Caminho do sucesso

Fã de Guga, Bia Maia fez campanha memorável em Roland Garros e se tornou primeira juvenil brasileira chegar uma decisão de Grand Slam. A jovem promessa do tênis nacional revela, no entanto, que aspira muito mais, até mesmo à glória na chave profissiona...

Matheus Martins Fontes em 22 de Junho de 2012 às 07:49

FOI NAS QUADRAS PARISIENSES que o sonho começou. Primeiro, ao acompanhar pela televisão o maior ídolo se sagrar campeão por três vezes e receber o status de "Rei do Saibro". Depois, juntar-se a milhões de testemunhas acompanhando o surgimento de um monstro chamado Rafael Nadal que, ano após ano, mostrou quem manda na terra batida. Com tanta inspiração, ela nunca escondeu: "Meu sonho é vencer Roland Garros". Em 2012, a jovem Beatriz Haddad Maia ficou a um triunfo de concretizar seu objetivo justamente no torneio onde debutou em Grand Slams na carreira como juvenil, no ano passado.

A paulistana, considerada por muitos a maior promessa do tênis feminino nacional, se tornou, dessa forma, a primeira juvenil do País a alcançar a decisão de um torneio Grand Slam. Antes, só a grande Maria Esther Bueno, que abocanhou incríveis 19 títulos desse porte, e Cláudia Monteiro (na final de mistas ao lado de Cássio Motta em Paris) repetiram a dose no profissional.

Em Roland Garros, os meninos marcaram presença na última fase em seis ocasiões - em 1994, Gustavo Kuerten, junto com o equatoriano Nicolas Lapentti, levou o único caneco para o Brasil; Edison Mandarino (1959), Thomaz Koch (1962 e 1963), Luis Felipe Tavares (1967) e Guilherme Clezar (2009) acabaram com o vice-campeonato.

Nesta edição, fomos representados por quatro jogadores - além de Bia, Laura Pigossi, Thiago Monteiro e Gabriel Friedrich disputaram as chaves de simples e duplas. Eliminada na terceira rodada do individual, Bia - acompanhada de perto pelo treinador Larri Passos - focou todas as suas atenções junto com a paraguaia Montserrat Gonzalez, parceira de vários torneios no circuito.

No caminho, as duas amigas bateram favoritas (derrubaram a dupla cabeça um na semifinal) e chegaram com sobra para a decisão. Na partida final, Bia e "Mon" (como é chamada pela brasileira) disputaram um jogo equilibrado do início ao fim contra as russas Daria Gavrilova e Irina Khromacheva. E, mesmo com o revés, a canhota mostrou uma atitude parecida com a da russa Maria Sharapova, hoje a número um do ranking: está muito longe de se dar por satisfeita.

A Revista TÊNIS bateu um papo com a menina - já com cara de mulher (no alto dos seus 1,84m) -, toda sorridente e descontraída, mas que almeja muito mais para seus próximos anos no esporte.

Quando começou a jogar tênis? Foi por incentivo de alguém da família?
A família da minha mãe, ela e minhas duas tias, jogavam tênis. Meu pai jogava basquete e meu avô ainda joga. Então, minha família sempre teve esportistas. Eu, desde pequena, sempre gostei de fazer esportes. Da escola a gente ia para o clube ficar a tarde inteira fazendo esportes. Era natação, judô, mas, a partir dos 10 anos, fiquei no futebol e tênis. Aos 11, escolhi o tênis, que eu amava jogar. Acompanhava a minha mãe, que ia dar aula no clube, jogava sets com meus primos, ficava no clube. Comecei a treinar no Pinheiros, em São Paulo. E, hoje, estou treinando com o Larri em Balneário Camboriú.

Você lida bem com sua família acompanhando seus jogos ou de certa forma acaba se sentindo pressionada?
Sempre adoro quando meus pais, minha irmã, minha família estão assistindo, porque sei que é mais uma energia positiva, estão sempre do meu lado. Meu pai é muito nervoso. Acho que olhei para ele uma vez hoje [durante a final] e o vi fazendo o sinal da cruz (risos)... Nem olho muito, procuro olhar mais para o Larri, para os técnicos, que ficam sempre em outro lugar. Mas gosto muito de estar junto com a família, dentro ou fora da quadra, porque eles podem me ajudar muito.

O que mudou na sua rotina a partir do momento que começou a treinar com o Larri? Qual a importância dele para a evolução do seu jogo?
Poucos conhecem o Larri. Muitas pessoas acham que ele é chato, implicante, que xinga. Ele é uma pessoa muito boa, deseja o bem para todos. Pô, ele venceu três vezes aqui, poderia estar em casa agora, com as duas filhas e a família, mas você vê que ele tem amor pelo que faz, que ele está feliz trabalhando e se dedica 100%. Para ele, não é fácil voltar a viajar, tantos anos de tênis que ele já tem, o cansaço acumulado. E olhando para esse cara, por toda a experiência, a energia positiva que ele passa, você acaba pensando: "Pô, ele fez o Guga!" Tudo isso lhe deixa mais para cima.

" Meu maior ídolo foi sempre o Guga, por isso sempre sonhei em ser campeã de Roland Garros e quero ser a melhor do mundo, não apenas no juvenil "

O Larri nos disse que sempre tenta lhe passar a alegria para jogar. Como você avalia seu comportamento depois do trabalho com ele?
Fora da quadra sou muito calma. Na quadra, era muito acelerada, ficava muito nervosa. Hoje, estou tentando ficar mais tranquila, conseguindo me levantar durante o jogo. Antigamente, quando estava perdendo, baixava a cabeça muito fácil. O Larri me fala: 'Tem que rir, tem que se cobrar. Me dá um sorriso. Você lembra que fez essa bola, você sabe fazer'. Assim como ele diz, 'o jogo é sobremesa'. Você tem que aproveitar das coisas que acaba treinando. Às vezes, acaba escapando uma palavra feia, mas o caminho é sempre evoluir para uma postura bonita dentro da quadra. Então, acho que tem que fazer com alegria. Perdeu, tem o próximo ponto, outro game, outro set. Sempre procurar manter a energia para cima. Não vale a pena você ficar se xingando, se cobrando. Logicamente que quando você faz uma "cagada", dá vontade de quebrar a raquete, xingar até o último passarinho... Mas é uma questão de ficar tranquila, ser descontraída. Se toda hora ficar me xingando, me cobrando, é muito difícil eu jogar bem. É olhar para ele, ficar na sintonia, pegar a energia dele e vice-versa, acho importante ser positiva e jogar feliz.

Você está mesclando torneios juvenis com profissionais. Quais são as principais dificuldades na fase de transição do jovem atleta para o adulto? E qual a importância de já encarar jogadoras mais experientes?
Os torneios profissionais que joguei até aqui foram no Brasil e na América do Sul, então estou começando a entrar nesse meio. Lá, a gente tem uma base diferente. Aqui na Europa tem 20 torneios em cada esquina, iguais ou melhores. No juvenil, já consegui vir para cá e jogar com as melhores. Na minha opinião, aprendo muito mais e melhoro meu nível com os torneios juvenis na Europa. A maioria das meninas daqui jogaria tranquilamente um Future no Brasil. Não estou desmerecendo, mas quero vir para a Europa, ganhar torneios aqui. Mas é ir mesclando alguns Futures com Challengers, que vou jogar no final do ano. Volto para a Europa, posso ir para a Ásia, para qualquer lugar do mundo sempre tentando melhorar, e os resultados acabam vindo com o treinamento.

Você se espelhou em algum ídolo? Quem atualmente você admira no circuito?
Desde pequena, sempre via o Guga, mas não acompanhava muito o circuito. Agora que comecei a viajar mais, gosto muito da Petra Kvitova, que ganhou Wimbledon no ano passado. Acho que tenho que me espelhar muito nela, porque ela é canhota, grande, tem um porte mais largo, usa muito bem o saque, que é algo que preciso sempre buscar. Gosto também é claro, do Federer, não tem como não gostar (risos)... Do Nadal, do Djokovic. Mas meu maior ídolo foi sempre o Guga, por isso sempre sonhei em ser campeã de Roland Garros e quero ser a melhor do mundo, não apenas no juvenil, mas no profissional.

PERFIL

Nome: Beatriz Haddad Maia
Data de nascimento: 30/05/1996
Natural: São Paulo/SP
Residência atual: Balneário Camboriú/SC
Canhota
Atual ranking juvenil: 20º
Melhor ranking juvenil: 15º (23/04/2012)
Atual ranking profissional: 596º
Melhor ranking profi ssional: 596º (junho/2012)*

MELHORES RESULTADOS EM 2012

Profissional: Título ITF Ribeirão Preto (SP) - US$10.000
Juvenil: Vice-campeã de duplas em Roland Garros/2012 (ao lado de Montserrat Gonzalez); campeã do Assunción Bowl (c/ Montserrat Gonzalez); semifinal Copa Gerdau e Banana Bowl em duplas (c/ Montserrat Gonzalez); finalista na Copa Gerdau, no Assunción Bowl e Uruguay Bowl em simples.

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