Qual é o melhor lugar para um jovem atleta treinar, os clubes ou as academias?
Por Carlos Omaki em 23 de Outubro de 2015 às 00:00
Pensando no tênis social, é muito fácil dividir o público de tenistas de uma academia e de um clube. As questões de tempo disponível e quantidade de parceiros, variedade e até nível técnico são fatores determinantes para a escolha entre um clube ou uma academia.
Porém, quando falamos de competidores, atletas ou jovens promessas, as variáveis são maiores. Com uma estrutura muitas vezes inigualável, os clubes são um verdadeiro paraíso para os tenistas e papais, que podem deixar seus filhos nos treinamentos, com conforto e segurança, além de ter outras grandes vantagens. Mas, por que será que quando se fala em treinamento de alto rendimento, a ideia é de um centro de treinamento ou uma academia de tênis?
Repare que quando se pensa em treinar ou adquirir uma experiência fora do país, por exemplo, nos Estados Unidos ou na Espanha, na maioria das vezes estamos nos referindo a uma academia. Em que clube você treinaria nos Estados Unidos? Salvo as pessoas que já moraram nesses países, poucos podem responder prontamente a essa pergunta. Por outro lado, respostas como Bollettieri, Sadewbrook, Gabe Jaramillo, Evert, Cólon Nunez ou Sanchez Casal, Ferrero, Bruguera etc serão sempre imediatas.
Nas academias, os programas de treinamento são mais personalizados
Para profissionais que trabalham tanto em clubes quanto em academias, o tema pode parecer simples. Porém, quando iniciamos uma comparação que vai desde o “hardware” até o “software”, ou seja da estrutura física aos profissionais envolvidos, responder qual dos dois é melhor para os tenistas, por simples preferência a um ou outro, pode ser de certa forma irresponsável ou tendencioso. Comecemos então pelo final do raciocínio.
Como treinador e técnico, gosto de crer que quando se decide submeter uma criança a um treinamento, um programa com maior comprometimento do que uma aula ou curso, essa decisão deve estar baseada na pessoa que vai treinar essa criança, no treinador ou na equipe que irá desenvolver o trabalho. Afinal não é a estrutura física que vai definir quem jogará melhor.
E, para essa comparação, não estamos levando em conta a academia A ou o clube B, mas sim exemplos gerais baseados em experiência pelo mundo todo. Para tanto, separamos 12 aspectos, partindo da iniciação ao alto rendimento e, dessa forma, montamos um placar de vantagens e desvantagens. Siga e veja do que você ou seu filho mais precisam em cada momento.
A iniciação de uma criança no esporte, inclusive no tênis, não será diferente de um lugar para outro, como alguns podem pensar. Ela deve ser coletiva, em grupos, em que o professor possa desenvolver uma boa diversidade de atividades lúdicas, o ambiente deve ser contagiante e as crianças precisam desejar ir para lá mesmo quando cansadas ou menos dispostas. Deve ser um ambiente convidativo de amiguinhos e alegria. Existem muitas academias com programas em grupo para crianças, mas essa é uma situação muito mais comum nos clubes. Portanto:
Clubes 1 x 0 Academias
Quando falamos em intensificar e aperfeiçoar a técnica de uma criança, a carência de número na questão anterior pode ser decisiva nesse aspecto. As academias são mais caras do que os clubes, selecionando o público por interesse, assim investe mais quem quer mais. Novamente, a questão financeira dos programas das academias farão com que os professores estejam mais atentos aos pequenos sinais de vontade da criança e buscarão, como forma de otimizar seus clientes, aumentar o programa ou intensificar o trabalho com os que demonstrem vontade para isso, independentemente até de nível técnico. Nos clubes, os olhos serão muito mais exigentes para destacar uma criança. Portanto:
Clubes 1 x 0 Academias
A melhor maneira de entender o jogo, para se desenvolver aspectos estratégicos e táticos, será jogar especialmente com adversários de mesmo nível ou mais fracos, que têm falhas e cometem erros que podem ser explorados. Para isso, ter tempo para exercícios lúdicos será indispensável. Aqui, a questão do número de participantes das sessões de treino e o custo por hora novamente serão decisivos a favor dos clubes. A ideia de que jogar com um professor será melhor para a criança é bastante discutível e, na maioria dos casos, equivocada. Portanto:
Clubes 2 x 1 Academias
Formar um time será indispensável para um desenvolvimento mais feliz e proveitoso dos atletas, nem que seja em relação à sua equipe técnica ou multidisciplinar. As competições por equipes colaboram muito nesse processo, permitindo que o atleta aprenda a desenvolver e se preocupar com táticas e estratégias de forma menos emotiva e com um ponto de vista baseado no raciocínio lógico livre, ou atenuado da emoção pessoal. Os clubes promovem mais competições por equipes que, além dos aspectos citados anteriormente, ainda são as únicas competições que permitem ao treinador instruir e interferir durante os jogos, tanto em aspectos técnicos como emocionais do atleta, promovendo um ganho extra na parte mental. Portanto:
Clubes 3 x 1 Academias
Como os pais das crianças normalmente frequentam os mesmos clubes que os filhos, e neles permanecem por mais tempo, acabam incentivando muito mais a participação das crianças em competições que possam alterar a rotina familiar. Os clubes geralmente são os “palcos” de estreia das crianças em competições – que também são mais frequentes do que nas academias. Portanto:
Clubes 4 x 1 Academias
Os clubes possuem um caráter mais competitivo do que as academias e, por isso, realizam mais atividades externas, como intercâmbios e amistosos, oferecendo em muito mais casos do que as academias, um acompanhamento aos filhos de seus associados nessas atividades – que não deixam de ser competitivas. Portanto:
Clubes 5 x 1 Academia
Quando dizemos treino, estamos tratando de um trabalho mais específico do que uma aula e mais voltado aos interesses de um competidor. Novamente, a carência de um se torna a vantagem do outro e, nesse caso, encontramos este serviço a contento muito mais nas academias do que nos clubes. As academias possuem mais carência de clientes do que os clubes. Assim, a lei da oferta e procura acaba por induzir os profissionais das academias a serem mais cuidadosos e atenciosos, tanto por disponibilidade como por autodefesa. O atendimento precisa ser muito vantajoso para atrair o atleta que provavelmente é, em muitos casos, também sócio de um clube. Portanto:
Clubes 5 x 2 Academias
De acordo com a evolução dos atletas, ocorre um processo natural de seleção nas opções que vão desde a escola que cursam até os torneios que jogam, passando por quantidade de dias de treino por semana, de torneios jogados por ano, ou seja, de investimento em tempo e dinheiro, entre outras coisas. Com isso, as estruturas de treinamento, tanto dos clubes como das academias, passam a enfrentar dificuldades em acompanhar as especificidades de cada atleta, principalmente no que se refere ao atendimento externo a suas dependências.
Os clubes enfrentam, nesse caso, um agravante legal na remuneração desses serviços, pois, na maioria das vezes, acabam criando complexos sistemas que vão desde um banco de horas até as inviáveis horas extras, tornando isso muito oneroso ao clube. Outro fator comum na decisão do acompanhamento de atletas em eventos externos ao clube é a quantidade de jogadores envolvidos nos torneios, o que também dificulta atender necessidades individuais.
Já as academias, mesmo as menos especializadas, operam de uma maneira mais fácil no que tange a cobrança de taxas de forma informal ou mesmo formal ao profissional contratado, ou então possuem o serviço incluído nos preços do treinamento. A responsabilidade social é menos complexa, já que os atletas e seus pais assumem o risco do processo utilizado, como clientes individuais, muito diferente dos clubes que, assumem automaticamente as responsabilidades, como tendo os atletas representando suas cores nos eventos. Portanto:
Clubes 5 x 3 Academias
Esse é um aspecto, na maioria dos casos, quase impossível nos clubes e muito mais comum nas academias, especialmente as especializadas em treinamento competitivo. Portanto:
Clubes 5 x 4 Academias
Nesse aspecto, se pensarmos em estabilidade física, os clubes seriam absolutamente imbatíveis, com dezenas e dezenas de anos de história, sedes tombadas ou com situações de anistia de impostos etc. Porém, cada vez mais, fica claro que um dos problemas enfrentados pelos atletas e suas famílias – e que resultam muitas vezes em prejuízo técnico – é a instabilidade com a equipe técnica – principalmente o treinador. Muitas mudanças de treinador indicam duas principais possibilidades: ou o jogador ainda não encontrou a pessoa correta, ou ele (e provavelmente a família também) não está admitindo seus erros e, para isso, busca origens externas. Isso é um grave erro.
Nesse ponto, os clubes possuem uma particularidade que gera muitas incertezas, já que seus diretores são normalmente sócios voluntários e alternam gestões de dois ou três anos. Isso, muitas vezes, implica em mudanças de filosofia, de trabalho e de equipe. Há raras exceções. Então, mesmo sujeitas a questões como mercado imobiliário, viabilidade financeira etc, historicamente ainda encontramos maior durabilidade na linha de atuação e, consequentemente, na estrutura humana (profissionais) nas academias. Portanto:
Clubes 5 x 5 Academias
Pensando em linhas gerais, os clubes possuem muito mais casos com estrutura de outros esportes, como academia de ginástica, departamento médico, fisioterapia e até psicólogos, além de equipamentos e estrutura que, quando podem ser usadas pelos atletas, complementam seu desenvolvimento. Com certeza, fica bem mais fácil montar a equipe multidisciplinar em um clube e certamente os custos diluídos com outros esportes favorecem ainda mais. Portanto:
Clubes 6 x 5 Academias
Apesar de as crianças terem um vínculo forte com seus clubes, em relação ao trabalho ou treino em si, a atenção mais direcionada acaba gerando um elo de ligação mais forte entre a equipe técnica e o atleta nas academias. Mesmo os bons resultados, nos clubes, acabam sendo divididos também com os resultados de outros esportes. Nas academias, eles são muito mais valorizados e enaltecidos. Portanto:
Clubes 6 x 6 Academias
Um fator muito considerável no processo de aprendizado e aprimoramento dos tenistas são os custos. Aqui não há comparação. Os clubes são entidades geralmente sem fins lucrativos e os esportes, mesmo de competição, são atividades prioritárias, oferecidos como benefício aos seus associados. Assim, os custos podem ser diluídos entre os envolvidos ou mesmo inexistir. Fatores como a isenção de impostos dos clubes fazem total diferença na questão econômica, além de um título de clube poder ser compartilhado por toda a família. Outra grande diferença está no apoio ou custeio de despesas com torneios, viagens, uniformes etc. Isso também faz parte da política dos clubes e acaba por resultar em mais economia ainda para aqueles que representam as suas cores. Portanto:
Clubes 7 x 6 Academias
Mesmo com um placar apertado, os clubes acabam, na maioria das vezes, sendo mais vantajosos principalmente para o desenvolvimento dos tenistas, especialmente para os atletas de destaque. As academias tendem a ser superiores no atendimento a momentos e situações específicas, podendo inclusive servir de reforço, complemento ou até o caminho para se conseguir uma situação de destaque dentro dos clubes.
Os itens abordados acabaram levando a uma situação importante: para cada fase, um dos dois seria melhor do que o outro, porém, em todas as fases, um pode e deve complementar o outro. Por exemplo:
Os clubes são, sem dúvida, melhor para as crianças mais jovens, especialmente entre os 7 e 13/14 anos. Já as academias têm muito mais chance de contribuir com um garoto com um nível elevado, principalmente a partir dos 13/14 anos.
Os clubes possuem programas mais divertidos e com maior chance de despertar interesse nas crianças pelos treinos e, especialmente, pelas competições. Nessa fase, em que os trabalhos com grupos devem ser muito mais prazerosos e convidativos, treinos específicos e talvez uma ênfase no aperfeiçoamento e ritmo poderiam ser complementares – e isso seria provavelmente muito mais fácil e comum de ser encontrado nas academias.
As academias podem e devem juntar mais atletas de alto nível, com um interesse maior em evoluir, competir e ter melhores parceiros, além de acompanhar e desenvolver programas visando competições maiores que, por sua vez, também podem ser complementadas com o espaço dos clubes e a variedade de parceiros. Os jogadores trabalhados em academias têm uma chance maior de jogar sets e aumentar seu tempo de quadra a custo baixo ou quase zero atuando nos clubes.
Como iniciamos nossa avaliação sobre esses dois polos de formação de atletas, volto a insistir que, na minha visão, o mais importante é haver um casamento de momentos, entre treinador e atleta. Seja no clube ou em uma academia, o treinador precisa estar vivendo um momento favorável ao nível de desenvolvimento do jogador. Dessa forma, pouco adianta colocar um jovem de 10 anos ao lado de um ótimo treinador, mas que prefere trabalhar com atletas profissionais. Ou então ter um bom treinador de meninos, mas que talvez não tenha paciência ou conhecimento das particularidades e dos cuidados no trabalho com as meninas. Assim como de nada vale um ótimo treinador se ele estiver preso a uma filosofia que não seja favorável ao alto rendimento.
Essas seriam apenas algumas de infinitas situações que podem ocorrer e que fazem com que o tênis perca excelente material humano, além de prejudicar o atleta e sua família, que, com ou sem ajuda, é quem paga a conta, seja de um trabalho bom ou negligente.