As várias faces de Djokovic

Jovem sérvio é a maior atração do tênis atualmente, seja dentro das quadras, com atuações impressionantes, seja fora, pelo mesmo motivo...

Gustavo Pereira em 12 de Novembro de 2007 às 10:25

DURANTE O US OPEN, OS jogadores se revezam entre academia de ginástica, quadras, refeitório, lounge etc. Na sala de estar havia mesas de pebolim e videogames para entreter os atletas. Um dos tenistas mais assíduos do totó era o sérvio Novak Djokovic. Sempre de bom humor, desafiava quem estivesse por perto. Ao mesmo tempo em que jogava, ria e conversava com conhecidos que passavam ao redor. Um deles era André Sá. Para o mineiro, logo soltou a pergunta brincalhona: "Where is Girafa? (Onde está o Girafa?)", referindo-se ao companheiro de Sá nas duplas, Marcelo Melo.

Um dia, o sérvio treinava sossegadamente no Louis Armstrong quando, de repente, uma bola pegou no aro de sua raquete e subiu muito, saindo da quadra. Um dos garotos que estava ao redor, desesperado por um autógrafo, gritou enquanto corria atrás do precioso objeto: "I got it! (Peguei!). Djokovic não teve dúvidas. Largou a raquete no chão e deu a volta na quadra comemorando seu "home run" - jogada do beisebol em que o rebatedor manda a bola para fora do estádio e corre pelas bases marcando o ponto. O púbico, o staff e o sparring riram e aplaudiram.

Espirituoso, irreverente, zombeteiro, os norte-americanos encontraram uma boa definição para o rapaz: Entertainer, ou seja, aquele que entretém, diverte. Por seu estilo e por suas famosas imitações dos colegas, o garoto de 20 anos conquistou o público. Os vídeos em que imita os trejeitos de Rafael Nadal, Maria Sharapova, Andy Roddick e outros tantos jogadores, inclusive Roger Federer, correm soltos pela internet.

Sua performance, imitando Nadal e Sharapova, foi televisionada mundialmente após a vitória contra o espanhol Carlos Moyá no US Open. "Estou preocupado. As pessoas estão me cumprimentando mais pelas imitações do que pelo meu jogo", riu Djokovic, que raramente consegue se manter sério durante as coletivas. Porém, se suas imitações divertem seus colegas, seu hábito de quicar a bola dezenas de vezes antes de sacar, os irrita. "É uma das maneiras que tenho de me concentrar. Sei que é irritante para o adversário, mas não faço de propósito", garante o sérvio.

Número um
Mas Nole, como é conhecido, sabe ser sério, especialmente porque tem o objetivo claro de ser número um do mundo. Há um ano, Federer aplicou uma surra de 6/3, 6/2 e 6/3 sobre o sérvio na repescagem do Grupo Mundial da Copa Davis. Perguntado sobre o potencial do jovem, o suíço disse que ele ainda estava um nível abaixo de Richard Gasquet e Andy Murray. O tempo passou e estes dois continuam lutando para se fixar no top 10, enquanto Djokovic comemora a temporada excepcional e o posto de terceiro melhor do mundo.

Nole é o filho mais velho de Srdjan e Dijana, donos de uma pizzaria e de um restaurante nas montanhas da Sérvia. Esquiador profissional, o pai queria que ele fosse uma estrela do futebol ou do esqui. Porém, optou pelo tênis, assim como seus irmãos, Marko e Djordje, que ainda estão na escola.

O garoto, que tentou suas primeiras raquetedas aos quatro anos, jogava em qualquer canto da casa e passou bom tempo treinando dentro de uma piscina vazia, pois havia poucas quadras em Belgrado. Na época, sua companheira era a bela Ana Ivanovic. Entre 1991 e 1999, quando ainda precisava dividir espaço dentro da piscina, os tanques do ditador Slobodan Milosevic atacaram a capital e as bombas da OTAN começaram a cair. A sorte de Djokovic foi conhecer o ex-profissional Nikola Pilic, que resolveu convidá-lo para treinar em Munique, Alemanha, longe da guerra e com infra-estrutura para ser um campeão.

"É surpreendente o tênis sérvio conseguir esse sucesso sem um sistema de ajuda de nosso país. Isso deixou nosso desenvolvimento ainda mais difícil e fez com que abandonássemos a Sérvia. (Jelena) Jankovic foi para os Estados Unidos, Ivanovic estava na Suíça e eu fui para a Alemanha. Mas, olhando para trás, essa situação serviu para aumentar nossa força mental e motivação. Somos mais fortes agora e sabemos apreciar o momento", disse Nole. Como juvenil, Djokovic nunca foi uma estrela. Seus resultados mais expressivos foram as semifinais de simples e duplas no Aberto da Austrália de 2004.

Problema respiratório
Contudo, ainda em 2004, com apenas 17 anos, começou o ano na 680ª colocação da ATP para acabar em 186ª. No ano seguinte, entrou para o top 100. Já apontado com promessa, Djokovic se envolveu em uma confusão. No US Open de 2005, enfrentava Gael Monfils na estréia, quando, ofegante, interrompeu a partida por 15 minutos até receber atendimento médico no quinto set. Por isso, foi insultado pelo francês, que acabou perdendo por 7/5 no final. Mas, na verdade, poucos sabiam que Nole sofria de um sério problema respiratório.

A dificuldade de respirar persistiu, tanto que precisou abandonar a final do ATP de Umag em 2006. Ele venceu o tiebreak do primeiro set contra Stanislas Wawrinka, mas tinha dificuldades de andar e chegou a cair em quadra. Saiu aplaudido e foi para o hospital. Meses depois realizou uma cirurgia para corrigir o problema. Em 2007, com tudo resolvido, venceu os Masters Series de Miami e Montreal e os ATPs de Viena, Adelaide e Estoril. Fã de futebol, Djokovic sempre comemora seus triunfos vestindo a camisa de um time. Por conta disso, ficou constrangido em Portugal quando entrou em quadra com a camisa do Benfica e recebeu vaias de torcedores do Sporting.

Depois da vitória memorável no Canadá, quando venceu os três primeiros do ranking, Djokovic foi celebrar em um restaurante italiano. Enquanto comia seu filé com risoto, foi abordado pelo garçom. Em suas mãos estava um champagne, cortesia de Nadal, que estava no estabelecimento. "Foi uma garrafa muito boa", lembra Nole. "Não conheço Rafa muito bem e você não pode julgar alguém pelo comportamento em quadra. Foi um belo gesto", comentou.

Embalado, duas semanas depois teve a grande chance de conquistar o primeiro título de Grand Slam, no US Open, mas sentiu a pressão. Teve sete set points, cinco no primeiro e dois no segundo, contra Federer e não aproveitou. Mesmo assim, foi irreverente na coletiva: "Meu primeiro livro se chamará '7 set points'".

Tênis sérvio
O desempenho do tênis sérvio no circuito é surpreendente para um país com apenas 10 milhões de habitantes. Em Roland Garros, Djokovic, Ivanovic e Jankovic chegaram, ao menos, às semifinais. De volta à Belgrado, 15 mil torcedores receberam os heróis na praça Nikola Pasic. O tênis cresceu tanto que o confronto pela repescagem da Copa Davis contra a Austrália teve 20 mil espectadores. Apenas finais já receberam públicos maiores que esse.

Mesmo com as vitórias recentes sobre as duas maiores estrelas do circuito - Federer e Nadal -, Djokovic acha que ainda está um nível abaixo. "Não posso dizer que quebrei o domínio. Eles ainda são os melhores do mundo. Mas sei que posso desafiá-los e que serei uma grande ameaça no futuro", prevê. Essa atitude agrada bastante a John McEnroe, que analisa: "Ele é arrogante, mas de uma boa maneira. Ele quer ser o número um. Já é o terceiro. E você precisa respeitar alguém que tem essa ambição e fala na frente de Federer e Nadal".

PERFIL
Novak Djokovic

Nascimento: 22/05/1987

Local:
Belgrado, Sérvia

Residência:
Monte Carlo, Mônaco

Altura: 1,87m

Peso:
80 kg

Djokovic entre os pais, Srdjan e Dijana

Destro

Profissional desde 2003

Técnico: Marian Vajda

Ídolo:
Pete Sampras
Joga tênis desde os quatro anos
Fala sérvio, inglês, italiano, alemão e "entende um pouco" de francês, como ele mesmo define.

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