Jovem tenista disputa o Pan 16 anos depois do Ouro conquistado por seu tio Fernando Meligeni em Santo Domingo. Número #3 do Brasil na WTA, ela mira medalha e busca por vaga nos Jogos Olímpicos
por Guilherme Souza em 24 de Julho de 2019 às 15:38
Foto: Divulgação
Carol Meligeni é um dos principais nomes do tênis brasileiro nos Jogos Pan-Americano de Lima. Jogadora de 23 anos, ela é atualmente a terceira melhor tenista do país no ranking de simples e buscará na competição disputada no Peru repetir o enorme feito de seu tio, Fernando Meligeni, que em 2003 conquistou a medalha de ouro em Santo Domingo, na República Dominicana.
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A missão é dura. Atual #332 do mundo, Carol enfrentará tenistas com melhor ranking, caso de nomes como a paraguaia Verônica Ceped Royg (#146), a canadense Rebecca Marino (#162), a argentina Nadia Podoroska (#286) e as americanas Usue Maitane Arconada (#180), Caroline Dolehide (#245).
Para se destacar no torneio, Carol promete máxima dedicação em quadra. "Sei que não é só por mim, é por uma causa maior, pelo Brasil, pelo quadro de medalhas, pelas Olimpíadas", comentou a tenista.
Durante a entrevista concedida à Revista Tênis, Carol Meligeni falou da experiência de representar o país na Fed Cup, o sonho de disputar os Jogos Olímpicos e relevou o sentimento ao ver o tio ficar no lugar mais alto do pódio.
1) Qual a sensação de repetir o seu tio 16 anos depois da conquista do Ouro em Santo Domingo e também participar do Pan?
A sensação é muito incrível! Eu e meu tio conversamos sobre isso algumas vezes desde que eu vi que poderia jogar o Pan-Americano. Fiquei muito feliz, porque acontece poucas vezes e de alguém na sua família ter jogado e conseguido o ouro e você ir lá e se classificar para a mesma competição num torneio desse tamanho.
É uma conquista incrível e diferente. Fiquei muito feliz, assim como minha família. Meu tio ficou muito feliz e orgulhoso e isso foi algo super legal que aconteceu.
2) O que você lembra do dia da conquista do Fino no Pan?
Lembro muito bem de quando ele ganhou o ouro. Minha família inteira estava reunida na casa de uns amigos. Foi uma tensão enorme, um jogo muito pegado, dramático. Eu e meu irmão éramos pequeninhos, mas lembro perfeitamente da comemoração, a alegria e emoção de todo mundo de ver ele fechar uma carreira brilhante pretendo com chave de ouro. Foi incrível.
3) Fino contou que irá para Lima para te apoiar nesse momento tão importante. O que a presença dele pode te ajudar?
Sim, ele vai para Lima. Ele disse que ele ia ver o que conseguia fazer com a agenda dele e acabou conseguindo. Minha mãe, meu pai e minha avó também vão, assim como o Ceará , que é meu manager. Vai ser muito especial para dividir esse momento incrível e essa conquista super legal de jogar os Pan-Americanos e poder viver esse momento pertinho da minha família, contando com a presença do meu tio.
4) Se fizer uma boa campanha e disputar a final, você fica muito perto de uma vaga nos Jogos Olímpicos. Disputar uma competição desse nível é uma meta em sua carreira?
Disputar os Jogos Olímpicos é uns dos objetivos de todo o atleta de qualquer modalidade. Todo mundo sonha em participar de uma competição como essa, então com certeza é um objetivo.
Claro que vou para o Pan pensando em conseguir jogar o meu melhor tênis e fazer as coisas que venho trabalhando. A medalha é uma é um objetivo muito grande que todo mundo tem, mas é consequência do meu trabalho bem feito. Vou com o objetivo de conseguir isso e consequentemente a vaga nas Olimpíadas, mas pensando passo a passo.
5) Quais tenistas você acha que podem ser consideradas as principais favoritas à medalha no Pan desse ano?
Li a lista, mas não fiquei olhando muito também não. Se não me engano a cabeça #1 é a Ceped (a paraguaia Verónica Cepede Royg, #146 do mundo). Eu não vi o resto, mas é uma competição dura, várias jogadoras que jogam super bem. Tem as americanas, várias sul-americanas que jogam super bem.
Então não sei se tem alguma favorita, é uma competição muito acirrada, que vale muito e é diferente de todas as outras que nós disputamos ao longo do ano. Pode acontecer de tudo, então preciso estar preparada para o que está por fim.
Foto: Divulgação/ITF
6) No começo desse ano você teve mais uma vez a experiência de jogar representando o país, pela Fed Cup. Qual o balanço você faz da participação da equipe no torneio nesse ano?
Sim, no começo do ano joguei mais uma Fed. Tinha ido uma vez como sparring, outra vez pude jogar uma partida de duplas. Esse ano fui como titular de novo joguei todas as simples e ganhei os meus jogos. Foi uma experiência incrível, com o grupo e o staff unido, todo mundo em busca do mesmo objetivo.
Todas as meninas e a treinadora mantém uma ótima relação. Somos amigas fora da quadra também, nós damos bem e nos encontramos no tour durante o ano.
Foi um clima em um ambiente muito legal e feliz. A gente conseguiu jogar bem e estar unido e entrosado com todo mundo do time. Sinto que jogo bem nesse tipo de competições, então foi bem legal e consegui trazer essa vitória aí para o Brasil. Conseguimos classificar para o Playoff ao lado de amigos e pessoas especiais.
7) Quais as diferenças de jogar nos playoffs do Grupo Mundial e no Zonal das Américas?
É diferente, porque jogar Zonal e competições assim são bem desgastantes. É uma pressão diferente, são exigências diferentes. Jogar Zonal é diferente porque nele você joga um confronto por dia e bem pegado.
Já os playoffs você viaja para aquele confronto. São dois dias de competição e tem um nível diferente. São jogadoras melhores na teoria, com ranking superior. Elas estavam jogando antes o Grupo Mundial e contra nós lutavam para permanecer lá. É bem duro.
A experiência de jogar com jogadoras desse nível é incrível. Enfrentei a Cibulkova na simples, uma tenista que jogou o top do tênis mundial, ganhou um WTA Finals. Foi uma experiência legal para mim. Apesar do placar ter ficado bem longe e tranquilo, consegui jogar de igual para igual em vários pontos e ver exatamente as coisas que faltam para poder chegar nesse nível.
Joguei nas duplas junto com a Lu (a paulista Luisa Stefani) contra a Viktoria Kuzmova e Rebecca Sramkova. Uma é 50, 40 do ranking e a outra já foi top 10 e a gente ganho delas. Jogar pelo Brasil em um estádio grande como aquele foi uma experiência muito legal.
8) O Time Brasil vai ter a Roberta Burzagli, que comandou o time da Fed Cup nesse ano, no comando da equipe feminina de tênis durante os jogos. O que a inclusão dela na equipe traz de diferente?
A Beta é uma pessoa muito especial. Conheço ela desde pequenininha, viajei com ela e a equipe da ITF para jogar os Grand Slam. A gente se conhece bem, ela é uma pessoa incrível, é uma ótima técnica.
É muito bom tê-la na equipe, porque já nos conhecemos bem e ela já viajou tanto comigo quanto com a Lu na Fed em outros torneios. Acho ótimo, ela tem muito a agregar e com certeza a presença dela vai fazer muita diferença.
9) Sua participação na Fed Cup lhe rendeu o "Fed Cup Heart Award", destinado a tenistas que apresentam garra dentro dos jogos. Como essa característica influencia em seus jogos? Considera um diferencial que pode pesar no Pan?
Fiquei muito feliz com esse prêmio, muito mesmo. Inclusive estou usando agora a pulseirinha (Carol recebeu também uma pulseira Thomas Sabo gravada e um cheque de US$ 1 mil para doar a uma instituição de caridade). Foi uma das grandes coisas que aconteceram comigo esse ano. Isso é uma coisa que eu sempre prezei. Essa atitude, essa garra, lutar por todos os pontos, me entregar mesmo de coração.
É uma coisa que me espelho muito no meu tio. Ser reconhecida por isso é muito gratificante para mim, uma coisa que valorizei demais. Eu sempre falo que não só uma pessoa super talentosa, mas o que pode fazer com que eu seja uma pessoa diferenciada é isso, do trabalho, da entrega, do coração. Isso para mim, é o que muda demais no meu jogo.
E com certeza em uma competição assim, jogando por equipes e representando o Brasil e não só por você é algo que pode fazer muita diferença. Sempre me falaram que eu me destaco e consigo crescer em competições assim, então é uma coisa que botei na cabeça, vou ter em mente e tentar competir da melhor forma possível. Sei que não é só por mim, é por uma causa maior, pelo Brasil, pelo quadro de medalhas, pelas Olimpíadas. [A entrega em quadra] é uma coisa que pode jogar ao meu favor e ser o meu diferencial.