Como Thomaz Bellucci voltou a apresentar o nível de tênis que dele se espera?
Por Arnaldo Grizzo em 24 de Junho de 2015 às 00:00
O avanço foi grande. De 2008, então com apenas 21 anos, até 2010, Thomaz Bellucci deixou de ser um tenista que brigava para entrar no top 100 e se tornou o segundo brasileiro melhor colocado na história do ranking ATP, atingindo o 21° lugar no começo do segundo semestre daquele ano. Foi quando o tenista anunciou que estava terminando a parceria com João Zwetsch, o técnico que o acompanhou no período, levando-o à conquista de seus dois primeiros títulos ATP na carreira, em Gstaad (2009) e Santiago (2010).
Durante 2011, Bellucci foi acompanhado por Larri Passos, continuou alternando grandes campanhas com derrotas inesperadas, mas manteve-se perto do top 30. No ano seguinte, esteve ao lado de Daniel Orsanic, que o conduziu ao terceiro título (novamente em Gstaad), mantendo-se perto do top 30 no fim da temporada. Novamente, trocou de técnico no começo do ano seguinte, passando a trabalhar com Francisco Clavet. Foram duas temporadas de muitas oscilações e resultados muito abaixo das expectativas (tanto que chegou a sair do top 100).
No começo deste ano, Bellucci resolveu então retomar a parceria com Zwetsch. O início não foi muito promissor. Um misto de falta de confiança e azar no sorteio das chaves atrapalhou. O único lampejo de um bom momento foi quando o brasileiro alcançou a semifinal no ATP de Quito. Mas o “fundo do poço” veio logo em março, quando perdeu seus dois jogos no duelo contra a Argentina pela Copa Davis e viu a torcida brasileira, que já não é muito paciente com ele, novamente acusá-lo de não ter capacidade mental para encarar grandes desafios.
O calvário continuou nos torneios seguintes com derrotas na estreia, mas as primeiras vitórias (sofridas) começaram a mudar o panorama. No ATP de Istambul, Bellucci dava claros sinais de que já não era o mesmo jogador do começo do ano, apesar de ainda alternar bons e maus momentos em quadra. Seu volume de jogo havia aumentado muito, com muita intensidade e ótima movimentação (que nunca foi o seu ponto forte). O trabalho com o preparador físico André Cunha parecia estar dando resultado. Faltava transformar o domínio nas trocas de bola em vitórias.
Nos Masters 1000 de Madrid e Roma, o brasileiro passou o qualifying. Na capital italiana, foi um dos que mais deu trabalho para Novak Djokovic, que se sagraria campeão. Com a confiança de volta e o jogo aprumado, foi para o ATP de Genebra, onde levantou seu quarto troféu de ATP na carreira. Com isso, ele passou a ser o terceiro brasileiro com mais títulos de ATP em simples na história, somente atrás de Guga (com 20) e Luiz Mattar (com sete).
“Em Miami, já tinha jogado melhor e, ao longo dessas semanas, fui melhorando, pegando confiança e vencendo bons jogos, até chegar ao título de Genebra. Foram seis semanas muito produtivas que me colocaram de volta entre os 40 melhores do mundo e me deram a confiança que estou no caminho certo. Não quero parar por aqui. Tenho outros objetivos a cumprir nessa temporada e vou seguir trabalhando duro para cumprir cada um deles. Para mim, o ano está só começando”, avaliou o tenista.
Segundo João Zwetsch, o backhand mais agressivo e uma maior porcentagem de primeiro saque ajudaram Bellucci a voltar ao seu melhor momento
Desde que retomou a parceria com Zwetsch, a evolução de Bellucci foi bastante acentuada. Mas o treinador e capitão do Brasil na Copa Davis, sempre discreto, diz que isso não se deve somente ao seu trabalho, mas à nova fase do pupilo. “O Thomaz de hoje tem uma condição muito mais clara, um autoconhecimento um pouco melhor quanto jogador, mais maturidade, experiência. Cinco anos de circuito é muito tempo, são muitos jogos. Isso abrevia muitas coisas. Não se começou nada do zero”, admite Zwetsch.
O técnico afirma que foram feitos alguns ajustes, mas a compreensão rápida do atleta, a assimilação do que está sendo passado é que leva a uma evolução muito mais dinâmica e aos bons resultados que logo apareceram. Mas quais seriam esses ajustes?
Zwetsch aponta que a ideia foi voltar a estabelecer um padrão de jogo mais agressivo, porém, ao mesmo tempo, consistente. Assim, um dos pontos trabalhados foi o backhand. “Ele estava buscando muito mais controlar a bola no revés e, por isso, estava sendo muito atacado nos jogos. Aí, ficava uma boa parte do jogo muito mais defensivo do que deveria. Agora, ele mudou um pouco a maneira de bater e o backhand voltou a ficar agressivo”, revela.
Outro ponto que está sendo trabalhado é o primeiro saque. “Acho que a consistência do primeiro serviço é algo importante. Ele tem um segundo serviço muito bom, mas o primeiro saque ainda é, para o meu gosto, inconsistente. Ele deveria ter uma porcentagem de primeiro saque acima de 60%, 65% mais vezes. Isso vai fazer uma diferença muito grande”, acredita Zwetsch.
Mas, além da agressividade, a consistência é uma meta. “É fundamental deixar viva essa agressividade, essa condição de domínio do jogo, mas com consistência. Aí entra a importância do padrão de jogo constante e consistente independentemente de quem for o adversário. Assim, é preciso saber de antemão, na maioria do tempo, onde jogar, o que fazer com a bola. E, junto a isso, obviamente, dar um espaço para surpreender. Mas, antes, é preciso montar um padrão”, revela o treinador.
Diante disso, o que se observa claramente nas últimas partidas de Bellucci foi um aumento de intensidade, de volume de jogo. “A consequência mais visível é justamente esse volume. O jogador agressivo não é necessariamente aquele que bate mais forte na bola, é aquele que, dentro do jogo, as bolas que não são necessariamente de definição, também são agressivas. E isso é onde se reflete melhor o jogo do Thomaz, quando ele consegue estabelecer uma série de bolas em sequência sem necessariamente dar uma arriscadíssima. Essa série agressiva tem a intenção de controlar o jogo”, admite Zwetsch.
“O tênis do Thomaz é o que ele está começando a jogar de novo neste momento. O lugar dele é aí, top 40 no mínimo, mas com condição real de dar um passo ainda maior”, afirma o treinador, que completa: “O que sempre faltou na carreira dele foi consistência, foi permanecer nessa condição durante um tempo maior. Isso é o que buscamos agora. Caminhando passo a passo solidamente”.
Exatamente por Bellucci ter tido diversas quedas de rendimento sempre nos segundos semestres das temporadas, João Zwetsch revela estar trabalhando para reverter isso: “Esse é o ponto principal do nosso trabalho. Essa questão da constância passa muito pela parte mental. Esse detalhe pontual do segundo semestre tem muito a ver com a temporada estar focada nas quadras rápidas. Mas acho que o Thomaz tem todas as condições para aprimorar o jogo dele nessas quadras, o que é importante para se manter num nível alto e de forma mais consistente. Aos poucos, vamos trabalhar em cima disso para deixar ele cada vez mais competitivo e em condições de expressar uma qualidade alta de tênis também em quadras duras”.