Backhand de 2 mãos para 1 ou de 1 mão para 2

É possível mudar o revés de duas mãos para uma e vice versa?

Por Carlos Omaki em 27 de Abril de 2015 às 00:00


Até os 11 anos, Stan Wawrinka batia suas esquerdas com duas mãos

Em 1985, aos 14 anos e ainda longe de se tornar o jogador que dominaria o tênis nos anos 1990, Pete Sampras já era, porém, um dos melhores juvenis norte-americanos. Para quem o viu jogando no auge, com saque potente, direita fulminante e esquerda clássica de uma mão, provavelmente não reconheceria o garoto caso visse um taipe seu jogando naquela época. Serviço e forehand já estavam lá, mas o backhand era executado com duas mãos.

Na época, o treinador Peter Fischer sugeriu que Sampras mudasse sua técnica para uma mão. Segundo ele, somente assim o garoto seria capaz de vencer Wimbledon. O jovem acatou a recomendação e tornou-se o campeão que todos esperavam. Contudo, a mudança não foi fácil. Ele passou a perder seguidamente para adversários que antes vencia facilmente e demorou três anos até que se sentisse realmente confortável com a mudança.


Na história, poucos tenistas profissionais mudaram a técnica de backhand de uma para duas mãos

Quem também foi convencido a mudar sua técnica de backhand quando criança foi Stan Wawrinka. Até os 11 anos, o suíço batia suas esquerdas com duas mãos. “Meu golpe não era muito bom”, admite, portanto, para ele, a mudança acabou sendo muito natural. Outra que arriscou ao mudar sua técnica foi Roberta Vinci. A italiana passou a usar uma mão só no backhand aos 18 anos, quando já estava no circuito profissional. Apesar de ela ser número 1 de duplas e ter sido número 11 em simples, admite que, se fosse hoje, não teria tomado a mesma decisão. “Jogar com uma mão é muito difícil”, diz.

Outro exemplo de troca bem sucedida de duas para uma mão durante a carreira profissional ocorreu com Fernando Meligeni. Até 1996, Fino, que havia vencido o Banana Bowl  como juvenil e já tinha ingressado entre os 100 primeiros do mundo na ATP, decidiu optar por uma única mão no backhand, alcançando seus melhores resultados depois disso.

No entanto, apesar de mais raro, o caminho inverso também já foi feito algumas vezes por tenistas profissionais. O caso mais emblemático é de Paul McNamee. Em 1979, o australiano, então com 25 anos, decidiu “ir para o tudo ou nada” e mudar sua técnica de esquerda para duas mãos. “Eu já estava entre os 100 do mundo, mas achava que poderia ser melhor advogado do que aquilo. Então coloquei tudo em jogo”, brincou. Com a mudança, venceu dois torneios e fez mais cinco finais em simples, alcançando o top 25. Contudo, sua projeção foi ainda maior nas duplas, com 24 títulos (muitos ao lado de Peter McNamara, com quem formou uma das melhores parcerias de todos os tempos) e o número 1 do mundo.


Aprendizado precoce pode levar ao uso do backhand com duas mãos

Aprendizado

Antes de falarmos sobre as mudanças propriamente ditas, teríamos de abrir uma vez mais a discussão sobre qual a razão para essas mudanças. Qual das duas esquerdas é melhor, com uma ou duas mãos?

Preferências a parte, os números, de winners, erros não forçados e a eficiência em diversas situações, como as devoluções de saque, as bolas altas e swing volleys, apontam uma grande vantagem para o backhand de duas mãos – que vence principalmente nos quesitos ligados à força e à potência.

Por outro lado, índices apontam uma vantagem muito grande na variação de bolas como slices, curtas, lobes defensivos, voleios e smash de backhand dos jogadores que batem seus backhands com apenas uma mão – sem contar o surpreendente número de tenistas que chegaram ao posto de número 1 do mundo em meio à esmagadora superioridade numérica de adeptos das duas mãos.

Baseados nessa comparação, a escolha acaba ficando mais para a preferência dos professores ou a precocidade no aprendizado. Sabemos que cada vez mais as crianças iniciam cedo no tênis e, consequentemente, não possuem força muscular localizada na parte posterior do braço suficiente para bater com apenas uma das mãos no backhand e, por isso, acabam sendo iniciadas com as duas mãos.

Professores mais conservadores ainda preferem experimentar primeiro a esquerda com uma mão e, ao sentir alguma dificuldade dos alunos, seguem os ensinamentos com as duas mãos. Mas, nos últimos 30 anos, os adeptos de iniciar o ensino com as duas mãos e apenas mudar para uma quando os alunos já possuem mais força muscular (ou nos casos que apresentem uma dificuldade maior, principalmente na coordenação do movimento com as duas mãos) crescem quase como unanimidade.

Estima-se que os professores que ensinam a esquerda com as duas mãos estão na proporção de 30 para 1, em relação aos que ensinam com uma mão. Isso se deve primeiro graças à iniciação de crianças cada vez mais jovens (como já comentado) e à especialização de professores, que preferem tornar o tênis um esporte menos unilateral e ainda mais saudável à formação física de seus alunos. Então, para os alunos, a proporção do uso de backhand de duas mãos é maior ainda, com cerca de 100 para 1, atualmente.

Como mudar

Deixando de lado números e estatísticas, a prática demonstra que é sim possível mudar a forma inicial de bater o backhand de alunos e atletas, tanto de uma para duas, como o contrário. Percebe-se que a mudança de uma mão para duas ocorre muito mais nos estágios intermediário e básico ou ainda na iniciação e, de duas para uma, muito mais no avançado. E elas são principalmente motivadas por problemas físicos, como tendinites no braço e, mais especificamente, no punho esquerdo (dos destros), e nem tanto por razões técnicas.

Então, seja qual for a razão, vamos procurar auxiliá-lo na possível, porém trabalhosa, tarefa de mudar o seu backhand. Confira as dicas a seguir.

Mudança de uma para duas mãos

Tecnicamente, esta mudança é mais fácil, porém é a que leva mais tempo para se tornar natural. Principalmente porque dependerá de um ajuste de coordenação motora em que a mão esquerda (não dominante no caso dos destros) terá que assumir o comando do golpe ou se tornar, para esse golpe específico, dominante.

Embora já tenhamos visto que é a mudança menos frequente, ela tenderá a aparecer logo nas primeiras aulas, provavelmente porque a dificuldade ou carência de força induzem à opção de um backhand de duas mãos.

Ela é mais fácil primeiro porque a mão direita (ou dominante) continuará no cabo da raquete, proporcionando um maior conforto – ao menos emocional. E, depois, porque consiste em ensinar um forehand com o braço não dominante (esquerdo dos destros).

Dessa forma, inicie o treinamento com um forehand de canhoto (para os destros), segurando a raquete no meio do cabo. Deixe o espaço da mão esquerda (como mostra a figura ao lado), principalmente para ajustar o novo ponto de contato. A empunhadura da mão esquerda é a que “controlará” o golpe, devendo ser entre uma semi-Western e uma Eastern de forehand.

O próximo passo será colocar a mão direita novamente no final do cabo, agora com uma empunhadura que se ajuste e não fique desconfortável em todo o swing (movimento do golpe). Ajuste a nova distância do golpe que, neste caso, deverá ser menor do que a executada anteriormente com apenas uma mão.

Pratique o movimento até mesmo sem bola para que comece a fluir e golpear a bola com uma aceleração satisfatória. Não se esqueça de alongar bem a terminação do golpe.

Embora uma das vantagens dessa opção seja a versatilidade no apoio de pernas, iniciar com um apoio neutro, facilitará encontrar a distância e o ponto de contato ideal.

Técnica do Backhand de duas mãos

 
Tecnicamente, a mudança de uma para duas mãos é mais fácil, porém é a que leva mais tempo para se tornar natural

Treino Forehand de Canhoto

 
Inicie o treinamento com um forehand de canhoto (para os destros), segurando a raquete no meio do cabo

Ajustes para a empunhaduras

 

A empunhadura do backhand com duas mãos está baseada no controle da batida com a mão esquerda e, consequentemente, a mão direita está posicionada apenas para dar suporte ao golpe

 

 

 

A empunhadura da mão esquerda é a que “controlará” o golpe, devendo ser entre uma semi-Western e uma Eastern de forehand

 

 

 

O próximo passo será colocar a mão direita novamente no final do cabo, agora com uma empunhadura que se ajuste e não fique desconfortável em todo o swing (movimento do golpe)

 

 

Mudança de duas para uma mão

Uma das razões para se trabalhar na mudança de uma esquerda de duas mãos para uma é devido a problemas físicos. Porém, o caso mais necessário é quando se percebe que o aluno não assumiu o comando do golpe com o braço esquerdo – que é o mais comum de acontecer –, através de um processo automático de coordenação ou segue com problemas de mobilidade de pernas ou quadril.

Se o aluno aprendeu corretamente, a empunhadura do seu backhand está baseada no controle da batida com a mão esquerda e, consequentemente, a mão direita está posicionada apenas para dar suporte ao golpe. Ou seja, algo como a mão esquerda em uma empunhadura Eastern ou semi-Western, e a mão direita colocada em Continental (pegada do martelo).

O primeiro passo será, sem dúvida, o mais difícil da adaptação, porém o mais importante: adaptar o aluno à nova e correta empunhadura com a mão direita. A mais recomendada seria uma empunhadura Eastern de esquerda.

Muitos golpes devem ser praticados para mudar o ponto de contato do golpe, que será, a partir de agora, mais à frente do corpo. Deve-se explicar e trabalhar para que o aluno reduza drasticamente o giro (movimento do quadril) no momento da batida. E, finalmente, implantar a terminação do golpe, que será bem mais longa, agora para o braço direito.

Uma boa prática para essa mudança seria exercitar bastante o voleio de backhand, com uma mão, realizando um fortalecimento localizado em uma das batidas em que o comando seja com uma mão, devolvendo ao braço dominante o comando cerebral automático.

Praticar o slice de backhand, com uma mão, será outro bom treino. Primeiro, pelos motivos vistos anteriormente e, depois, porque essa prática pode se tornar menos desconfortável e frustrante para o aluno, que pode voltar a jogar tendo uma opção a mais antes de adquirir total confiança no novo golpe com uma mão.

A partir de agora, os apoios serão quase sempre neutros, ou com a perna trocada (direita na frente para os destros, em diagonal), ou fechados.

Técnica do Backhand de uma mão

 
Muitos golpes devem ser praticados para mudar o ponto de contato do golpe, que será, a partir de agora, mais à frente do corpo

Treino Slice

 
Treinar o slice com uma mão ajuda na adaptação para a mudança de duas para uma mão no backhand

Treino voleio de backhand

 
É interessante exercitar bastante o voleio de backhand, com uma mão, realizando um fortalecimento localizado

 

Empunhaduras

 

 

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