O que de melhor aconteceu na Bahia
José Eduardo Aguiar em 25 de Fevereiro de 2011 às 06:27
SUPREMACIA ESPANHOLA
Campeão em 2009, Nicolas Almagro chegou como a principal atração do Brasil Open. Então 13o da ATP, o cabeça-de-chave número um já demonstrava tranquilidade e até familiaridade durante os treinos, desperdiçando parte considerável de seu tempo para se divertir jogando "fute-tênis" nas quadras de fundo do complexo. Além disso, o antes "desafeto" da torcida esbanjou uma simpatia fora do comum na edição de 2011, mostrando-se solicito a fotos, autógrafos e ainda brincando bastante durante eventos promocionais e entrevistas coletivas.
E a versão "light" do polêmico Almagro fez estrago durante o torneio. Nos dois primeiros jogos, vitórias extremamente tranquilas sobre o brasileiro João "Feijão" Souza e o português Rui Machado. Na semifinal, um "apagão" no primeiro set contra Juan Ignácio Chela colocou em dúvida sua passagem à decisão, mas o top 15 se recuperou e mandou o argentino de volta para casa um dia mais cedo. Com status de favorito absoluto em todos os outros jogos até então, o espanhol viu o clima de equilíbrio antecipar a final, com todos esperando jogo duro e possivelmente longo contra o também embalado e muito promissor Alexandr Dolgopolov. Mas, como o próprio ranking ainda diz, pesou a experiência do agora simpáti co e renovado Almagro, de 25 anos, que se igualou a Gustavo Kuerten como os únicos bicampeões do Brasil Open.
APÓS TRÊS ANOS, TÍTULO PARA O BRASIL!
Se na chave de simples a final sem brasileiros "decepcionou" o público, os mineiros Marcelo Melo e Bruno Soares fizeram a alegria da torcida e conquistaram o título nas duplas. Campeões em Santiago na semana anterior, Melo e Soares confirmaram o bom momento e fecharam mais uma semana perfeita, batendo os espanhóis Pablo Andujar e Daniel Gimeno-Traver na decisão. No caminho rumo ao título, duelos duríssimos contra fortes parcerias, como nos confrontos contra os tchecos Frantisek Cermak e Leos Friedl - especialistas em duplas - e contra o russo Igor Andreev e Alexandr Dolgopolov, que costumam jogar apenas simples, mas possuem talento raro e muita potência em todos os golpes. Visivelmente emocionado, Soares comemorou seu primeiro título jogando em casa, enquanto Melo, campeão com André Sá em 2008, sagrou-se bicampeão do torneio. O ano começa com tudo para os brasileiros e mais uma vez a esperança de que eles joguem pela primeira vez a Masters Cup é grande.
QUINTAL DE CASA
"Especial". É assim que Ricardo Mello costuma definir o Brasil Open. Jogando em casa, mais uma vez o campineiro mostrou que sabe atuar junto à sua torcida e fez grande campanha na edição deste ano. Para defender os pontos da semifinal alcançada em 2010, o canhoto mandou para casa três adversários melhor ranqueados do que ele, como o colombiano Santiago Giraldo e os espanhóis Albert Montañes e Pablo Andujar. Porém, o sonho de fazer a sua primeira final de ATP em solo brasileiro foi mais uma vez adiada, já que o brasileiro não conseguiu segurar o forte ritmo imposto por Dolgopolov.
O HETERODOXO
A campanha surpreendente no Aberto da Austrália, com direito a vitórias contra o francês Jo-Wilfried Tsonga e o sueco Robin Soderling, fez deste tímido ucraniano de 22 anos um rosto conhecido pelos amantes de tênis, o que ficou ainda mais claro na Bahia. Era notável tanto nas conversas entre técnicos, jornalistas e especialistas, quanto em rodas de torcedores, a grande expectati va em conhecer de perto o diferente jogo de Alexandr Dolgopolov. E o talentoso europeu não decepcionou. Chegou à decisão sem perder sets, incluindo uma vitória arrasadora na semifinal sobre Ricardo Mello, último brasileiro vivo na chave. Apesar de ser a aposta de muitos para a decisão, não resistiu ao jogo mais regular de Almagro, que ratificou a supremacia da esquadra espanhola em terras baianas.
SONHO ADIADO
Sorridente, atencioso, simpático e até de certa forma carismático. Esta era a nova versão de Thomaz Bellucci este ano na Bahia, que começou com batucadas ao lado do Olodum e muita procura dos fãs por todos os lugares em que passava. A parceria recém formada com Larri Passos era mais um motivo para encher de esperanças a torcida local em ver o título voltar às mãos de um tenista da casa após sete anos. Porém, assim como no ano passado, o sonho parou nas quartas-de-final, com o paulista perdendo de forma surpreendentemente fácil para Chela, que dominou o jogo em todos os momentos. Após a partida, Bellucci reconheceu que estava bastante decepcionado e pediu desculpas aos torcedores por "não ter jogado nada".
#Q#Rogério Silva |
TEVE MAIS BRASIL
Além de Mello, Bellucci e da dupla mineira, outros brasileiros estiveram presentes na edição de 2011 do Brasil Open. João Souza, o Feijão, bateu o jovem compatriota Guilherme Clezar - convidado da organização - na primeira rodada, mas não foi páreo ao favorito Almagro no duelo seguinte e foi eliminado. Outro convidado, o carioca Fernando Romboli não resistiu à experiência do espanhol Ruben Ramirez Hidalgo. Já Andre Ghem e Rogério Dutra da Silva, que furaram o quali, também não tiveram sorte e perderam, respectivamente, para os argentinos Carlos Berlocq e Juan Ignácio Chela, ainda na primeira rodada. Outros nomes como Ricardo Hocevar, Júlio Silva, Caio Zampieri e uma série de garotos da nova geração tentaram a sorte no torneio qualificatório, mas pararam no meio do caminho.
Fernando Romboli | André Ghem |
JOGANDO DIANTE DA TORCIDA... ARGENTINA!
Após sair do top 200 em 2009, o experiente Juan Ignácio Chela dava sinais de que o fim da carreira poderia estar próximo. No ano seguinte, alguns bons resultados, principalmente no saibro - com títulos em Bucareste e Houston -, fizeram o argentino ressurgir entre os 100 melhores do mundo. No Brasil Open 2011, já aos 31 anos, Chela mostrou que jamais se pode subesti mar um tenista que já esteve entre os 15 melhores do planeta. Pouco apontado entre os favoritos, tirou de cena o vice-campeão do ano passado, o polonês Lukasz Kubot, e o brasileiro Thomaz Bellucci. Se bem que, dado o surpreende número de argentinos presentes este ano em Sauípe, Chela praticamente viu sua torcida dividir as arquibancadas da quadra central com os brasileiros.
AXÉ E PAZ PARA ROBREDO E FOGNINI
Tommy Robredo e Fabio Fognini eram certamente dois dos principais nomes do Brasil Open 2011. O experiente espanhol de 28 anos, chegava embalado pelo título em Santiago. Já o italiano, ainda com 23 anos, é conhecido como um dos mais talentosos nomes da nova geração. Dados já suficientes para tornar o confronto entre os dois como o mais aguardado da primeira rodada na Bahia. Porém, o que a maioria queria ver mesmo era como seria o reencontro entre Robredo e Fognini três dias após os dois protagonizarem uma polêmica semifinal no Chile, com o espanhol se negando a cumprimentar o italiano ao final da partida, em cena que repercutiu em todo o mundo. Com o clima pesado, mas sem confusão, Robredo venceu novamente e, desta vez, deu a mão ao rival depois do jogo. O axé baiano trouxe a paz.
SURPRESA
Aos 25 anos, Andujar já foi considerado uma das maiores esperanças do tênis espanhol, mas ainda não conseguiu mostrar uma consistência de resultados que pudesse colocá-lo entre os melhores mundo. Na Bahia, uma vitória sobre o favorito Tommy Robredo chamou novamente a atenção dos especialistas para seu tênis, mas o europeu não aguentou o forte ritmo imposto por Mello nas quartas. Nas duplas, jogando ao lado do compatriota Daniel Gimeno-Traver, Andujar sagrou-se vice-campeão e aproveitou para elogiar o torneio e a torcida brasileira. Certamente é um nome a ser olhado e que pode dar ainda mais trabalho nas próximas edições.