É o momento de investir no tênis feminino
Vanessa Menga em 13 de Março de 2007 às 07:30
DEPOIS DE NÓS, MULHERES, conquistarmos postos de trabalho mais destacados, já começamos também a conquistar o mundo do esporte brasileiro. Vocês sabiam que nas últimas Olimpíadas, pela primeira vez na história, as mulheres constituíram 50% da nossa delegação?! Com novos métodos de condicionamento físico, conseguimos hoje que o nosso corpo passe a dar respostas e resultados cada vez mais rápidos. Por isso, vejo que é o nosso momen
Todos me perguntam: "Por que não temos mulheres em destaque?" São duas as respostas. Uma é que não existe divulgação em nível nacional. A outra é que falta uma mentalidade "argentina" em nossas brasileiras. Afirmo isso não só porque sou filha de argentino, mas porque vi, em 15 anos no circuito profissional, que as argentinas, mesmo sem patrocínio, jogam com garra. E a falta de apoio financeiro e a distância da família, só faziam com que, com sangue argentino, continuassem na batalha.
Talentos, sim, temos de sobra. Por isso precisamos explorá-los de forma positiva, com bons profissionais e uma estrutura física e mental de campeões, como ocorre na Espanha. Aos 14 anos fui morar (ficar internada) na academia de Sergi Bruguera, perto de Barcelona. Lá aprendi como é ser profissional, treinar seis horas diárias (quatro de quadra e duas de preparação física). Aprendi conviver em equipe, a cuidar e a administrar meu dinheiro, ou seja, ter responsabilidade. Comia de tudo, porque, após horas de treino, a fome era enorme. Lógico que a alimentação era por indicação do preparador físico e nutricionista. Também aprendi que é preciso "suar sangue" para se chegar aonde quer. E todos nós devemos querer chegar ao topo, ser número um!
DISCIPLINA
A rotina é essencial. Na academia, uma campainha nos acordava às 8h, tomávamos café e íamos direto para a quadra, por duas horas. Em seguida, uma hora de preparação física e, às 13h, almoço. Descanso de uma hora e, mais tarde, duas horas de quadra e uma hora de físico. Às 17h, um lanche ("merienda"). Antes do jantar, todos estudavam. As salas eram dentro da academia e eu tinha aulas de inglês. Às 21h, jantar e, às 23h, toque de recolher. Rotina mesmo! Com isso, você conquista disciplina, força e confiança no seu trabalho. Em 1992, aos 15 anos, participei do meu primeiro torneio profissional. Voltei ao Brasil em julho e, após dois anos, estava de volta à Europa. Em 1994, conquistei meu primeiro ranking mundial e o primeiro torneio profissional em duplas, na Espanha. Em minha primeira viagem, que durou três meses, não peguei um táxi sequer. Veja o quanto eu economizava! Viajei pela Europa toda de trem, ônibus e metrô. Aventura? Sim, mas hoje vejo tudo isso como uma experiência que faz parte de todos os tenistas que querem chegar lá.
Hoje já temos toda a estrutura para se treinar de forma profissional no Brasil, com ótimos técnicos e academias super bem equipadas. Temos meninas jovens que, se quiserem, podem chegar entre as top. É o caso de Roxane Vaisemberg, que se destaca pela sua força de vontade em querer treinar, aprender e melhorar. Além de ter um talento natural, ser canhota, e lutadora por natureza. Outra é Teliana Pereira, jovem e garrida ao máximo. Tem uma excelente estrutura de treinamento no sul.
Por isso meninas e mulheres brasileiras, vamos aproveitar estes avanços e lutar com unhas e dentes para chegar lá! Lembrem-se que a vitória não é mais importante do que vocês terem a certeza que se esforçaram ao máximo para conquistá-la.
Vanessa Menga ganhou medalha de ouro nos jogos Pan-Americanos de Winnipeg (1999). vanessamenga@revistatenis.com.br |