum de pressão, consciente ou inconsciente, são as comparações, primeiro feitas com os próprios pais, depois com outras crianças que, na maioria das vezes, servem de referência por já terem recebido apoio, experiências e prática mais adequadas ou, ao menos, há mais tempo. E, finalmente, o pior dos hábitos, que é comparar ou basear opiniões em modelos extraídos de profissionais e grandes ídolos.

O ídolo pode ser Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic ou qualquer outro, mas o parâmetro de um “atleta” de 12 anos deve ser um bom jogador de 12 anos. Nada mais do que isso. Não se ensina trigonometria no jardim de infância. Os jovens devem aprender e ser bons em cada fase do aprendizado.

“Ensinar uma criança a aprender é uma das maiores lições de vida que os pais podem passar aos seus filhos”

AUTOCONFIANÇA E AUTOESTIMA

Muitos serão os fatores de experiências que levarão os jovens a ter mais ou menos autoconfiança e autoestima. Os filtros ou catalizadores dessas experiências serão principalmente as opiniões, comentários e demonstrações diretas e indiretas de êxitos e fracassos feitos pelos pais.

QUEM É BOM PAI PARA UM ATLETA?

Cada criança possui uma velocidade de aprendizado e desenvolvimento e o seu rendimento pode ser afetado principalmente pela possível pressão dos pais ou pela falta de incentivo. Para analisar um pouco melhor esses dois problemas podemos citar LATORRE (2001), que classifica os pais em seis categorias básicas:

  1. Pais ausentes ou desinteressados, para mim são os negligentes;
  2. Pais úteis, que prefiro chamar de competentes;
  3. Pais excessivamente críticos, que prefiro chamar de céticos;
  4. Pais vociferantes, para mim os “descontrolados ou despreparados”;
  5. Pais técnicos;
  6. Pais superprotetores.

É claro que os descontrolados (ou despreparados) vão, na maioria das vezes, dizer que conversam, apoiam e não cobram, uma vez que, calmos, tratam de tentar corrigir os erros cometidos. Seu filho sempre o perdoará, afinal: “Ele é seu pai”. Mas as marcas verdadeiras dos estragos vão aparecer mais adiante com traumas de infância. Os reparos serão apenas retoques superficiais, mas as marcas e as feridas estarão lá apenas escondidas, prontas para sangrar. Para muitos psicólogos, o pior tipo de pai é o negligente. Na minha visão, eles causam problemas mais imediatos, enquanto os descontrolados deixam feridas mais profundas e que demoram mais para aparecer.

Os pais superprotetores são os que tiram o espaço da criança, que egoisticamente criam uma sensação de desconforto em sua ausência ou, o contrário, em sua presença. Acabam por ser invasivos, carregam raqueteiras, colocam a água ou isotônico (aberto) na mesa da quadra e disparam desculpas nas más atuações dos filhos. Para eles, as dores, o cansaço e as adversidades são sempre maiores do que a realidade, o adversário é sempre desleal nas derrotas e a má atuação, mau comportamento e até deslealdade do filho tem justificativas fortes.

Os críticos ou céticos são aqueles que defendem a tese de que têm de apontar as falhas, os erros, e que isso é o que funciona com seus filhos. São geradores de jovens com baixa autoestima e se transformarão em um problema fora da quadra para os filhos, chegando a ser indesejados. Os pais técnicos são, na maioria das vezes, os maiores responsáveis por atletas que não conseguem confiar no trabalho do treinador. São resistentes e contestadores. São os que se apoiam em leituras e vivências esportivas pessoais (na maioria das vezes vivências pobres), fazem cursos, escutam tudo e criam seu próprio método que normalmente é uma “metamorfose ambulante”, como diria Raul Seixas. Intrometem-se no trabalho técnico e, por vezes, terminam assumindo sua posição. Para esse tipo de pai, duas notícias. Uma boa e outra ruim. A boa é que existem, sim, muitos casos de pais que administram, gerenciam e treinam seus próprios filhos. A ruim é que isso ocorre principalmente nos países europeus em que o relacionamento entre pais e filhos é menos caloroso e emotivo, e que na esmagadora maioria dos casos os “pais técnicos” já eram técnicos ou professores, antes de ter filhos.

Pais competentes incentivam os filhos de forma positiva. Eles sabem exercer o papel de educadores, mesmo quando o assunto é o hobby das crianças

Finalmente, os pais competentes, são aqueles que incentivam os filhos de forma positiva. Que sabem exercer o papel de educadores, mesmo quando o assunto é o hobby das crianças. São exigentes, impõem limites, definem boas regras, tutelam, são o guarda e estipulam um bom “manual” do que pode e do que não pode, com preocupações como hierarquia, disciplina, educação e confiança. São flexíveis para aprender, escutar e até ceder às demandas da criança. Cooperativos, sabem confiar nas pessoas que escolheram para dar suporte a seus filhos. Favorecem relacionamentos de confiança e da almejada cumplicidade.

Por fim, tudo que envolve o ser humano implica em considerar os aspectos físico, emocional e filosófico. A leitura e os parâmetros a serem desenvolvidos pelas crianças serão muito baseados nas opiniões e exemplos dos pais, principalmente o pai propriamente dito para os meninos e a mãe para as meninas.

O topo da hierarquia das necessidades para viver bem é a autorrealização. E ela acontece apenas acompanhada da transição para o próximo estágio do desenvolvimento: a autonomia. A hora do poder da escolha, da decisão e das auto-avaliações.

10 MANDAMENTOS PARA SER UM BOM PAI DE TENISTA

  1. Em primeiro lugar, entenda que ele é seu filho e, num outro plano, é um atleta. Nunca inverta as posições;
  2. É muito mais fácil encontrar ou substituir um treinador ou professor para seu filho do que achar um pai, e muito mais barato. Seja pai e contrate um treinador;
  3. Siga boas regras de administração: contrate devagar e demita rápido. Não se intimide por amizade ou pela bondade do profissional se o seu filho precisa de um treinador melhor, mais experiente etc. Seja claro, rápido, sincero e não aceite remendos. O bom profissional irá compreender;
  4. Informe-se, escolha um bom profissional e confie. Avalie os resultados, a motivação e a felicidade dos seus filhos. Muito cuidado com ciúmes. Treinadores não querem filhos e pais não devem querer a atenção e confiança dos filhos no esporte ou você pode acabar perdendo aquilo que tanto quis encontrar;
  5. Seja o tutor, o avaliador, o moderador e o crítico. Transmita confiança ao atleta no trabalho do seu treinador, mas também avalie e critique o professor que, sem prejuízos emocionais para o atleta, tomará suas providencias ou dará suas explicações. Se nenhuma dessas alternativas for apresentada, é hora de mudar, mas sem trauma;
  6. Não seja invasivo, os filhos querem o aplauso dos pais, o brilho nos olhos, a satisfação, os elogios (quando merecidos) e o reconhecimento. Os torneios são o palco da criança. Deixe-os demonstrar que já sabem como atuar. Nada de carregar raqueteira, dar presença, entrar na quadra etc. Ensine, comente em forma de lembrete e deixe-os agir;
  7. Seja e porte-se como o “elegante” pai do seu filho e não o assistente técnico e muito menos o colega de tênis. Lembre-se: você efetivamente não faz parte do torneio, é um expectador, acompanhante e estará com os nervos à flor da pele;
  8. Deixe seu filho fazer a parte dele. Deixe o treinador fazer a parte dele. Deixe o árbitro fazer a parte dele. Apenas bata palmas e avalie;
  9. Tenha certeza de que está preparado para ver uma vitória ou uma derrota e, principalmente, esteja ciente que muitas vezes verá uma eminente derrota se consumar em vitória e vice-versa. Prepare-se para não ser o carrasco;
  10. Sempre é tempo de recomeçar, com humildade e inteligência. Um bom diálogo pode consertar todos os erros cometidos, pode reestabelecer um bom relacionamento que, sem dúvida, fará seu filho mais feliz e produtivo. Pode inclusive alterar paradigmas de fracasso estabelecidos por erros
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