Se os pais deixarem de interferir tanto, poderemos criar tenistas emocionalmente mais fortes e preparados
Suzana Silva em 17 de Outubro de 2012 às 14:33
MAIS UMA VEZ A CENA SE REPETIU, numa escola particular paulistana: 44 crianças excitadas e inexperientes num encontro para jogos no sistema Tênis 10 (com as bolas vermelha, laranja e verde), oito professores entusiasmados, 72 pais ansiosos.
As disputas foram feitas por equipes, dessa vez com apenas duas provas: jogos de tênis e jogos de velocidade e agilidade em pista. A ideia foi manter todas as crianças envolvidas em atividades, dando-lhes mais de uma oportunidade para que mostrassem o que sabiam.
Antes do início dos jogos, a organização explicou para pais e filhos o espírito do evento: "Esse é um encontro educativo, para que as crianças aprendam a contar, a marcar bola dentro e fora, a pensar taticamente, a se posicionar em quadra, e a vivenciar as emoções de perder e ganhar". O árbitro pediu aos pais: "Deixem que elas contem, mesmo que errem!". E quem disse que isso é fácil?
Do lado de fora, os pais não querem que seus filhos percam ou sofram. Do lado de dentro, os professores não querem que os pais interfiram, e as crianças... Bem, elas estão 100% envolvidas em cada jogo. Repito: as crianças estão 100% envolvidas no jogo, ou estariam, caso seus pais não interferissem tanto.
A arbitragem educativa tem como meta ensinar as regras do jogo na prática para as crianças e educar os pais como agirem construtivamente durante os jogos dos filhos. Esse tipo de arbitragem é sério e carinhoso ao mesmo tempo, pois ninguém nasce sabendo: aprender a jogar tênis e a assistir a uma partida são processos que levam tempo. Esses processos podem ser acelerados por bons profissionais de ensino do tênis que entendem a responsabilidade que carregam ao conduzir atividades para crianças.
Crianças que participam de torneios federados ou torneios internos de academias, clubes e escolas normalmente não conhecem todas as regras. Então, é importante que os pais compreendam isso e deixem que os filhos cometam erros e sofram as consequências. "Como? Deixar meu filho perder por se enganar na contagem?" Sim! É importante ter coragem nesse momento.
Treinadores sul-americanos comentam a falta de maturidade emocional de seus atletas comparando-os com jogadores europeus há décadas. Acredito particularmente que os pais latinos, em sua extrema boa vontade, zelo e amor pelos filhos, mimam-nos demais, tirando-lhes a oportunidade do aprendizado, da responsabilidade e autonomia.
Em competições infantis, é muito importante que nos atentemos ao fato de que erros são inerentes ao aprendizado. E o pior que pode acontecer é a criança perder o jogo. Não estou dizendo aos pais que os deixem ao léu, sem orientação sobre os perigos da vida - violência e drogas, por exemplo. Mas, nos jogos, nos esportes, temos a enorme chance de os filhos experimentarem e pensarem por si mesmos (e a má consequência será apenas, repito, perder um jogo).
A orientação é que os pais comentem os lances que julgarem importantes após o jogo, num ambiente tranquilo, quando a criança estiver pronta emocionalmente para receber um feedback - quando ela perde, isso pode ser algumas horas depois do jogo ou no dia seguinte. "Lembra do ponto no qual seu adversário voleou e encostou a raquete na rede? Seria ponto seu. Hum...ele também estava encostando o pé na linha antes de sacar. Também não pode"; e assim por diante.
Corrigir e orientar durante o jogo tira a atenção da criança de suas próprias percepções e, além disso, ela fica acostumada a ter alguém resolvendo seus problemas. Isso deixa seu filho forte ou fraco emocionalmente? O que será melhor para o seu amadurecimento?
A arbitragem educativa orienta os pais com firmeza, lembrando-os a não interferir. A arbitragem educativa explica que, da próxima vez que a criança sacar encostando o pé na linha, ela perderá o saque; e, se repetir, perderá o ponto. Com carinho e firmeza. A arbitragem educativa ajuda a formação de atletas emocionalmente fortes no futuro.
A arbitragem educativa ajuda a formação de atletas emocionalmente fortes no futuro
Em tempo: errar e olhar para os pais deixava Andy Murray aquém de Nadal, Djokovic, Federer. Parece que agora, sob a batuta de Ivan Lendl, o "bebê chorão" finalmente cresceu. Se até os tenistas top 10 têm coisas a aprender, o que dizer de nós? Será que conseguimos apenas assistir e torcer? |