Club Athletico Paulistano

O centenário clube nasceu valorizando o futebol, mas deve grande parte de sua rica história de glórias esportivas ao tênis

Luiz Pires em 5 de Setembro de 2007 às 13:10

Em um dos bairros mais valorizados de São Paulo fica o Paulistano, clube com 107 anos de história

A PRÁTICA DE ESPORTES no início do século passado não era sinônimo de saúde e bem estar como hoje. Na época, as manifestações esportivas eram consideradas pouco dignas e ficavam praticamente restritas à população das classes baixas. Foi nesse cenário, no ano de 1900, que surgiu o Club Athletico Paulistano, CAP. Os amigos Silvio Penteado, Renato Miranda, Ibanez Salles e Olavo Paes de Barros tiveram a idéia de fundar um clube depois de receberem diversos convites para se tornarem sócios de outras agremiações. Em vez de se associarem a clubes de ingleses ou alemães, decidiram fundar uma instituição genuinamente paulistana. Mal sabiam que o clube um dia teria mais de 25 mil associados e se transformaria em uma potência do esporte nacional.

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Durante os primeiros 15 anos, as instalações do clube foram improvisadas em um velódromo abandonado na região central de São Paulo, onde foram construídos um campo de futebol e quadras de tênis com materiais importados da Europa. Recém- chegado ao Brasil, o futebol já era febre e passou a ser a principal modalidade praticada no clube, mas o tênis também teve papel importante no início da história do CAP, um dos primeiros clubes a contar com quadras oficiais e a participar de competições.

Contudo, por volta de 1915, o Paulistano quase encerra suas atividades após a desapropriação do velódromo. Com apenas 30 sócios remanescentes, a agremiação busca uma nova sede e o clube se instala no Jardim Paulistano, até então, uma área afastada. Na inauguração, em 1917, estavam o presidente Washington Luiz e o poeta Olavo Bilac, que hasteou a bandeira do CAP.

A mudança para uma nova sede ajudou a transformar o clube em uma das maiores potências tenísticas do Brasil na época. Na década de 1920, o Paulistano se tornou um dos primeiros clubes a estimular a prática de tênis entre as mulheres e elaborar um calendário de torneios locais e interestaduais. Mas, foi em 1930, com o fim do time profissional de futebol, que o tênis ficou em primeiro plano. Esta posição permanece até hoje, através da escola de esportes, das aulas ministradas às crianças, dos torneios internos e do prestígio de tenistas do clube que já se destacaram no cenário nacional e internacional.

Passado e presente: Lelé escreveu sua história no Paulistano. Aos 69 anos, ele ainda dá aulas no clube

O encerramento das atividades do futebol gerou uma debandada dos craques do time (entre eles um dos maiores jogadores da história, Arthur Friedenreich) e, anos depois, os atletas fundaram o São Paulo Futebol Clube. O fim da equipe de futebol também consolidou outras modalidades esportivas. Além do tênis, natação, basquete, voleibol, atletismo, pólo aquático e esgrima foram esportes nos quais o Club Athletico Paulistano passou a ter força no cenário nacional, revelando grandes nomes.

PRATAS DA CASA
Entre os tenistas mais talentosos que passaram pelo clube no início do século passado está Nelson Cruz, um dos convocados do Brasil na primeira participação na Copa Davis, e Manoel (Maneco) Fernandes, filho de um porteiro do clube que tomou gosto pelo esporte quando era pegador de bola. Maneco, falecido em 2004, falava com saudosismo e admiração sobre os grandes tenistas que viu jogar nas quadras de saibro do CAP: "Peguei bola para Martim Plaa, um grande atleta francês que passou três anos no Brasil e foi com quem aprendi a jogar tênis." Plaa foi campeão de Roland Garros em 1932 e vice em 33 e 35.

Armando Vieira também iniciou sua história no Paulistano. Ele começou a jogar em 1932, com sete anos. Vieira revolucionou o tênis brasileiro ao mostrar que, para evoluir no esporte, era preciso jogar fora do País. "Aqui ninguém ajuda ninguém", dizia na época. Em suas viagens, enfrentou grandes nomes do tênis mundial e "importou" golpes como o topspin e técnicas que lhe garantiram oito títulos nacionais e três sul-americanos. Além destas conquistas, ostenta até hoje o feito de ser o único brasileiro a alcançar as quartas em Wimbledon por dois anos seguidos.

Irmão caçula de Maneco, Carlos Alberto Fernandes, mais conhecido como Lelé, também escreveu sua história nas quadras do Paulistano. Aos 69 anos, Lelé ainda ministra aulas no clube e tem suas principais conquistas na ponta da língua. "Ganhei todos os torneios juvenis de que participei, menos Wimbledon e Roland Garros. Durante uns dois anos não perdi um único campeonato no Brasil. Além disso, fui medalhista de ouro nas duplas do Pan-americano de São Paulo em 1962 ao lado de Ronald Barnes e venci torneios em Dusseldorf e Colônia, na Alemanha, e em Roma, na Itália", revela o tenista, que ainda defendeu o Brasil na Copa Davis por vários anos e foi o primeiro brasileiro quadrifinalista em Roland Garros.

Lelé acompanhou a transição entre o tênis amador e o profissional. Sua carreira foi encerrada precocemente quando quebrou o pé aos 25 anos. Depois da contusão, tornou-se professor de tênis e chegou a treinar atletas como Cássio Motta e Luiz Mattar. Atualmente, também é conselheiro do clube. "Tudo o que possuo hoje devo ao Paulistano. É um grande clube, que só me trouxe grandes amizades e coisas boas", admite.

Entre as mulheres, o CAP também formou excelentes tenistas. Cecy Carvalho é um exemplo. Aos 15 anos, ela chegou à São Paulo, começou a treinar no clube e foi campeã paulista e brasileira, travando jogos equilibrados com Maria Esther Bueno. Cecy foi capitã da equipe de primeira classe do Paulistano por treze anos seguidos na disputa do Interclubes e perdeu as contas dos títulos que conquistou, mas sente até hoje os reflexos da vida de atleta. "Naquela época, não havia intervalo entre os games e nem tiebreak. Os jogos eram muito desgastantes", contou Cecy, de 71 anos, indicando as próteses de titânio nos joelhos. Mesmo assim, o clube ainda é parte de sua vida: "Isso aqui é um oásis no meio da selva de pedra".

Outro tenista consagrado que passou pelo clube foi o bauruense Julio Góes. Ele iniciou sua história no CAP há quinze anos, após abandonar o circuito profissional. Atuando como militante, Góes trouxe tantas conquistas ao clube que ganhou um título de sócio honorário, em 2001. "O Paulistano é tudo na minha vida e hoje em dia eu praticamente moro aqui. Sempre me esforcei para representar o clube e fui reconhecido por isso", orgulha-se Góes, que hoje é um dos nove professores de tênis da agremiação.

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Trajes sociais, como a calça branca, faziam parte do uniforme dos tenistas
Os mais de 25 mil sócios podem desfrutar de vários serviços que o CAP oferece

FUTURO
O local do Club Athletico Paulistano hoje é uma ilha de tranqüilidade no centro da agitação da metrópole paulistana. Mesmo cercado por grandes edifícios, o clube não perdeu o charme do início do século passado, quando as raquetes eram de madeira e os tenistas só jogavam de calças brancas e vincadas. Aos 107 anos de vida, o CAP conta com 13 quadras de tênis dispostas em uma área de 41 mil metros quadrados, tombada pelo patrimônio histórico e que mescla modernas instalações com prédios históricos.

O tênis é apenas uma das diversas modalidades praticadas no clube, que vai desde as tradicionais, como basquete, vôlei, natação, até badminton, jiu-jitsu, pelota basca etc. Além das instalações esportivas, os sócios ainda desfrutam de diversos serviços, como agência bancária, centro de estética, biblioteca, bares e restaurantes de qualidade. Com a participação de aproximadamente dois mil sócios, o departamento de tênis tenta resgatar a fórmula que criou tantos campeões e investe seriamente na criação de uma equipe de treinamento competitivo para revelar novos talentos do esporte e formar cidadãos conscientes de que a história do clube deve ser preservada.

Com tantas conquistas para recordar, o Paulistano mantém em sua sede um pequeno museu aberto aos sócios. O Centro Pró-Memória conta com um acervo de documentos, fotos, reportagens e centenas de troféus que remontam os seus momentos de glória. Entender o passado para planejar o futuro pode se a chave do sucesso para os próximos 100 anos do Club Athletico Paulistano.

O tênis é apenas um dos muitos esportes praticados no CAP, que possui equipes de basquete, futebol, pólo aquático etc
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